A bela Maria nas últimas projeções do Cine Vitória
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de janeiro de 1987
Se houver boa resposta de público para "Os Amantes de Maria", este drama do diretor russo (radicado nos Estados Unidos) Andrei Konchalovsky será o último filme a ser exibido no cine Vitória, inaugurado há 24 anos e que foi a mais luxuosa e maior sala de projeção da cidade. As belas imagens da alemã Nastassja Kinski - amada e desejada por Keith Carradine, Vincent Spano e Robert Mitchum neste "Maria's Lovers" (em exibição a partir de hoje) - serão as últimas que, no próximo dia 28, estarão na enegrecida e encardida tela panorâmica do Vitória. Caso o filme de Konchalovsky não faça a bilheteria esperada, João Aracheski já tem uma opção para ser vista nas últimas sessões do cinema da Barão do Rio Branco: "Gandhi", a cinebiografia do líder hindu na superprodução de Richard Attenborough que venceu vários Oscars.
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Morre mais um cinema e nasce o Centro de Cultura e Turismo de Curitiba - pomposo nome que consta no anteprojeto de reforma daquele espaço, já de propriedade do Governo do Estado - após negociações que se prolongaram por mais de um ano. O empenho do secretário Fernando Miranda, da Indústria e Comércio em dotar a cidade de um centro de convenções fizeram com que muitas dificuldades fossem transpostas e, no apagar das luzes de 1986, finalmente fosse assinado no 3º tabelionato, do sr. Iraci Viana, a escritura definitiva, pela qual os proprietários do prédio receberam Cz$ 28.378.000,00, à vista, pela venda do imóvel.
Os irmãos Aleixo e Arnaldo Zonari, donos da Fama Filmes, como proprietários de 23% da área, receberam Cz$ 9.300.000,00. O saldo foi distribuído aos demais herdeiros da família do hoteleiro Francisco Johnscher, proporcionalmente às suas participações no imóvel: - Ilona Helga Ribeiro, casada com Fernando Veiga Ribeiro (32%); Hedda Margot Johnscher Niebel, casada com Fritz Sigsmund Niebel (20%), Udo Niemeyer (6,5%), Hedy Edla Niemeyer (6,25%), Edwin Victor Johnscher (6,25%) e Guiomar Johnscher Fornasaro (6,25%). Dona Maria Erna Lydia Niemeyer, era detentora apenas de direitos de rendimentos.
Ainda neste trimestre, a Fama Filmes promete reabrir o cine Bristol, fechado há quase um ano. Instalado na primeira quadra da avenida Mateus Leme, no setor histórico, o antigo cine Marabá - ex-teatro Hauer de origens no século passado (quando era uma movimentada casa de espetáculo ao vivo, arrendada à família Egg), o Bristol será um novo cinema. O arquiteto Rodolfo Doubek trabalha em todos os detalhes para que o Bristol não só venha substituir o claro que o fechamento do cine Vitória vai deixar agora, mas também para que seja um cinema de características especiais.
Ao longo de sua existência o velho prédio sofreu várias reformas. Como cinema, teve modificações tanto nos anos 60 como 70, buscando sempre atingir um público de bom gosto. Entretanto, quando existia a chamada Cinelândia, na avenida Luiz Xavier - os iluminados cines Broadway, Avenida, Ópera e Palácio (mais adiante, na Voluntários da Pátria, os populares Curitiba e América), a distância do antigo Marabá fazia com que o público não se animasse a freqüentá-lo como deveria. Entretanto, sua programação era das mais bem cuidadas, especialmente quando Paulo Sá Pinto, poderoso tycoon da exibição paulista, era o seu dono. Ali eram lançados filmes europeus - especialmente a produção da França Filmes - e, em 1958, "A Família Trapp", uma produção alemã inspirada nas cantorias da família austríaca, foi o maior êxito de bilheteria, permanecendo mais de 4 meses em cartaz (mais tarde, a mesma história seria aproveitada no musical "A Noviça Rebelde/The Sound of Music"). Outro grande êxito dos tempos antigos do Marabá foi "Rififi", de Jules Dassin (1954) que, em 1956, permaneceu semanas em cartaz (agora, está sendo feita uma refilmagem deste clássico policial).
Reabrindo em breve, nos novos tempos da cinematografia, o Bristol marca uma nova etapa de nossos cinemas. O que João e os Zonaris ainda não decidiram é qual será o filme de reabertura. Fala-se inclusive, em "A Missão", de Roland Joffé - Palma de Ouro em Cannes-86, grande favorito ao Oscar-87 - e que foi rodado no lado argentino das Cataratas do Iguaçu.
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