Login do usuário

Aramis

Afinal, um novo modismo ou ritmo muito dançante

Pinduca sempre foi mais o careca personagem das histórias-em-quadrinhos dos anos 40/50 (hoje praticamente esquecido) do que o nome artístico de um paraense que há quase 20 anos grava discos com um ritmo característico de seu Estado: a lambada. Fafá de Belém, oportunisticamente, no início da carreira, pensou em aproveitar o calor da lambada - que também teve incursões da maranhense Alcione e de outras cantoras. Mas, na verdade, nenhuma emplacou e Pinduca continua a ser conhecido apenas na região Norte. Foi preciso que o grupo Kaoma gravasse um merengue intitulado originalmente "Llojarandose Fué", composto em 1985 pelos bolivianos Gonzalo e Ulisses Hermosa, vertido em 1986 pela cantora Márcia Ferreira, para que o nome lambada se tornasse notícia. No meio de um processo rumoroso de direitos autorais - desenvolvido em escala internacional - a lambada assumida no verão francês de 1989 se tornou um novo produto de marketing, já que a dança sensual ao ritmo quente caíram no agrado dos europeus. Agora, a lambada é discussão nacional e se os paraenses reivindicam que no início dos anos 60 o ritmo já era curtido em Belém do Pará e em dezenas de outros municípios, no sincretismo entre carimbó nortista e merengue da Guiana, os baianos - astutos com sempre em termos musicais - também estão sabendo aproveitar a onda deste novo ritmo, para somar as influências afro que há anos já poluíram seus blocos, grupos e intérpretes. Um dos mais respeitados nomes do cinema baiano, Guido Araújo, 51 anos, professor da Universidade Federal da Bahia e que por 17 anos organizou a Jornada de Cinema de Salvador (só interrompida no ano passado devido à falta de apoio oficial), decidiu voltar a realização, ele que já tem inúmeros documentários de alto nível, com um média-metragem sobre as origens da lambada na Bahia, a partir de Porto Seguro. Em novembro, com a produção montada - e custeada com seus próprios recursos - Guido começou as filmagens e o seu filme deverá ser apresentado, mesmo que como "hors concours", no XVIII Festival de Cinema Brasileiro de Gramado. xxx Nas lojas de discos o interessado em adquirir discos de lambada pode até levar coelho por lebre. Afinal, na confusão de ritmos afro-caribenhos, muita coisa está sendo enfiada goela abaixo do consumidor como lambada. O marketing da telenovela "Tieta" faz com que o baiano Luiz Caldas, após ter faturado muito com o deboche nestes últimos 5 anos, gravasse o tema da telenovela adaptada do romance de Jorge Amado, composição de Paulo Debétio e Boni, que está puxando as vendas não só do lp com a sua trilha sonora (edição Sigla/Som Livre), mas também o "Lambahia" (Polygram), no qual ao lado de outro superstar, Caetano Veloso ("Meia Lua Inteira", Carlinhos Brown) estão artistas da nova safra que aproveitaram a canoa da lambada para aparecer, como as bandas Beijo ("Beijo na Boca", João Guimarães/Jorge Dias; "Salvador Pra Você", de Evandro Terra) e Cheiro de Amor ("Lambada do Remeleixo", Edil Pacheco/Marinho; "Auê", de Marinho/Tonho Matéria; "Salassiê", Carlos Pita). Há uma estrela em ascensão: Margareth Menezes, presente no disco com as faixas "Abra a Boca e Feche os Olhos" (Gerônimo/Dito) e "Tenda do Amor" (Carlos Pita). Há mais de dois meses vem abrindo shows de David "Talking Heads" Byrne nos Estados Unidos. O realizador de "Histórias Reais" esteve na Bahia há quase 2 anos e sentiu as possibilidades do novo ritmo, ligando-se - bons ouvidos que tem - ao estilo de Margareth Menezes, que até então era apenas mais uma cantora - e que só no ano passado teve maior projeção no Brasil quando Zuza Homem de Mello sugeriu a Gilberto Gil que dividisse com ela um show apresentado em algumas capitais, inclusive em Curitiba, no grande auditório do Teatro Guaíra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
26/01/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br