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Aramis

"Antígona" e "Corpo", Marieta em dupla dose

Uma dupla demonstração do talento de Marieta Severo: enquanto no palco do auditório Maria José Andrade Vieira é a dramática "Antígona" da tragédia que o grego Sófocles escreveu no ano 442 a. C., na tela do cine Ritz, somente hoje, às 22h, poderá ser vista na interpretação de Carmen em "O Corpo", do paulista José Antônio Garcia que no XXIV Festival de Brasília do Cinema Brasileiro lhe valeu o Candango de melhor atriz (dividido porém com Claudia Gimenez). A intemporalidade da tragédia de Sófocles - numa encenação de Moacyr Góes que conseguiu dar uma ambientação clean num cenário dos mais criativos de Hélio Eichbauer - em que Marieta, pela primeira vez encarando um papel desta dimensão, mostra seus recursos de atriz - contrapõe-se ao clima absurdamente cínico da comédia sensual que o excelente Alfredo Oroz - hoje, um dos mais competentes roteiristas no Brasil - desenvolveu livremente de um curtíssimo conto de Clarice Lispector (1927-1977) em "O Corpo". Grande premiado no Fest-Brasília deste ano, este longa de estréia de Garcia - valorizado pelo bom elenco (além de Marieta e Cláudia, Antônio Fagundes, Sérgio Mamberti e Carla Camurati) terá sua exibição dentro da Mostra de Cinema Banco Nacional após "Sanpaku - O Olho da Ambição". Realizado em forma de cooperativa, com mínimos recursos e filmado originalmente em 16mm (para baratear os custos), este segundo longa-metragem de Zezinho Joffily nasceu quase de raízes que um grupo de atores, atrizes técnicos etc., se encontravam após o esfacelamento da Embrafilme no ano passado. Decididos a provar que mesmo sem ajuda oficial e num momento de total pessimismo é possível fazer cinema de qualidade, Joffily e seu amigo Sérgio Rezende ("O Homem da Capa Preta", "Louca Demais") decidiram realizar filmes de produção modestíssima, em forma de "contrato de risco" com elenco e equipe. Rezende chegou a iniciar a produção de seu filme mas apareceu o convite para dirigir uma produção num país africano e ele adiou o projeto. Zezinho - que há tempos já havia colocado no freezer o roteiro (e a pré-produção) de seu sonhado "Crime na Ullen Company", decidiu fazer um thrilling com clima noir, "quase uma homenagem aos romances de Hammett e James Agee" como nos diria, em agosto último, quando "Sanpaku" foi o principal filme apresentado no 19º Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, do qual saiu consagrado com 4 Kikitos. Uma história envolvendo personagens que estabelecem uma empatia com o público, apesar dos vai-e-vens da trama, "Sanpaku - O Olho da Ambição" é uma produção com Condições de agradar aos espectadores, desde que encontre um circuito normal - e sua apresentação não se restrinja apenas a uma única projeção - como acontecerá hoje a noite, com a possível presença do diretor. A fotografia de Nonato Estrela montagem de Vera Freire - merecidamente premiadas - e a nervosa trilha sonora de David Tygel, ex-Boca Livre, cada vez mais profissionalizando-se como criador de Sound Tracks (e admirador confessor de Bernard Hermann) são créditos que valorizam esta modesta - mas digna - realização de Joffily, que após ter se consolidado com um de nosso melhores roteiristas ("Avaeté", "O Sonho não Acabou", "Parahyba Mulher Macho", "A Cor do seu Destino") estreou como diretor na comédia "Urubus e Papagaios", 85, baseado livremente em conto do gaúcho Josué Guimarães.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
18/10/1991

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