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Aramis

A arte do vocal de NY que poucos viram

Mais uma vez um espetáculo internacional teve um público reduzidíssimo em Curitiba: independente do prejuízo financeiro, o vazio no Teatro Guaíra, terça-feira à noite, na única apresentação do New York Vocal Arts Ensemble, fazia lembrar as estórias de tantas companhias de operetas, teatro, etc, que acabaram em Curitiba, por falta de público. Hoje, já não há mais riscos: os cinco integrantes do New York Vocal Arts Ensemble seguem agora para Buenos Aires, onde, com certeza, encontrarão um público mais atento ao belo espetáculo que apresentam. Um quarteto vocal e um pianista-arranjador, Raymond Beegle, formado há 10 anos em Nova Iorque, e que apesar de várias substituíções, desenvolve um trabalho extraordinário na área do canto, passou praticamente desapercebido tanto no Rio, como em Curitiba. O empresário Wlater santos, da Aulis, procurou motivá-lo como um grupo de jazz - a tal ponto que a Klássica Promoções, de Curitiba, buscou capitalizar publicitariamente comparações com o Preservation Hall Jazz Band, grupo tradicional, de New Orleans (e não New Jersey, como saiu em alguns textos) - quando, na verdade, nada há em comum entre os grupos. O quarteto vocal - Lila Devs (soprano), Priscilla Magdano (meio soprano). Thomas Poole (tenor) e Kevin Deas (baixo-baritono) apresentam arranjos especialíssimos, criativos ( e nisto, talvez, possa ser ajustada a palavra jazz), de temas musicais que vão de Mendelsson a Scots Joplim, passando por um bem humorado trecho de uma peça de Rossini, onde Lila e Priscilla lembram duas gatas. Por falta de organização dos empresários do espetáculo no Brasil, não houve a divulgação de textos a respeito do grupo, não se teve nem uma cópia dos elepes que o grupo já fez na Voz, Desto e Turnabout (etiquetas sem representação no Brasil), de forma que, obviamente, a motivação em torno do espetáculo foi mínima. Entretanto, os elegantes e sofisticados sócios da Pró Música - que hoje à noite, por certo, ocuparão todas as poltronas do Guaíra, para aplaudir a Orquestra o recital do New York Vocal Arts Ensemble. Seu estilo personalíssimo de interpretar músicas das mais difíceis, de autores eruditos, a perfeição das vozes, a leveza a segurança do pianista-diretor Beegle, fazem com que não só se lamente que um espetáculo como este tenha passado em brancas nuvens, mas até desestimula a que, no futuro, se arrisque a trazer a Curitiba espetáculos que não sejam percebidos de uma imensa badalação. Kevin Deas, um barítono que chega a lembrar Paul Robeson, no grupo desde janeiro, emocionou em alguns momentos, como solista. Alberto a todos os gêneros musicais - Kevin e Poole - professor de música, cantor operístico e que só integra-se ao New York Vocal Arts Ensemble temporariamente - após o espetáculo, desejavam conhecer << a música ao vivo em Curitiba >>, E nesta vazia noite, tiveram que se contentar com a música em fita, de Beth Carvalho e Gilberto Gil, nos possantes aparelhos da discotheque Angel`s Flight, onde, no salão totalmente vázio, saboreando << caipira >> permaneceram algumas horas. Para explicar a ausência do público, uma santa desculpa: << a visita do Papa fez com que todos os curitibanos perdessem o interesse por qualquer outro evento >>. Diplomaticamente,. Thomas Poole reconheceu o fato, lembrando inclusive << que o mesmo ocorreu nos Estados Unidos >>. Mas Papa à parte, quem perdeu, foi quem deixou de ir ao Guaíra, na terça-feira. Mais uma vez, um espetáculo para milhares de pessoas foi visto por poucas dezenas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
10/07/1980

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