Login do usuário

Aramis

Artigo em 19.08.1984

Embora a indústria fonográfica esteja em crise no Brasil, com vendas decrescentes, um gênero parece não ter sido atingido: o da música clássica. Afinal, dirigindo-se a uma baixa de bom nível intelectual e razoável poder aquisitivo, as gravações com orquestras, solistas, e conjuntos (corda, câmera, sopros, etc.) proporcionam que na impossibilidade de adquirir os discos importados - com acontecia no passado, amplie-se o catálogo nacional. Isto explica porque a CBS, Ariola e Polygram acabam de colocar excelentes coleções no mercado, enquanto a Continental da prosseguimento a sua programação de editar o melhor da música erudita Brasileira, com convênio com o ProMemus/Instituto Nacional de Música. A partir desta semana retornando uma colaboração regular na "Voz do Paraná"- semanário ao qual já emprestamos a nossa participação profissional em várias fazes - vamos dedicar este espaço ao registro do que melhor existe na música, especialmente a clássica. Maurício Quadrio, nome do maior respeito para todos que acompanham a música erudita no Brasil, responsável pelo que de melhor tem sido editado entre nós nos últimos 15 anos, realizou recentemente duas excelentes coleções. Para a CBS, orientou um "pacote" com doze álbuns de música clássica, com interpretes consagrados e, especialmente, novos, enquanto pela Ariola, selecionou dez álbuns originais da etiqueta estatal Melodia, da URSS, com grandes mestres russos. Do pacote erudito da CBS, dois álbuns são com a Orquestra de Cleveland, uma das mais respeitadas do mundo, regida por Lorin Maazel. Num álbum temos a Sinfonia no. 5 em Mi Menor, Opus 64, de Tchaikowsky, uma das obras mais admiradas da musicografia mundial. Como acentuou a musicólogo Marc Vignal, dez anos separam a criação da Quarta Sinfonia da Quinta de Tchaikowsky, dez anos nos quais o compositor adquiriu uma reputação considerável. Em 1887 ele empreendeu uma longa viagem que foi sua primeira grande excursão profissional. Cinco meses se passaram, assim, numa vertigem de concertos e de atividades sociais que se prolongaram de Leipzig (onde Tchaikowsky passou o Natal em companhia de Brahns e de Grieg) a Praga e de Paris a Londres. Ele não recebeu nenhuma encomenda especial, mas coroas de louros, bem como uma renda anual de 3.000 rublos dada pelo tzar Alexandre III. Ele não se interrogava sobre a vacuidade desse gênero de sucesso e foi sem entusiasmo, no caminho de volta, que começou a extrair uma sinfonia - a Quinta - de seu "cérebro fatigado". Tratava-se novamente de uma "Sinfonia do destino", onde a fatalidade se instalava desde o começo através de um tema sombrio e pesado, eu excluía qualquer revolta. Um "programa" parece ter existido, mas não foi voluntariamente publicado e talvez jamais formulado completamente. Os quatro movimentos foram percorridos por um tema comum e o motivo lamentoso da introdução servia de apoteose no final. Era a clarineta que o expunha na introdução " Andantes" e isso no registro grave. Correspondia em seguida, "aos apelos do destino", seguindo-se um Allegro com anima de forma sonata que terminava na calma resignada do soluço. O resultado? Uma obra prima, que desde sua estréia em 17 de novembro de 1888, sob a regência do compositor em Moscou, se constitui num dos momentos mais belos da música erudita - e que agora temos numa nova e perfeita gravação. Escrita entre fevereiro de agosto de 1893, a Sexta Sinfonia( que o irmão do compositor, Modest, lhe sugeriu publicar com o subtítulo "Pathetique") figura entre as obras maiores de Tchaikowsky. Deveria ser sua última obra concluída, pois depois de ter reagido ele mesmo a primeira execução, Tchaikowsky sucumbiu a cólera. Aliás, essa estréia suscitou pouco entusiasmo, talvez porque público e críticos ficaram confundidos com o longo movimento sombrio e lento que concluía a obra. Mas a sinfonia foi tocada novamente bem pouco depois dos funerais de Tchaikowsky ( 1949-1893) sob a regência do célebre Napravnik. "Dessa vez - escreveu Nikolai Rimsky - Korsskov- "o público a acolheu com arrebatamento...O público simplesmente o havia penetrado quando da primeira audição, e muito rapidamente essa esplêndida composição conheceu a celebridade e até mesmo o favor da moda". Peter Llytch Tchaikowsky já estava morto. Havia falecido sem ver o reconhecimento da "patética" obra a respeito da qual, há 91 anos em carta enviada ao seu sobrinho Vladimir Davidov (a quem dedicara a Sinfonia0, dizia: - "Eu a considero sem qualquer dúvida a melhor das minhas obras, e sobretudo a mais sincera. Amo-a como jamais amei qualquer outra das minhas criações musicais".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
4
19/08/1984

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br