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Aramis

Ao vivo, com emoção, os belos shows do Paramount

Cinco dos dez álbuns da coleção "30 anos de Bossa Nova" são de registros ao vivo, de shows produzidos por Walter Silva, que como apresentador de "O pick-up do Pica-Pau" na Rádio Bandeirantes, incorporou o nome artístico Pica-Pau ao seu nome e, astutamente, soube produzir shows que lotavam o antigo Teatro Paramount, na avenida Brigadeiro Luís Antonio, hoje transformado em cinco cinemas. Ali, entre 1962/65, aconteceram espetáculos da maior vibração e do melhor astral, com jovens artistas que, dentro do movimento de renovação da MPB - eclodida a partir da Bossa Nova carioca - mostravam trabalhos do melhor nível, capitaneados também pelo ciclo dos grandes festivais promovidos pelas TVs Excelsior, Record (e FIC, da Globo carioca), afora dezenas de outras competições musicais que se espalhavam especialmente no meio universitário. Era a época em que Chico Buarque aparecia com "Pedro Pedreiro" e "Sonho de um carnaval" (que seriam as primeiras músicas do compacto simples em que foi lançado pela RGE), seu companheiro Toquinho cantava "Vivo sonhando" (Tom) e "Primavera" (Carlos Lyra/Vinícius de Moraes) ou dividia com Paulinho Nogueira "Onde está você" (Oscar Castro Neves/Luvercy Fiorini), que se tornaria o maior sucesso na voz de Alaide Costa (Rio de Janeiro, 8/12/1935), presentes em quatro faixas dos elepês gravados ao vivo, além da reedição de seu primeiro disco feito na RGE (1962), no qual com arranjos distribuídos entre Erlon Chaves e Oscar Castro Neves, trazia repertório notável com "Preciso aprender a ser só" (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle), o curioso "Noite só" de Tuca (Valeniza Zagni da Silva, 1944-1978) com letra da hoje teatróloga Consuelo de Castro, afora "Estou só" (Johnny Alf) ou sua parceria com Vinícius de Moraes "Tudo o que é meu". Pela própria característica de serem gravações ao vivo, com todas as virtudes (e defeitos) de registros realizados com limitados recursos técnicos (numa época em que o máximo que se dispunha eram gravadores de 4 canais), "O fino da Bossa", "Templo da Bossa", "Os grandes sucessos da Paramount" e "A bossa no Paramount" devem ser apreciados dentro do prisma de documentos sonoros, tão importantes para os anos 60, como a verdadeira arqueologia musical que Leon Barg vem fazendo há dois anos, dos anos 30/50, para a sua série "Revivendo". Também há gravações repetidas, mas em diferentes interpretações, o que permite que se possa comparar inclusive o clima em que cada uma aconteceu. Por exemplo, em "Os grandes sucessos do Paramount", Alayde interpreta "Onde está você" acompanhada pelos Titulares do Ritmo. Já em seu LP feito em estúdo, a orquestração é de Erlon Chaves. O Zimbo Trio, em seus verdes anos (e o único dos grupos instrumentais da época que se manteve unido) pode ser ouvido numa curiosa "Garota de charme" (Luís Bonfá e Maria Helena Toledo, sua esposa na época) ou no "Balanço Zona Sul", o maior sucesso de Tito Madi depois de "Chove lá fora". Grupos como Bossa Jazz Trio ("Zero Hora", de Adilson Godoy - que só este ano viria a fazer seu primeiro LP solo), Oscar Castro neves com um noneto ("Azul triste") ou orquestra ("Berimbau"); o Sambalanço Trio (de César Camargo Mariano, e no qual o baterista era Airto Moreira); o Sana Trio que teve Hermeto Paschoal em sua curta existência) ou o Sambrasa Trio são outras preciosidades em jazzísticas criações (como "Samblues", de Mariano), ou de outros autores ("Primavera", Lyra/Moraes ou "Aleluia" (Edu Lobo/Ruy Guerra), respectivamente. Conjuntos instrumentais que não tiveram mais do que uma geração - mas que na época atuavam bastante - como os Bossais (Marcha da quarta-feira de cinzas"), Os Ipanemas, o Quarteto de Sabá ("P'ra que chorar"), o Trio Seleno ("Azul Contente", uma jóia de Walter Santos/Tereza Souza) e mesmo o organista André Penazzi, que chegou a fazer muitos discos de grande sucesso, praticamente surgem como surpresas aos ouvidos mais jovens nestas coletâneas. Um volume montado com momentos extraídos de diferentes shows ("O melhor da Bossa") traz o Bossa Jazz Trio ("Balanço Zona Sul", em mais uma versão) e o Manfredo Fest Trio, liderado pelo pianista cego, gaúcho, 53 anos, desde 1967 residindo nos Estados Unidos, onde fez inúmeros discos - nenhum deles aqui editados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
25
10/12/1989
Pelo jeito vou passar o dia escrevendo-lhe Aramis, Gostaria de ter esse artigo...seria possível tê-lo escaneado? Obrigada. Daniela

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