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Aramis

Antiqua com modernos e Studium com as Cruzadas

No campo da música classificada de clássica - embora esta divisão soe de forma antipática - os curitibanos acostumaram-se nos últimos anos a aplaudir a Camerta Antiqua. Fundada por Roberto de Regina, cravista, maestro e, sobretudo, apaixonado pela música antiga (à qual se dedica há mais de 30 anos), a Camerata hoje tem um prestígio nacional e mais dúzia de excelentes LPs gravados. Generosos ao extremo, Roberto de Regina - que é profissionalmente médico anestesista, funcionário do INPS - estruturou a Camerata Antiqua (da qual saíram grandes talentos, muitos hoje no Exterior) e deu condições para que o núcleo básico se desenvolvesse em outras formações. Assim, hoje já há condições de Curitiba sediar um encontro anual de música antiga e a própria Camerata partir para outras experiências, como a formação de uma miniorquestra de cordas, que sob a regência de Paulo Bosisio, chegou a gravar um lp no ano passado, com autores brasileiros (Ernani Aguiar; Guerra-Peixe, Cláudio Santoro e Henrique de Curitiba). Também foi dentro da Camerata Antiqua que nasceu o Studium Musicae, formado por jovens instrumentistas e cantores apaixonados pela música da idade média e que iniciando suas atividades em janeiro de 1981 (com o nome de "Conjunto Renascentista de Curitiba"), chegou também no ano passado à gravação de um primeiro lp. Dirigido inicialmente por Eunice Moreira Brandão (hoje estudando na Alemanha) e Roberto de Regina, o Studium Musicae tem a coordenação de Flávio Stein, que se dedica à pesquisa, execução da música antiga (medieval, renascentista e barroca), buscando em seu trabalho ir além das fronteiras puramente musicais. Para tanto, valendo-se de pesquisas iconográficas e textos originais da época, procura ilustrar e comentar o momento histórico e cultural abordado. Da mesma forma, faz uso de cópias de instrumentos antigos, como alaúdes, flautas-doce, krummhorns, saltérios e percussão, o que propicia uma execução musical mais autêntica. Assim, enquanto a Camerata Antiqua, após vários lps em que gravou autores renascentistas (inclusive alguns, em primeiro registro mundial), evoluiu para uma formação de orquestra de cordas, com um elepê dedicado a quatro autores contemporâneos, o Studium Musicae fez em "As Cruzadas", precioso trabalho de resgate da música de mil anos passados, quando se desenvolveram as Cruzadas, oficialmente para a libertação da Terra Santa do domínio árabe, mas que, na verdade, eram sintomáticas incursões dos interesses de países europeus contra a florescente economia oriental. Pela originalidade do trabalho realizado, seriedade na pesquisa e utilização de instrumentos da época, o Studium Musicae fez do álbum "As Cruzadas", gravado entre os dias 21 a 24 de março do ano passado, no Estúdio Multimix, com um precioso trabalho técnico de Carlos Freitas um dos discos mais significativos do ano que passou. O Studium Musicae é formado por Alexandre Castilho, Angelo Esmanhotto, Brian James Lottis, Carlos Harmuch, Flávio Stein, Janete Andrade, João Carlos Ribeiro, Norberto Elísio Pavelec, Plínio Silva - e teve, para esta gravação, a participação especial de Fernando Carvalhaes Duarte. xxx No encerramento de seu calendário artístico em 1985, a Fundação Teatro Guaíra promoveu um espetáculo audacioso em termos musicais: o Oratório de Natal de Johann Sebastian Bach. Coincidentemente, também em dezembro, a imagem do bravo Jonas Silva - produtor que tem feito algumas das melhores edições na área do jazz e música erudita - colocou no Brasil uma nova gravação de "O Messias", de Georg Friedrich Handel (1759-1885), com o Pró-Música Antiqua - coral de orquestra de câmara sob regência de Rodolpho Jones. Existem, na verdade, várias gravações desta obra já lançadas no Brasil, mas sempre é significativo o acréscimo de mais um registro de uma peça de tamanha beleza e que, ironicamente foi composta por Handel em apenas 25 dias de trabalho. Lembram algun de seus biógrafos, que por volta de 1741 Handel recebeu convite de Lord Lieutnant, da Irlanda, para reger em Dublin a execução de uma de suas obras. Charles Jennens enviou-lhe um texto e quando Handel o leu, teve a idéia de compor o oratório. Trabalhou menos de um mês nesta obra que estrearia em Dublin, a 13 de abril de 1742. Em 1743, no mês de março foi estreada em Londres.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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05/01/1986

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