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Altamiro, 50 anos fazendo alegria com o melhor choro

Pedro Paulo Carneiro, um jovem produtor artístico, com curriculum dos mais credenciados - filho do embaixador Paulo Carneiro, estudou nos melhores colégios de vários países do mundo - havia idealizado, para o ano passado, uma grande homenagem a um dos nomes mais admiráveis da música instrumental brasileira: Altamiro Carrilho. Num tributo a Altamiro Aquino Carrilho, fluminense de Santo Antônio de Pádua, 68 completados em 21 de dezembro último, Pedro Paulo pensou num recital de gala no [Golden] Room do Copacabana Palace, com a participação dos maiores nomes do MPB que, ao longo dos últimos 50 anos cruzaram artisticamente com o flautista, compositor e regente. Tudo planejado, parte dos patrocínios conseguidos, Pedro Paulo teve a decepção de não conseguir preencher a última quota de US$ 5 mil, para promover o evento - que teve, assim, que ser suspenso. Entretanto, não desistiu e, agora radicado em Curitiba, pensou em voltar ao projeto tão logo possa. No ano passado, ele já patrocinou no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto um espetáculo maravilhoso - somando a flauta de Carrilho, o violão de Sebastião Tapajós e os teclados de Gilson Peranzetta. Também no ano passado, um idealista produtor fonográfico, Carlão, dono de um dos melhores estúdios cariocas e que através do selo Vison vinha tentando editar exclusivamente música instrumental, produziu o belíssimo "50 Anos de Choro". Infelizmente, devido a recessão, a Vison sofreu problemas estruturais e a edição deste CD praticamente ficou restrita ao Rio de Janeiro - sem distribuição nos estados. Agora, felizmente a [Polygram] adquiriu o tape e está relançando-o - como uma novidade - tanto em vinil como CD. A discografia de Altamiro é das mais expressivas: mais de 60 LPs gravados, centenas de 78rpm, desde que, em 1949, na saudosa Star fez sua primeira gravação, com "Flauteando no Chacrinha", sua composição. Em 1950, formando seu conjunto para tocar na Rádio Guanabara, Altamiro faria novos projetos - criando um estilo de extrema comunicabilidade, desde as produções mais ingênuas até discos com o melhor do choro como esta produção de Carlos de Andrade. Na verdade, Altamiro tem mais do que 50 anos de flauta. Aos 7 anos, numa flautinha de bambu, já tirava as primeiras notas. Filho de uma família humilde, concluiu apenas o curso primário, pois aos 9 anos, seu pai ficou doente e precisou trabalhar numa tamancaria para ajudar a família. Aos 11 anos empregou-se como prático de farmácia mas, nesta época já tocava tarol na banda Lira de Arion, onde quase todos os músicos eram seus parentes. Em 1940 a família mudou-se para Niterói e Altamiro trabalhando ainda em farmácia, começou a ter aulas de flauta com um músico amador, que recorda com ternura: Joaquim Fernandes. O rádio nascente abria programas para músicos amadores e dois flautistas - Dante Santoro (1904-1969) e Benedito Lacerda (1903-1958) eram seus ídolos. Com uma flauta de segunda mão foi tentar a sorte no programa do temido Ary Barroso (1903-1964) e ganhou o primeiro lugar. Começava uma carreira que o faria passar por inúmeros prefixos, tocar em diferentes formações até que em 1955, formando a "Bandinha do Altamiro" - com ele na flauta, flautim, mais acordeon, pistom, clarineta, tuba, bateria e pratos, gravaria a maior parte de sua obra. Neste meio século de vida profissional, já tocou em meio mundo, entusiasmando os japoneses, excursionando por 90 dias na Rússia, sabendo sempre, sem trair as origens do choro, ajustar-se a novos momentos. Ao lado do popular, fez experiências eruditas - tocando inclusive um concerto de Mozart no Municipal do Rio de Janeiro. Sabendo manter a simplicidade dos grandes artistas, fiel a música, é definido pelo seu admirador Alexandre Ktenas como "meio zen, meio visionário", que soube destruir o atalho para a música fácil e descartável construindo uma consistente plataforma sonora para a elaboração em direção ao erudito e ao popular". Tudo isto o faz uma das mais admiráveis presenças na MPB, capaz de, com genialidade, sempre encontrar uma nova leitura, um novo encanto em cada choro que interpreta - seja ao vivo ou em gravação, como os músicos que com ele têm trabalhado, alguns há mais de 20 anos, como Voltaire de Sá, no violão de 7 e 6 cordas, que junto a Marcio de Almeida (cavaquinho), Mauricio Almeida (baixo) e Sá Neto (pandeiro) o acompanham neste enternecedor "Cinqüenta Anos de Chorinho". No lado A, quatro clássicos - a [partir] do pioneiro "Flor Amorosa" que Joaquim Antonio da Silva Callado (1848-1880) compôs em 1877, seguido de "Carinhoso" (Pixinguinha, 1937), "André de Sapato Novo" (André Victor Corrêa) e "Doce de Coco" (Jacob do Bandolim), somam-se a sua própria composição ("Canarinho Teimoso", parceria com Ary Duarte). No lado B , outros [clássicos] - "Brasileirinho" (Waldir Azevedo), "Na Glória" (Raul de Barros/Ary dos Santos), com outra de suas composições - "Enigmático" e "Homenagem à Velha Guarda" feita pelo amigo Sivuca. Precisa mais? LEGENDA FOTO Altamiro Carrilho, 68 anos, 50 de flauta: um patrimônio de nossa MPB.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
26/04/1992

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