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Canto do Nacional revela talentos entre bancários

Há quase 30 anos, Paulo Cesar Batista Faria era um modesto funcionário da agência Botafogo do Banco Nacional (então "de Minas Gerais") e entre os clientes estava Hermínio Bello de Carvalho - na época, executivo de uma empresa de navegação - que tinha algumas composições. Bastou Hermínio ouvi-las para aconselhar o garoto: abandone o banco e assuma o samba! Assim nascia para a glória da nossa MPB o genial Paulinho da Viola. xxx Talvez os 22 mil funcionários (eram 30 mil há alguns meses) do Banco Nacional possa existir outros talentos como o de Paulinho da Viola. E por isto mesmo, há cinco anos que a Associação dos Funcionários do Banco Nacional, com apoio de sua diretoria, vem promovendo uma bienal competitiva, da qual saem 12 músicas finalistas - registradas em elepês de circulação dirigida - e dão prêmios de viagens aos primeiros classificados. Sábado, 14, no ginásio do Pinheiros, em Curitiba, houve a seleção dos candidatos ao Fenam-89, cujo encerramento será dentro de três semanas (4 de novembro, Rio de Janeiro). Nos três primeiros anos a promoção atingia apenas Rio e Belo Horizonte, mas este ano funcionários das 480 agências espalhadas por todo o país tiveram oportunidade de concorrer através das seleções regionais em Salvador, Belo Horizonte, Rio, Curitiba e duas etapas em São Paulo - uma só para a Capital (dia 21) e outra para o Interior (dia 28/10). A edição do disco com as 12 finalistas ainda não está definitivamente acertada, mas a bela Cristina Rebello, gerente de administração e uma das executivas que vem dando tempo integral ao evento, garante que "faremos tudo para que o álbum saia ainda este ano". xxx Doze concorrentes, pré-selecionados entre funcionários/compositores/intérpretes da região Sul, concorrem em Curitiba, para a escolha de duas músicas e um intérprete que estarão na finalíssima. Valeu a pena o entusiasmo dos 480 funcionários de agências do Nacional de várias cidades gaúchas viajarem 36 horas em 13 ônibus para esquentar a torcida: Carlos Henrique Oliveira Portella, funcionário da agência de Pelotas, com um vigor nativista, foi considerado o melhor intérprete e ainda classificou "Essas faces frágeis", de sua autoria, em primeiro lugar. Para o segundo lugar o júri - do qual fazia parte o jornalista Roger Vox, da Rádio Cidade-FM, também da capital gaúcha; mais os compositores Cláudio Ribeiro (diretor da divisão de música popular da secretaria da Cultura) e Gerson Bertinez, e este colunista, escolheu "Luzane", da dupla Rosânia Vieira e Luciano Silva, agência de Criciúma. Rosânia Vieira - uma das quatro mulheres a defenderem músicas na noite - ganhou também aplausos pela sua performance. Suave, com um toque de erotismo (apresentando-se vestindo apenas um soutien branco na parte superior do seu torneado corpo) mostrou que pode até fazer carreira profissional, Roger (santos Vox, que defendeu sua premiação como intérprete, prometeu divulgar uma fita com uma música na programação da FM-Cidade, que atinge um grande universo de ouvintes em Porto Alegre. Carlos Henrique Portela, 31 anos, melhor intérprete, defendeu três das 12 canções que disputaram a premiação: "Vida e Rio", de Odilmar Araújo Peres, seu colega da agência de Pelotas; "Sementes do Futuro", de Andrades Diehl Filho, de Novo Hamburgo - a música de maior força nativista da noite. Mas foi a emoção e linha social de sua própria composição, "Essas Faces Frágeis", falando sobre as crianças abandonadas, que lhe valeu a premiação de melhor intérprete e a primeira classificação para chegar à finalíssima. Versos bem estruturados, uma poesia vigorosa, dão a "Essas Faces Frágeis" condições de conquistar grande faixa de público. Pelas ruas cinzas/Vão as sombras Que saltam das marquises/Em busca de vida Pois à frente de uma porta/Vem um sol e brota Sem luz nenhuma Pelas largas avenidas Vão paridos de mulheres vazias que sem importar com as crias Vão soltando filhos, a um mundo frio. Considerando o sentido amadorístico dos concorrentes - bancários(as) que fazem e cantam músicas em horas de folga - houve até momentos interessantes. Por exemplo, Geraldo José Pereira, da divisão de telecomunicações da diretoria regional do Nacional-Curitiba, dividindo a interpretação com sua colega Tânia Regina Rover, mostrou um chorinho, "Cala-boca". Já o grupo Fruto da Terra, que vem acompanhando os candidatos em todas as eliminatórias, responsável também pelos arranjos, valorizou bastante o comunicativo samba "Malandro", composição de (defendida pelo autor) Pedro Luiz Coimbra Reis, também de Pelotas. Aliás, a presença gaúcha foi maciça, com seis concorrentes, enquanto Santa Catarina teve apenas duas presenças - a classificada "Luzane" de Rosânia Vieira (Blumenau) e "Canção da Paz e do Amor", de José Edilson da Luz, de Blumenau. O Paraná concorreu apenas com o chorinho "Cala-boca" e "Filhos do rock'roll", de William Donizete Nunes, de Foz do Iguaçu. Se houvesse uma premiação para melhor letra, "Tarde Demais", de Milton César Pozzo da Silva, seria a premiada. Infelizmente a parte musical não acompanhou a mesma beleza da letra, fazendo com que a canção fosse desclassificada. xxx Outras associações que reúnem bancários - como os do Bamerindus e do Banco do Brasil - promovem também eventos musicais, destinados a integração cultural de seus funcionários. O Fenam-89, do Nacional, adquiriu este ano uma dimensão bem mais ampla, com uma extensão nacional e perfeita coordenação, garantida pelas executivas Ana Tavares, Cristina Rebello e Leonor Lambeuber, apoiadas pela experiência da empresa, Paulo Suplicy Comunicações, através do alegre Manoel Pizarro. No encerramento da festa, ao entregar as premiações - os dirigentes regionais, Edwy Luiz Araújo e João Maria de Matos, não escondiam sua satisfação: uma promoção bem sucedida como esta vale muito para fazer com que suas equipes suem a camisa pelo Nacional.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/10/1989

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