Login do usuário

Aramis

Antes da tela larga, Babette já em vídeo

Antes mesmo de "A Festa de Babette" chegar às telas de Curitiba (previsto para o Bristol, dentro de algumas semanas), este filme dinamarquês, premiado com o Oscar-88 (melhor produção estrangeira) já pode ser visto. A Look Vídeo, astutamente, colocou no mercado brasileiro o belíssimo filme sobre uma jovem francesa, Babette (Stéphane Audran) que em 1871 chega a um vilarejo em Jutland, na costa do Mar do Norte da Dinamarca. Fugindo da França, durante a repressão à Comuna de Paris (na qual perdeu o marido e o filho), ela pede abrigo na casa de Martine e Felippa, duas irmãs solteironas, filhas de um piedoso pastor luterano. Ali, pouco a pouco, Babette refaz a vida. Um dia, 14 anos depois, através da única ligação que mantém com a França - a compra de um bilhete de loteria - acaba recebendo 10 mil francos. Quando todos pensam que abandonaria a aldeia, ela faz o contrário: gasta todo o dinheiro num banquete maravilhoso, para comemorar os 100 anos do pastor - e na qual revela o segredo que manteve por tanto tempo: em Paris foi a chef-de-cuisine do Café Anglais, um dos mais famosos restaurantes do mundo. Com uma estória simples, personagens humanos, o cineasta Gabriel Axel construiu um filme enternecedor, com apenas duas atrizes conhecidas - a francesa Sthépane Audran e a sueca Bibi Anderson (famosa pelos filmes que fez com Bergman), mas que vem conquistando platéias em todo mundo. Em Curitiba, havendo um bom lançamento, deverá fazer boa carreira - independente da procura que o vídeo começa a ter por parte do público refinado. A autora - "A Festa de Babette" é baseado num conto de Isak Dinesen (Karen Christenze Dinesen, 1885-1982), a autora dinamarquesa que os brasileiros só descobriram a partir de sua cinebiografia - "Entre Dois Amores" (Out of Africa, 1986, de Sidney Pollack, 7 Oscars), baseado em dois livros editados agora no Brasil. Há 20 anos, Orson Welles (1917-1977) já havia filmado, para a televisão francesa, "A História Imortal", outro conto de Dinesen (de seu livro "Anedotas do Destino"), inédito no Brasil (no FestRio-86, foi projetado numa única sessão no Cine-Clube Estação Botafogo). Como começa agora a ser consumida intelectualmente no Brasil, a Record, sempre astuta em suas edições, acaba de lançar "A Vida de Isak Dinesen", de Judith Thurman (tradução de Aylyde Soares Rodrigues, 512 páginas), ao mesmo tempo que anuncia para breve a edição de "Anedoctes of Destiny", o livro de contos do qual faz parte "A Festa de Babette". Mas não foi só no Brasil que Isak Dinesen ficou conhecida após "Entre Dois Amores". Ao longo de 33 anos, seu livro "Out of Africa" (que no Brasil se chama "A Fazenda Africana") vendeu apenas 100 mil exemplares nos EUA (o que, para o mercado americano é uma cifra ridícula). Com o filme, saíram 750 mil exemplares em 60 dias. Além de Pollack retratar os mesmos 17 anos que a escritora que viveu no Quênia, relatadas em seu livro de memórias, o roteiro também teve por base "Isak Dinesen - The Life of a Storyteller", de Judith Thurman, que em 1983 recebeu o America Book Award para biografias. Filha de um militar, casada com um barão - Von Blixen-Finecke (no filme interpretado por Klaus-Maria Bandauer), foi sempre uma mulher de idéias liberais e avançadas - e quando chegou na África apaixonou-se por um aventureiro e caçador, o inglês Denys Finck-Hatton (Robert Redford), mas o casal morreria de modo trágico - ela vítima de sífilis, contraída do barão Blixen-Finecke, Hatton num acidente de avião. Mas o livro de Judith Thurman não fica apenas no lado biográfico, mas procura também mostrar a importância de sua obra - já que Isak foi chamada de "Sherazade nórdica". Ernest Hemingway, em 1954, ao receber o Nobel de Literatura (por "O Velho e o Mar") lembrou que na verdade a Academia Sueca deveria era premiar Isak Dinesen, a quem admirava profundamente e achava digna de ter aquele prêmio máximo da literatura. Thurman levou mais de 7 anos pesquisando para escrever "A Vida de Isak Dinesen". Uma biografia que pode servir como exemplo para biógrafos (sic) que se dispõem a contar a vida de personalidades. Judith reuniu informações encontradas em grande número de cartas, manuscritos inéditos e documentos de família - compondo uma obra definitiva sobre a autora que, só 20 anos após a sua morte, começou a merecer a atenção que, em vida, poucos souberam lhe dar.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
16/02/1989

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br