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Aramis

Alf, pela primeira vez

A temporada de Johnny Alf em Curitiba (teatro do Paiol, amanhã a domingo, 21 horas) é sintomática de uma separação [artística] que sempre ilhou Curitiba dos dois maiores centros musicais do País, apesar de uma distância física relativamente curta. Pois em mais de 20 anos de carreira ininterrupta, esta é a primeira vez que o autor de "Eu e a Brisa" - considerada uma das 10 mais bonitas músicas brasileiras dos últimos anos - virá a nossa cidade, para uma temporada em que ao lado de seu expressivo repertório, exibirá também seu virtuosismo [jazzístico] ao piano, além de trazer músicas inéditas, concluídas há pouco. A nova [tendência] dos artistas populares se apresentarem em espetáculos nos teatros trouxe uma nova abertura, possibilitando que excelentes talentos que há décadas permaneciam anônimos e esquecidos passassem a ser (re)valorizados por uma platéia interessada. Até os anos 60, os shows em clubes e boates - onde raramente existe o clima propício para que o artista mostre todas suas potencialidades e, principalmente na década de 40, em cassinos (como o Ahu, que marcou época na noite curitibana), se [constituíam] nos únicos mercados de trabalho para intérpretes de MPB. Na década de 50, em Curitiba, eram os programas de auditório nas rádios Guiaracá (hoje Iguaçu) e PRB-2, vizinhas nos sobrados da segunda quadra da Rua Barão do Rio Branco, que promoviam a vinda dos sucessos da época - naturalmente dos "prediletos do público" nos programas de auditório da Nacional - que era a grande central artística nacional. E com isto, dezenas de grandes e valorosos instrumentistas, compositores e intérpretes que não conseguiram ultrapassar a barreira do rádio, jamais tiveram sua chance de se apresentar ao vivo em Curitiba, apesar do talento individual. Hoje, com um público mais jovem aberto a MPB, artistas como Johnny Alf (Alfredo José da Silva, 45 anos), tem sua chance de fazer um espetáculo em teatro, demonstrando toda sua criatividade musical e comprovando porque não se enganam àqueles que sempre o apontaram como um dos precursores da Bossa Nova, com o gostoso samba "Rapaz de Bem", composto em 1951 e que só seria gravado em 1955, num 78rpm da Copacabana, e que, naquela época, foi pouco propagada nas rádios brasileiras (Jair de Brito, então discotecário da Guiaracá, foi um dos raros que procurou difundir a [música], um dos marcos da pré-história da Bossa Nova que viria eclodir quatro anos depois, com o baiano João Gilberto gravando "Chega de Saudade" de Tom e Newton Mendonça). Assim, a temporada de Alf, com Bossa Nova e Jazz no Paiol (e que fará ainda dois shows no Curitibano, sexta-feira e Country, sábado) adquire um grande significado para quem se interessa e acompanha a evolução da nossa música.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
09/10/1974

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