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Aramis

Airto e Flora, finalmente juntos na cidade - (Uma única apresentação dia 26 no Guaíra)

Há quase 10 anos que se espera por esta oportunidade; conhecer ao vivo, no palco do Guaíra o som que Airto Guimorvan Moreira faz nos Estados Unidos e que o levou, por 9 anos consecutivos, a ser considerado o melhor percussionista no jazz poll da "Down Beat" - que aliás criou esta categoria (antes, os percussinistas entravam na chamada "miscelous") após o impacto que levou para a música americana no início dos anos 70. Anualmente, quando vinha passar o Natal com sua mãe, dona Zelinda, irmã, cunhados e sobrinhos, no bairro do Boqueirão - em duas confortáveis casas que ofereceu à família - Airto lamentava que até agora não pudesse mostrar sua arte para os familiares e amigos da cidade em que residiu dos 13 aos 17 anos - e que lhe é tão querida. Há 4 anos, na única edição do Rio-Monterrey Jazz Festival, no Maracanãzinho, Airto fez uma participação especial, mas insuficiente para mostrar toda sua inventividade sonora - responsável por excursões internacionais, especialmente à Europa. Em dezembro, quando aqui esteve, Airto acertou os primeiros detalhes de sua vinda. Seria, a princípio, em março, junto com o guitarrista Al Di Meola, com o qual fez dois elepês - "Cielo & Tierra" e "Soaring Through A Dream" (ambos pela Manhattan/Odeon). Entretanto, o empresário Júnior acabou cancelando, em cima da hora, a temporada, com várias alegações. Após muitas negociações, ficou acertada a vinda de Airto e Flora - que agora, livre dos problemas legais que a impediam de sair dos Estados Unidos, está participando das excursões de Airto. Assim, após 18 anos, Flora volta ao Brasil, que deixou em 1967 quando partiu para os Estados Unidos. Junto, vem também a filha Diana, uma bela loira que Airto já trouxe algumas vezes a Curitiba para passar as festas de fim de ano com sua avó, dona Zelinda. A volta do filho pródigo Coincidência ou não, a excursão de Airto começa por Curitiba (dia 26, 21 horas, única apresentação no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto). Será, por certo, um momento da maior emoção. Afinal, foi nesta mesma Curitiba - só que numa época bem diferente, que o garoto Airto, vindo de Ponta Grossa com seus pais (ele nasceu em Itaiópolis, SC, em 5/8/1941, mas ainda criança foi morar em PG), aqui fez suas primeiras incursões como cantor, no antigo Clube Juvenil M-5, que Aluísio Finzeto apresentava na Rádio Guairacá. Da rádio à noite foi uma simples questão de oportunidade e Airto que em clubes de Ponta Grossa já trabalhara como baterista, logo era o percussionista no conjunto King's, numa boate da Rua Carlos de Carvalho e, impressionando pela sua bonita voz ao maestro Osval, passava a integrar a sua orquestra de bailes, viajando por cidades vizinhas, nos fins de semana. São Paulo foi o passo seguinte e ali Airto acabaria integrando dois históricos grupos - o Quarteto Novo e o Sambalanço Trio, renovadores da MPB nos anos 60. Falar deste período exige, aliás, um capítulo todo da biografia que Airto está a merecer - ele que acaba de publicar "The Spirit of the Percussion", recém-lançado nos EUA - mas apenas falando da área técnica e didática da percussão. Já um pouco da vida de Flora está em "Freedon's Song" (Berkley Books, Nova Iorque, 1982, 82 páginas). Em 18 anos de Estados Unidos, Airto e Flora gravaram inúmeros discos (só como percussionista, Airto participou de mais de 200 álbuns, conforme pesquisa do crítico Arnaldo Souteiro), sendo assim um dos brasileiros mais presentes na música americana das últimas duas décadas. Nós, que não cansamos de registrar a trajetória internacional de Airto e Flora - em discos, shows e numa presença marcante no mundo dos espetáculos - vemos agora a especial oportunidade deste casal de talento, acompanhados de uma banda multinacional - (na qual está, inclusive, o baterista Alberti, curitibano há 3 anos nos EUA), fazendo sua primeira excursão pelo Brasil. Não se trata da volta do filho pródigo - pois bom filho, Airto sempre veio rever seus pais ( o velho João Moreira, faleceu há quase 3 anos). Mas sim, do retorno artístico do filho pródigo - talento brasileiro da maior qualidade, merecedor de todo o respeito, aplausos e homenagens que se possa tributá-lo, quando de sua entrada no palco do Guaíra, ao lado de Flora, dentro de três semanas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
10/08/1986

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