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Aramis

17 de julho de 1954: a primeira vez que os curitibanos viram TV

Na próxima terça-feira, 17, pode ser registrada uma efeméride para a história das comunicações no Paraná: os 36 anos da primeira transmissão de televisão feita em Curitiba. Assim como passou esquecida nas datas redondas - 20 ou 30 anos ninguém se lembraria deste momento se não fosse a memória privilegiada de um dos mais notáveis radiodifusores do Paraná, João Lydio Seiller Bettega ("Didier") ao gravar, na tarde de quinta-feira, um longo depoimento de cinco horas para o projeto "Memória Histórica do Paraná". Aos 57 anos - completados dia 28 de abril, 43 ligados profissionalmente ao rádio, Didier Bettega é uma das memórias da comunicação do Paraná. Descendente de famílias ligadas a vida empresarial paranaense - Bettega e Seiller, desde criança se apaixonou pelo rádio, dedicando toda sua vida a esta profissão. Hoje, dono de três dos prefixos de maior audiência da cidade - Ouro Verde AM/FM e Caiobá - líder de classe dos radiodifusores, tem, como poucas pessoas no Brasil, informações não só sobre o rádio no Paraná, mas a importância deste veículo em termos nacionais. Embora a paixão pelo rádio tenha sido sempre tão intensa que o fez ignorar o canto da sereia na televisão - apesar de uma curta passagem pela TV Paraná, em seu início, há 30 anos passados - foi Didier Bettega, com sua imagem jovem e voz personalíssima, que abriu, historicamente, a primeira transmissão feita em Curitiba, numa fria noite de sábado, em julho de 1954. A televisão havia chegado ao Brasil quatro anos antes, por iniciativa de Assis Chateaubriand (1892-1968) que, em 18 de setembro de 1950 inaugurou a TV Tupi de São Paulo (a TV Tupi, do Rio de Janeiro, iria ser inaugurada a partir de 20 de janeiro do ano seguinte). A Rede Associada concentrava esforços na instalação da TV Itacolomi, em Belo Horizonte - que só seria inaugurada em 11 de novembro de 1955, quando outros grupos sentiram a força do novo veículo. Um deles tinha como executivos os paulistas Mário Alderighi e Jorge Edo, que em 1954 vieram a Curitiba para aqui fundar a Rádio TV Paraná, que encontrou em Raul Vaz, Gastão Chaves e Alexandre Gutierrez, os entusiastas locais pela incorporação. Acontece que era necessário vender ações de um novo veículo que ninguém conhecia - a não ser por notícias chegadas do Rio e São Paulo. Não existiam, sequer, aparelhos de televisão na cidade. Assim, como forma promocional se produziu um show dividido em três partes, que era transmitido de um improvisado estúdio montado no auditório do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, no 7º andar do Edifício Moreira Garcez, na avenida Luiz Xavier. Na loja Tarobá, no térreo (hoje o edifício pertence a Hermes Macedo), foi instalado um dos raros aparelhos de televisão para captar a imagem. Assim, perante uma multidão atraída pela novidade, apareceram as primeiras imagens em preto e branco, tendo Didier Bettega como mestre de cerimônias, Renato Valente e Alexandre Gutierrez foram os primeiros a fazer saudações, conforme registraria o jornalista P.A. do Nascimento em reportagem ocupando duas páginas na edição de outubro da "Revista do Guaíra", ilustrada com fotos de João Graf Schreiber. Alguns artistas paranaenses apareceram em seguida e depois houve atuação de artistas trazidos de São Paulo, já então apresentado por Raul Roulie, nome famoso na época (havia morado em Hollywood e feito inclusive vários filmes). Vilma Bentivigna, então com 14 anos, era uma das atrações ao lado da cantora portuguesa Heloísa Gonçalves, Romeu Ferez, Norma do Carmo e Alma Marino. Instrumentalmente, o violonista Tobias Troisi apresentou tangos, enquanto do "Musical de Milani", fazia parte o pistonista Beppi. As apresentações do que era a televisão seriam repetidas, em semanas posteriores, em Ponta Grossa e Palmas, onde havia empresários dispostos a subscreverem ações. Um dos entusiastas, na ocasião, foi o advogado Nagib Chefe, que possuía a Rádio Emissora Paranaense e, com sua árabe visão sentia as suas possibilidades. Apesar do lançamento, a sociedade não foi para a frente e, mais tarde, o banqueiro Amador Aguiar acabou encampando-a, transferindo-a para o Grupo Associado. Nagib Chefe, entretanto, já entusiasmado com o vírus televisivo, iniciaria os demarques para conseguir fundar a TV Paranaense, que seria inaugurada em 1060, poucas semanas antes da TV Paraná (associada) o que aconteceu em 19 de dezembro de 1960. Uma coincidência que merece registro: no mesmo dia 17 de julho, três anos antes - 1951 - havia circulado o número um de "O Estado do Paraná" e, 21 anos depois, em 17 de julho de 1975, nevava pela segunda vez em Curitiba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/07/1990

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