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Aramis

Academia de Dança trouxe a grande Orquestra Tabajara

Anualmente, um item que se torna difícil preencher na escolha dos melhores do ano é "melhor lp de orquestra de música popular brasileira". Isto porque raramente as nossas - também raras - orquestras que se dedicam a música popular têm chances de fazerem discos. Por isto o aparecimento de um álbum como "Academia de Dança - as músicas mais tocadas nas academias de dança"(Sigla/ Som Livre) merece ser saudada auspiciosamente. Afinal, mostra que o mais resistentes de nossos band-leaders, o pernambucano Severino Araújo (de Oliveira), 74 anos completados no último dia 23 de abril, continua em plena forma. Há 44 anos com a Orquestra Tabajara, este [múltiplo] instrumentista, arranjador e líder é um dos nomes mais respeitáveis de nossa vida musical. Mesmo com todas as dificuldades de se manter uma grande orquestra, Severino faz com que a Tabajara conserve aquela categoria, harmonia e presença da época de ouro das big-bandas. Num álbum que, infelizmente, excluir qualquer informação adicional sobre a Orquestra, não relacionando sequer seus integrantes - mas com uma bela capa de Romero Cavalcanti, temos o prazer de ouvir os metais afinadíssimos em uma seleção excelente - alternando standarts nacionais ("Aquarela do Brasil ", "Garota de Ipanema", "Tristeza", "Anos Dourados" e até "Mania de Você") com clássicos da música americana - "Moonlight Serenade", "Cheek to Cheek", "Tuxedo [Junction]", "My Way", "[When] I Fall In Love", "I Left My Heart In San Francisco" e "Night And Day"- nestas três últimas com destaque aos crooners Leila Rocha, Kleber Pimenta e Everaldo. No repertório entraram ainda a "Fascination", "Besame Mucho" e até um arranjo especial do Concerto no.1 de Tchaikowsky. Ouvindo-se uma orquestra como a Tabajara - com músicos veteranos, seguríssimos, é de se lamentar que hoje este estilo de formação esteja condenado ao desaparecimento - inclusive por falta de estruturas econômicas que possibilitem que reunindo trinta (ou mais) músicos possam desenvolver um trabalho regular, como por décadas a Tabajara fez - desde os tempos em que atuava na pequena rádio Tabajara, de João Pessoa, onde Severino Filho, após apenas um ano de trabalho com a formação que já existia, assumiu seu comando quando da morte do regente. Algum tempo depois, Severino e dois de seus melhores músicos - Geraldo Medeiros e Porfirio Costa - seguiam para o Rio de Janeiro, onde seria contratado pela Rádio PRG-3 para orquestrar programas e integrar, como saxofonista, a Orquestra Marajoara. Em 1945 mandou buscar os outros integrantes da Tabajara, imediatamente contratada pela Rádio do Rio de Janeiro. No mesmo ano, gravava o primeiro disco: um 78 rpm na Continental com "Um Chorinho na Aldeia" e o samba "Onde o Céu é mais azul" (João de Barro/ Alberto Ribeiro/Alcir Pires Vermelho"). Em 1946, a orquestra gravou um de seus maiores êxitos, o choro "Pára-quedista" de José Leocádio, em que o autor, trombonista da orquestra, era o solista. Em 1947, um arranjo para "Rhapsody in Blue"(Gerhswin) em forma de samba projeto a orquestra - que fiel às suas raízes divulgou também centenas de frevos. A Orquestra Tabajara, pela sua presença e continuidade na MPB merece não um simples álbum - mas toda uma coleção de reedições de suas gravações - paralelamente a uma monografia sobre o grande Severino e seus músicos - além dos crooners históricos que por ela passaram, entre os quais o maior deles foi Jamelão, José Bispo Clementino dos Santos, 88 anos, ainda vigoroso - e que por mais de duas décadas - acompanhava a Tabajara em bailes, shows e nos programas de rádios. Pena que a Funarte não mais exista e o grande Hermínio Bello de Carvalho não possa ali fazer um projeto capaz de dar a Tabajara a dimensão e o reconhecimento nacional que ela merece - e que a juventude - pobre juventude imbecilizada pelo rock! - ignora. CAPA DO DISCO - Academia de Dança.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música Clássica
4
21/07/1991

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