Login do usuário

Aramis

Cartas

Antônio bittencourt Ferreira (Bela Vista do Paraíso) - "Tinha tiririca das bradas . Rato. A roça estava praguejada. Igualzinho Judo nos tempos de Abrão. Naquele tempo, as noticias eram enviadas por mensageiros. O homem que levou ao conhecimento de José, no Egito, que Abraão estava passando fome era da mesma casa do patriarca e, sendo parente , estava por dentro de tudo. O vice-reu virou criança, tal a alegria. Era marmanjo e pulso forte. Se não fora, o Rei egípcio não teria dado a ele (")alguma. Passou a brincar . Fez diabruras e o coitadinho do Benjamim passou mal. Enfim, aconteceu a história da taça e as coisas entraram nos eixos. O velho Abraão ia sair da miséria e entrar na riqueza. Abandonava as dificuldades para uma sorte bem melhor e adquiria em terras estrangeiras uma espécie de sesmaria. O que causa espécie é o fato do patriarca reuniu as (") e objetos adquiridos em Juda para leva-los. Eram coisas sem valor e denunciadoras de uma vida pobre. A esta altura ia tomar posse de riquezas, porque tomava cuidado de levar traias miseráveis? Era para que o Abraão de hoje tivesse lembrança do Abraão de ontem e, nesse conjunto de situações, pudesse ver todo o bem que recebera de Jeová. "O homem entrou sem bater. Era serviçal de longa data. Na varanda um estrepe de trepadeira (") a testa e entrou sangrando. Cabelos alvoraçados. Na sala estavam todos saboreando uma canja de galinha. O odor do cheiro verde e os temperos aguçava a paladar. Assustaram-se com o caseiro que apareceu tão de repente nesse estado. O homem, com fome e lambendo o beiço deu a nova: - Tem gente lá fora querendo falar com o patrão. "O pernambucano levantou-se e foi ver quem era. Intimação para comparecer à policia. Pernambucano não devia crimes e nem tinha contas a ajustar com quer que seja. Mandou arrear o cavalo e pegou imediatamente a estrada. Era tramóia. Os jagunços invadiram a casa de Pernambucano. Jagunços ou policiais? Colocaram o melhor disco na radiola. Todo o mundo teve que dançar a força. Até às seis da manha. Lá de fora, vinha um ar frio e agreste. O calor provocava o ressecamento da terra e trabalhava para futuras chuvas. A terra estava enxuta. Não secaram porém as bolhas dos pés dos mártires e nem a roupa suada. Fedor de macho acuado e de sacrifício. Mistura humana de Deus e satã. "Pernambuco vingou-se. Veio a história da resistência perto da ponte. Um figurão fugiu e apareceu só de cuecas em plena cidade grande. Morreu muita gente. Paraná de ontem. Esquecer fatos tristes de outrora é dar pouco valor às reais possibilidades de hoje".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Panorama
1
10/04/1973

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br