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Aramis

Alcomat, o computador para pegar os bebuns

Ao participar com sua exposição no Simpósio Volvo de Segurança no Trânsito, o engenheiro J. Fernando Moleda, da CONSETT - Consultoria de Segurança, que vem procurando fornecer tecnologia e know-how de segurança para grandes e médias empresas, fez uma revelação emocionante. Há algum tempo, um excelente motorista de uma grande empresa fez sua última viagem, pois seria promovido a uma função de coordenação, deixando o duro dia-a-dia nas estradas. Funcionário exemplar, sem vícios, aproximava-se de Curitiba quando decidiu parar num restaurante nas margens da BR-116 e comemorar com seu auxiliar a última viagem. Quebrando os hábitos, tomou uma cerveja. Animado, veio uma segunda, uma terceira. Resultado: 16 cervejas depois, cambaleando, prosseguiu a viagem que seria interrompida poucos quilômetros adiante: o caminhão tombou numa ribanceira e o motorista até então exemplar, morria de forma trágica e estúpida, deixando a família com 6 filhos menores. A promoção que o fizera, por anos, um funcionário exemplar, acabou em sua motivação provocando uma bebemoração fatal. Revelações como a do motorista exemplar que, numa armadilha do destino, em sua última bebemoração, perdeu a vida, até casos de ébrios contumazes que matam no trânsito, constituíram tônicas de muitas das exposições feitas durante o Simpósio de Segurança no Trânsito. Se a péssima condição das rodovias, o aumento do número de veículos, problemas mecânicos e falta de fiscalização e sinalização são causas de acidentes, o fator humano - a irresponsabilidade e a embriaguez - constituem ainda um índice altíssimo nos acidentes. O juiz Otávio César Valeixo, rigoroso titular da 1ª Vara de Delitos de Trânsito, em sua exposição clara e didática, deu números impressionantes, sintetizando que nos últimos 10 anos, mais de 60% dos acidentes que tem julgado indicam motoristas alcoolizados. A exemplo do que acontece nos países desenvolvidos, o juiz Otávio César Valeixo é favorável a uma legislação dura para punir os motoristas bêbados, infelizmente até hoje raras vezes condenados - conforme ele próprio admitiu. Se houvesse condições práticas para os órgãos de fiscalização de trânsito investirem alguns milhares de dólares uma pequena unidade desenvolvida pela Siemens, na República Federal da Alemanha, poderia não só se autopagar poucas semanas (com o valor das multas que possibilitaria arrecadar) como aplicada com rigor faria que todo motorista pensasse duas vezes antes de beber umas e outras. Versão computadorizada, mas extremamente simplificada do paleolítico bafômetro (de complicada operação e resultados que proporcionam discussões inclusive de ordem legal), o Alcomat que a Siemens alemã desenvolveu - inicialmente a pedido dos órgãos rodoviários da Áustria, mas que hoje já fornece ao Exterior, é um modelo de pouco mais de dois quilos, aplicação simplicíssima, que registra em disquete - com cópia impressa imediatamente - dados do infrator, o índice de álcool no organismo, hora e local. Com o simples sopro numa cápsula descartável, o motorista passa ao aparelho a reação química do organismo que permite precisar o índice (ou não) de álcool no organismo, passando o registro a constituir uma prova indiscutível em qualquer processo. Usado em caráter preventivo, possibilitaria "comandos" para pegar os bebuns nas rodovias - com aplicação de multas pesadíssimas (incluindo cassação da Carteira de Habilitação), ao mesmo tempo que, em casos de acidentes, confirmaria a situação dos motoristas envolvidos. Como é um aparelho prático, de resultados imediatos, sua utilização evitaria filas e complicações - como as que o uso do bafômetro (mas que apesar disto já representou uma forma de reduzir os bêbados nas estradas) provoca quando utilizado em comandos, especialmente nos dias de maior movimento nas rodovias (leia-se férias e fins-de-semana, especialmente nas rodovias que dão acesso ao Litoral ou então, no perímetro urbano, nos embalos de sábado à noite). Um Alcomat custa ao redor de US$ 5 mil - preço razoável considerando a sua importância como aparelho de precisão para ajudar a reprimir os alcoólatras e alcoolizados no volante. Entretanto, com a burocracia que segura qualquer plano objetivo de melhorar os equipamentos de nossas Polícias Rodoviárias, imagine-se a dificuldade para se importar esta aparelhagem! Tanto é que o sr. Jan-Michael Schmidt, gerente adjunto da Siemens S/A, em São Paulo, ao saber que a multinacional tinha este aparelho, trouxe duas unidades ao Brasil para fazer demonstrações junto a órgãos rodoviários, Detrans e mesmo empresas, mas sem maior esperança de efetuar, ao menos imediatamente, vendas. Mas, sem qualquer comercial (e se houver algum outro aparelho semelhante, de outra fábrica, aqui gostaríamos de divulgar), não há dúvida de que a compra dos Alcomat seria uma verdadeira utilidade pública para fazer com que corra menos sangue nas estradas brasileiras.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
08/03/1989

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