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Aramis

Aos 36 anos, CEU tem também seus diabinhos

Aproveitando os 36 anos que a Casa do Estudante Universitário comemora nesta sexta-feira, 11 de agosto, o presidente da Fundação, Lafayette do Santos Luz, 22 anos, estudante de engenharia elétrica, esperava receber o governador José Richa, para almoçar na casa onde ele morou durante quatro anos. Dificilmente, Richa poderia aceitar o convite neste inflamado fim-de-semana de governações partidárias, mas Lafayette está confiante que, passada a euforia peemedebista, o governador possa enfrentar a fila do bandejão e conhecer de perto, os problemas que a CEU enfrenta. xxx Problemas é que não faltam à Fundação do Estudante Universitário, criada em 1948 e que, após funcionar no prédio onde hoje está o Hotel Plaza, na avenida Luiz Xavier, ganhou a sede atual e definitiva, no Passeio Público. Isto em 1956, no segundo governo Moisés Lupion, que merece, até hoje, a gratidão de milhares de estudantes que passaram pela CEU, nestas três décadas e meia: Lafayette Luz, paranaense de Apucarana, está levantando, entre os moradores da CEU a partir de 1998, os que se projetaram nacionalmente, pois, como recorda o padre Augusto Pereira (durante anos morador e capelão da CEU), até o [homem] ministro Waldir Arcoverde, da Saúde, foi beneficiário da instituição, em seus magros dias de universitário. Dos homens que hoje estão no poder, além de Richa, há vários ex-moradores: o secretário Antenor Bonfim, o deputado Orlando Pessuti e o prefeito de Maringá, Said Ferreira, entre outros. Assim, é de se esperar que haja uma real atenção do Estado para com a CEU, que sempre enfrentou problemas orçamentários, mas que, agora, mais do que nunca, está ameaçada de entrar no vermelho: em agosto, o déficit previsto, apenas com a alimentação e o pagamento dos 38 funcionários, é de Cr$ 16.700.000, que será coberto com o fundo de emergência. A partir de setembro, entretanto, os recursos se axaurem e, se não houver suplementação, a situação ficará insustentável. Como as verbas federais não são pagas a mais de quatro anos (apenas Cr$ 600 mil foram liberados esse ano), há CEU não pode saudar as despesas de água, luz e encargos sociais - assim como é inviável qualquer tentativa de recuperar o imóvel sofrendo naturais desgastes. Só para a Copel a dívida é de Cr$ 60 milhões, mas, infelizmente, a presidência da empresa tem sido compreensiva para com a situação e não cortou a luz. O governo do Estado liberou, há alguns meses, Cr$ 55 milhões, que permitiram a manutenção da casa - pessoa e alimentação - até este terceiro trimestre. O que a CEU arrecada - 364 moradores efetivos e 46 vestibulandos, que pagam Cr$ 25 mil mensais - não é suficiente para o equilíbrio das despesas. Lafayette Luz, que assumiu a presidência devida a uma crise de diretoria e que promove eleições no final do mês, tem bons projetos para tornar a Fundação se não auto-sustentável ao menos operacionalmente atuante. Para tanto, seriam vendidas duas das três propriedades que a CEU possui há anos: uma ociosa propriedade rural de 2,5 alqueires em Colombo e a granja de Piraquara, esta já dentro do perímetro urbano daquela cidade. Os recursos obtidos possibilitariam viabilizar a exploração de uma grande área (193 hectares) que a CEU possui em Antonina, inclusive com projetos de Piscicultura Havendo saldo, poder-se-ia também adquirir uma outra granja em área mais próxima a Curitiba, para desenvolvimento do plantio de hortigrangeiros. Beneficiando estudantes de famílias carentes, provindos principalmente do Interior do Estado, a CEU exige dos moradores um a participação ativa em seus vários departamentos. Assim, já mantém um centro de processamento de soja, "capaz de obter grande rentabilidade", diz Lafayette, que se mostra otimista em relação às perspectivas de uma dinamização da área agrícola. Considerando que hoje o governador José Richa, filho de família humilde, residiu quatro anos na CEU encontrou na Fundação, abrigo para poder fazer seu curso de odontologia, na UFP, é de se esperar que ele proporcione melhores condições na atual administração como a injeção de recursos que possibilitem uma restauração do prédio de quatro andares, a substituição dos móveis estragados (os conjuntos de estofados está na sala de recepção há quase 30 anos) e, principalmente, a dinamização das unidades capazes de auxiliar no costeio da entidade. No quarto andar da CEU, há espaço para a instalação de um cine-teatro com 300 lugares, que poderá se tornar uma nova opção cultural para os estudantes, mas que, para seu funcionamento, depende também de recursos. xxx Assim, neste seu 36o aniversário, há Casa do Estudante Universitário não espera migalhas paternalistas, mas, sim, uma atenção de fato e de direito dos homens que por ali passara e que hoje se destacam em vários setores da vida pública. Para que a Fundação continue acolhendo jovens oriundos de várias partes, filhos de famílias humildes e que só graças a existência da CEU conseguem sobreviver na grande cidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
10/08/1984

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