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Aramis

Almas penadas no terreno que tem caveira-de-burro

Apesar de suas identificações apaixonadas ao brizolismo, o prefeito Jaime Lerner necessitará não só todo o fulgor de sua estrela como também a simpatia da área econômica do governo federal para levar adiante os projetos que tem envolvendo negociações com a Caixa Econômica Federal. A idéia desenvolvida pelo seu ex-secretário de Desenvolvimento Urbano, Manoel Coelho - e que hoje já tem um projeto pronto, elaborado por Rafael Dely, como arquiteto do Ippuc - em negociar a autorização para que seja construído um espigão de 25 andares na Praça Osório em troca de (mais um) teatro para Curitiba, está ainda sendo examinada em escalas técnicas da Caixa. De princípio, o setor de engenharia regional teve boa vontade com a proposta, pois como a Caixa não dispõe de dinheiro sobrando para, isoladamente, incorporar um mastodôntico edifício que custará milhões de dólares, a generosidade com o município acenou para que a área que possui na Praça Osório (com frente para a Avenida Vicente Machado e ruas Visconde do Rio Branco e Comendador Araújo) seja superocupada por um edifício, pode atrair um grande grupo imobiliário. Em troca, a exigência é a construção e doação de moderno teatro com 900 lugares, para os quais a otimista secretária Municipal de Cultura, Lúcia Camargo, já tem até uma pauta de inauguração, sonhando que o mesmo seja entregue ainda no finalzinho da administração lerneana - com um espetáculo montado por um nome nacional entre as atrizes amigas de Lerner, como Fernanda Montenegro ou Irene Ravache. Até agora, o superintendente regional da Caixa Econômica Federal, Sérgio Hanke Camargo, não manifestou sua opinião a respeito desta operação. Obviamente que a palavra do presidente nacional da instituição, Lafayete Coutinho, é que será decisiva - isto se a ministra Zélia Cardoso de Mello não vetar a idéia. O fato desta negociação estar ainda em andamento, não impediu, entretanto, que na campanha publicitária deslanchada pela agência Parceria em relação aos 300 anos de Curitiba - com anúncios no penúltimo número da "Veja Paraná" (que aliás, tem sido sempre generosa na cobertura a Lerner), tivesse incluído a entrega deste teatro ainda em planos como um dos eventos para marcar o 3º centenário de Curitiba. Já a idéia - (e por enquanto é apenas uma idéia, quase um sonho - da Prefeitura, em convencer a Caixa Econômica Federal a permutar as instalações da antiga TV Paraná - para ali transferir o Museu Paranaense ou implantar o surrealista "Museu dos 300 Anos" (sic) - ainda fica em nuvens mais distantes. Afinal, o departamento de engenharia da Caixa Econômica Federal já fez projetos para que aquela área tenha utilização para a própria instituição financeira. Uma das possibilidades é ali instalar seu setor de informática. Há pouco mais de um ano, o governo do Estado chegou a tentar uma operacionalização do local para a Fundação Rádio e TV Estadual. A área foi inspecionada e chegou-se até a se fazer testes de emissão - mas pelo visto, as negociações não prosperaram. Ironicamente, existe uma lenda de que o terreno de 9 mil metros quadrados em que as construções foram feitas seria mal assombrado. O jornalista Roberto Novaes, professor da Universidade Federal do Paraná e por anos um dos diretores do "Diário do Paraná", costuma lembrar que ali teria existido no século passado, um cemitério - razão pela qual muitos funcionários do jornal e da televisão, que trabalhavam na madrugada, juram que viram assombrações e escutaram correntes e gemidos de almas penadas. No mínimo, deve existir uma grande caveira de burro naquele terreno: precisa-se de um exorcista para desburocratizá-lo e fazer com que o imóvel valorizadíssimo não permaneça abandonado. LEGENDA FOTO - Ruínas de um sonho: projetado e construído para ser um dos maiores centros de produção de televisão da América do Sul, as instalações da TV Paraná estão abandonadas há 8 anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/04/1991

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