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Aramis

A Arte do best seller ou o Robim Hood dos livros

O clube do Best-Seller, que funciona há um ano na galeria Schaffer, em experiência inédita (mas hoje com empresas semelhantes em outros Estados) deu certo por uma razão óbvia: muitos querem ter o que de novo aparece mensalmente - romances, especialmente - mas com os preços cada vez mais elevados, nem sempre há condições de imobilizar Cr$ 15, Cr$20 ou Cr$ 30 mil num livro de interesse temporário. Esperar pela Biblioteca Pública, nem pensar: com problemas crônicos e órfã em termos de subvenções para aquisições de novos títulos, dificilmente a BPP iria investir seus recursos (quando os tem) em literatura estrangeira, de autores de sucesso mas de discutível validade cultural. Assim, o Clube do Best-Seller preenche um natural espaço - e faz com que os romances lançados por editores que astutamente escolhem os escritores de maior cunho popular, cheguem também à faixa do público de menor poder aquisitivo. E a Record, de Alfredo Machado, é hoje a editora que executa uma política de Robim Hood cultural: tem sua sustentação financeira em autores de grande popularidade, especialmente estrangeiros, podendo, consequentemente, investir também numa área cultural. Além de, nos últimos meses, com a crise pela qual passou a José Olympio (agora soerguendo-se), ter conquistado alguns dos clássicos de nossas letras - de Drummond a Anibal Machado, sem esquecer que Jorge Amado há muito tempo já deixou a Martins e passou para a editora de Machado,. "Tocaia Grande", o último romance do escritor baiano, está saindo neste mês, com uma tiragem mostra de 150 mil exemplares (numa terra de romances que nunca ultrapassam 10 mil), 512 páginas, preço de Cr$ 24.900,00 - e vendas antecipadas de 100 mil exemplares. Mas Jorge Amado, 72 anos, 53 de literatura, 20 romances traduzidos para 46 línguas e publicados em 70 países, já vendeu mais de 8 milhões de livros e como contou a "Veja", há duas semanas (na matéria de capa que lhe dedicou), a cada três dias uma nova edição de alguma obra sua vai para as livrarias. E só em direitos autorais, a Record garante Cr$ 30 milhões mensalmente - cifra que agora deverá triplicar com o lançamento de seu novo romance. Uma prova de que a Record é hoje uma editora privilegiada em termos de autores de grande aceitação está em recentes lançamentos: Arthur Hailey ("Remédio Amargo"); John Le Carré ("Uma Pequena Cidade da Alemanha"), Heins G. Konsalik ("Batalhão de Mulheres") e Robert S. Elegant ("Mandarim"), apenas quatro dos muitos nomes conhecidos por inúmeros títulos que fascinam milhares de leitores. Vendas sempre suficientes para garantir a tranquilidade do sorridente Alfredo Machado. Com "O Espião que saiu do Frio" - levado ao cinema em 1966, com direção de Martin Ritt e uma inesquecível atuação de Richard Burton - John Le [Carré] foi um dos primeiros escritores a desmistificar a imagem romântica do espião, glamorizada ao extremo por Ian Flemming, com seu James Bond transformado no personagem de mais longa sobrevivência nas telas. Le Carré mostrou o lado sujo, triste e corrupto da espionagem - e isto o fez um escritor respeitado - mais do que um simples autor de best-sellers, um desmistificador de mitos. "A Garota do Tambor", "Sempre Um Colegial" confirmaram sua garra e agora há um novo romance de David John Moore Cornswell (Dorset, Inglaterra, 1931)- Seu nome verdadeiro. Diplomata de carreira, já tem oito romances editados no Brasil pela Record, aos quais se acrescenta a este interessante "Uma Pequena Cidade da Alemanha" (tradução de Carlos Evaristo Marques da Costa, 306 páginas, Cr$ 13.900,00). Como sempre, uma história intrigante: Leo Artign após 20 anos de leais serviços à Coroa Britânica, de repente desaparece levando consigo valiosos arquivos que poderiam comprometer seu país nas negociações em Bruxelas, na tentativa de ingressar no Mercado Comum Europeu. Nessa atmosfera de crise próximo, os serviços de segurança enviam Alan Turner, um agente frio, e duro, para encontrar Leo. Entretanto, Turner se indaga sobre os objetos de seus mandantes: "Querem o homem ou os arquivos?" Aos poucos fica claro que uma coisa não seria suficiente sem a outra. E John Le [Carré] vai tecendo sua história, com a técnica que possui - e que o faz hoje um dos autores mais lidos em dezenas de Países.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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02/12/1984

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