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Aramis

Afinal, os roqueiros que sabem tocar instrumentos

Algo surpreendente dentro da poluição do rock tupiniquim nestes últimos dois anos: um grupo que além de trazer bons instrumentistas não abusa dos recursos eletrônicos, conduz as músicas numa altura razoável e mostra garra e talento: "Heróis da Resistência" (WEA, novembro/86). A surpresa é maior ainda quando se observa que seu líder é Leoni, vindo do descartável Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, uma das grandes bobagens absorvidas pelo generoso mercado rock. Embora tenha o seu público, o Kid Abelha não resiste a uma análise mais rigorosa, mas Leoni, que ali era um baixista meio anônimo, mostra agora que teve suas razões para alçar vôos maiores. Aliás, foi com as partituras de Leoni que o Kid Abelha conseguiu sucessos nacionais ("Pintura Íntima", "Como eu Quero", "Nada Tanto Assim", "Por Que Não Eu", "Alice" etc). Posteriomente, Leoni emplacou um sucesso em parceria com Cazuza ("Exagerado") e dividiu com Ney Matogrosso a autoria de "Dívidas de Amor". Agora, depois de um afastamento de sete meses do Kid Abelha, apresenta o seu Heróis da Resistência, no qual Leoni, agora com 25 anos, continua a lapidar sua vocação de hitmaker, fazendo músicas "que grudam no ouvido à primeira audição" como diz a divulgação da Warner. É o caso da balada "Só Pro Meu Prazer" ou do rock "Esse Outro Mundo", que, pensam os homens de marketing da WEA, pode se transformar num hino de verão-87. O importante é que o som dos Heróis da Resistência em nada lembra o descartável Kid Abelha. É mais denso, elaborado e tranquilo, com intervenções de piano acústico (Lulu Martins, 27 anos), algo raro no rock de hoje; compassos exóticos e letras que espalham sem piedade o lado dark dos jovens, e com alegria também uma visão clean. Os méritos se devem aos bons músicos arregimentados: o tecladista, Lulu Martins, estudou em Berkeley e tem formação clássica - mostrando assim que não é um simples martelador de DX-7s, como tantos enganadores do rock nativo, mostrando a sutileza de quem já viu partituras de Bach e Beethoven. O baterista, Alfredo Dias Gomes, 26 anos, teve uma boa escola: há 8 anos passados, acompanhava o grupo de Hermeto Paschoal num festival de jazz em São Paulo. Completando o quarteto, o guitarrista Jorge Shy, 19 anos, que teve a habilidade de recolher e selecionar as influências certas entre os grandes guitarristas contemporâneos, forjando seu estilo rápido e econômico - nem tanto Eddie Van Halen, nem tanto Carlos Santana. O resultado é um grupo com boa base instrumental e que obtém algo raríssimo: faz uma música jovem que não ensurdece a quem tem mais de 30 anos. LEGENDA FOTO - Heróis da Resitência: roqueiros com equilíbrio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
02/11/1986

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