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Aramis

Admirável mundo de Garp

<< O Mundo Segundo Garp >> tem uma grande estória. E tem também a grandeza de uma estória muito bem contada. Assim como, há 12 anos, havia feito com o romance de Kurt Vonnegut Jr., << Matadouro 5 >> (Slaughterhouse 5) George Roy Hill redimensionou os personagens e a linguagem de << The Wolrd According Garp >>, best-seller de John Irving, um dos mais bem sucedidos escritores americanos da nova geração (seu novo livro, << Hotel New-Hampshire >>, também acaba de ser filmado), com resultado explêndido. Aos espectadores mais atento, a linguagem de << O Mundo Segundo Garp >> (Center I, até quarta-feira) lembra << slaughterhouse 5 >>: a narrativa um tanto fragmentada, em vários planos e a grande dose de humanismo. Os personagens de Irving (cujos livros são editados no Brasil pela Record) transmitem uma grande empatia e desde a primeira seqüência, com Jenny Fields (Glenn Close, uma explêndido revelação, indicada ao Oscar-83, como melhor coadjuvante) jogando para o ar bebê T.S. Garp, chega profundamente ao espectador. Garp (James McCall como criança; Robin Williams como adulto) é uma figura fascinante: sua bondade, seu caráter, seu amor ao semelhante, o incluem numa categoria muito especial - dando a Williams chance de mostrar uma outra faceta de seu talento, já que até agora só foi visto no papel-título de << Popeye >>, a frustrada tentativa de Robert Altman em levar à tela o personagem das histórias em quadrinhos. Ainda na galeria dos personagens desde filmes se destaca << Roberta Muldoon >> (John Lithgow, que também ganhou indicação ao Oscar, como melhor coadjuvante), ex-jogador de futebol que se submete a uma operação e muda de sexo. Dois veteranos, numa curta mas atuante participação: Hume Cronyn e Jessica Tandy, os pais de Jenny e avôs de Garp. A história de Irving acompanha o personagem ao longo de sua vida. Não era fácil, obviamente, reduzir a um filme - mesmo com a duração um pouco além da normal todo um emaranhado de detalhes: a decisão de Jenny em ter um filho; sua vida de enfermeira num hospital universitário: a carreira de Garp como escritor e a súbita explosão de Jenny como autora de um best-seller que movimenta o feminismo americano - até chegar ao dramático final. Uma sucessão de fatos que, com menos segurança na direção, cairiam no cansaço - resultam, entretanto, num filme agradabilíssimo, bem humorado e de grande beleza visual, George Roy Hill, 60 anos, 21 de carreira cinematográfica, é profissional dos mais competentes. Ele sabe como conseguir boas bilheterias (<< Butch Cassidy >>, << Golpe de Mestre >>), ganhar Oscars e ainda se dar ao luxo de obter o prêmio de direção em Cannes (<< Matadouro 5 >>, 1971). O requinte visual na fotografia de Miroslav Ondricek, utilizando cenários encantadores e uma trilha sonora perfeita adaptada por David Shire e com Nat King Cole cantando uma das mais belas músicas americanas dos anos 40 - << There Will Never Be Another You >> (no início e final) são outros aspectos que fazem de << The Worl According to Garp >> um filme fascinante, atual e que incluímos ao lado de << Matadouro 5 >>, como um dos melhores momentos da carreira de George Roy Hill - e também entre os candidatos fortes a entrarem em nossa lista dos 10 melhores lançamentos cinematográficos de 1983. Mesmo considerando a distância do Center I, em Pinhais, justifica-se a viagem: vá ver o filme que você não se arrependerá.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
09/10/1983

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