Login do usuário

Aramis

Baião

Paulo Tapajós, presidente da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira, ex-diretor artístico da Rádio Nacional, produtor de audições do Projeto Minerva, conta que foi em agosto de 1945 que Luiz Gonzaga (Exu, Pernambuco, 13 de dezembro de 1912), no Rio desde 1939, foi ao encontro de Humberto Teixeira para iniciar um empreitada que ele se propunha realizar: lançar no Rio a autêntica "música do Norte". Precisava de alguém que o ajudasse, que escrevesse letras para as melodias que sabia fazer. Foi então que nasceu o "baião"- ou baiano, uma das muitas danças populares da Bahia para cima, onde se usa as palmas, o sapateado, o estalar dos dedos, além de uma coreografia em tudo descendente dos primitivos batuques, inclusive com a umbigada que caracteriza a trocado par dançarinos-solistas, em meio a uma roda. O baião conquistou o Sul maravilha no final dos anos 40, a tal ponto que foi adotado por autores paulistas, como Hervê Cordovil e recebendo a adesão imediata de nordestinos como Luís Bandeira, Zé Dantas, Guido de Moraes e tantos outros, que ajudaram a abrasileirar cada vez mais a nossa música popular. E o novo gênero fez escola, arrastando ansigo uma legião de outros gêneros satélites, como a toada, o xote, o chamego, o rojão, o côco etc, e haverá também de dar campo ao trabalho de grandes nomes desta área: Jackson do Pandeiro, Camélia Alves, Rosil Cavalcanti, João do Vale, Dominguinhos e tantos outros. Hoje, passados 30 anos, o baião continua a ser um dos mais brasileiros gêneros, com toda um sociologia a ser estudada. E, por isso, não poderia deixar de ser dos mais recomendáveis o aparecimento simultâneo da "Antologia do Baião" (Philips, 6349317, março/77) paralelamente ao novo disco de Luiz Gonzaga ("Chá Cutuba", RCA Victor, 107.0265, março/77). Pois se o Quinteto Vioklado, jovens de formação universitária e que tiveram seu lançamento nacional a apartir de 1971, num trabalho dos mais valiosos para a divulgação da música do Nordestino, o veterano Luiz Gonzaga continua cada vez melhor, de maior brasilidade em seus baiões bem humorados, comunicativos, como reunidos neste seu novo LP, produzido pelo pernambuco Luiz Bandeira (compositor e ex-crooner de grande fama) e com arranjos e regências de outro nordestino - Severino Araújo. O repertório selecionado não poderia ser melhor: da música-título de Humberto Teixeira a regravações de antigos sucessos como "Baião de Dois", desfilam nas 12 faixas, baiões novos e antigos, como "Forró Fungado"( Dominguinhos-Anastácia), "São Francisco do Canindé" (Julinho-Luiz Bandeira), "Cabocleado" (Eduardo Casado), "Não é só a Paraíba Que Tem Zé" (Gonzaga), "Tambaú" (Severino Araújo-Silvino Lopes), "Karolina com K" (Gonzaga), "Jesus Sertanejo" (Janduhil Filizola), "A Morte do Meu Avô" (Nelson Valença), "Menestre do Sol" (Humberto Teixeira) e "Chapéu de Couro e Gratidão" ( Gonzaga-Aguinaldo Batista). Mesmo com as restrições feitas por alguns estudiosos, que apontaram a inclusão de algumas músicas que não são propriamente baiões, a Antologia gravada pelo Quinteto Violado (Toinho Alves, baixo; Marcelo Mello, violão; Fernando Filizola, viola e sanfona; Luciano Pimentel, bateria, e José, flautas), produção de Paulinho Tapajós, é um disco-base, para quem deseja conhecer os grandes êxitos do ritmo nordestino nos últimos 30 anos. Dos clássicos baiões de Luiz Gonzaga(que participa na faixa "Asa Branca"0 e Humberto Teixeira, a criações de Geraldo Vandré, Sérgio Ricardo, Guio de Moraes David Nascer ("Baião da Penha"), entre outros autores que souberam entender o ritmo, temos 32 faixas do mais absoluto gosto/som de Brasil. E, quando as multinacionais da música anestesiam e imbecializam os consumidores com o mais supérfluo pop, é salutar encontrar dois discões de baiões - como o do mestre Gonzaga e de seus discípulos - Quinteto Violado. FOTO LEGENDA- Luiz Gonzaga Chá Cultura
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
08/05/1977

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br