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Aramis

As cartas de Drummond

Ontem, às 8 horas da manhã, João Manuel Simões sentou-se em sua mesa de trabalho e produziu uma Ode a Carlos Drummond de Andrade - que Almanaque publica nesta edição. Foi a forma que, como poeta, encontrou para dizer da dor e tristeza que sentiu na noite de segunda-feira, ao saber da morte do Poeta Maior do Brasil. João Manuel Simões, 19 livros publicados e "mais 4 ou 5 na gaveta, na fila para edição", tem muitas razões de orgulho de sua obra. Mas nada supera as cartas e bilhetes recebidos ao longo destes anos, de Drummond. Há menos de um mês, embora já gravemente doente, Drummond lhe escreveu agradecendo o recebimento de seu último livro, "Odes, Elegias e Poemas", no qual comentando as poesias que Simões criou inspiradas em quadros famosos, na parte final do livro ("A Música do Arco-Íris"), disse: - "Também eu, autor de alguma coisa poética sobre pintores, fiquei com inveja de sua magnífica realização..." Para Simões, ao ler as palavras de Drummond, a emoção foi grande. - "Elas valem mais do que o mais longo ensaio crítico elogioso". xxx João Manuel Simões nunca conheceu pessoalmente Carlos Drummond de Andrade. Nem mesmo por telefone, chegaram a falar. Em compensação, ao longo dos anos em que, de Curitiba, Simões lhe enviava seus livros e escritos, do Rio, Drummond respondia com cartas atenciosas, algumas longas, outras curtíssimas - mas sempre repletas de palavras ternas, de estímulo e mesmo admiração. Uma correspondência afetiva que Simões pensa, "um dia destes", editar. Entre tantas características admiráveis de Drummond, esteve sempre a de ser um escritor extremamente atencioso para todos com que o procuravam. Se era tímido e retraído, de raros contatos pessoais, dedicava várias horas do dia para escrever aos amigos, escritores e, especialmente, aos jovens poetas do Brasil, que lhe faziam chegar seus livros. Simões não é o único paranaense a possuir cartas de Drummond. Por certo, outros poetas - ou candidatos a... - que lhe fizeram chegar as suas mãos seus livros, receberam também respostas do Poeta Maior. Drummond sempre conseguia encontrar a palavra certa, a frase exata para dar ao autor iniciante um estímulo ou ao menos um carinho, sem comprometer-se em elogios e adjetivos, mas respeitando cada um como pessoa. xxx Frederico Fullgraf, cineasta nascido na Alemanha, infância e juventude em Curitiba e que após 15 anos de vivência no jornalismo em Berlim Ocidental, voltou ao Brasil, iniciou sua carreira de cineasta com o mais belo documentário sobre o final das Sete Quedas, provocado pelo Lago de Itaipu. Imagens maravilhosas capturando a magnitude daquela beleza natural no curta-metragem "Quarup - Adeus Sete Quedas", e que transmitiam toda a emoção de algo grandioso que o homem destruiu. Para o texto do filme, Frederico não teve dúvidas: nada mais preciso do que o poema de Drummond, publicado originalmente no Caderno B do "Jornal do Brasil", antes mesmo das Sete Quedas acabarem. Frederico com seu rigor profissional, procurou Drummond pessoalmente, lhe expôs a idéia de seu filme e obteve autorização para a utilização do poema. O Poeta entendeu a intenção de Frederico, a denúncia que desejava fazer com as imagens, e, generosamente, nem impôs pagamentos de direitos autorais. A correspondência trocada entre Frederico e Drummond a respeito foi devidamente emoldurada e, durante meses, era a principal decoração da Mutirão Produções, em seu escritório na Rua 24 de Maio, 280, antes de Fullgraf transferir-se para o Rio de Janeiro. xxx Pessoalmente, perdi a oportunidade de falar com Drummond, ao menos por telefone, uma vez. Há 16 anos, quando o saudoso jornalista Ducastel Nycz gerenciava o setor de relações públicas da TELEPAR, então presidida pelo engenheiro Ivo Arzua Pereira, ali editava uma revista interna, na qual se procurava fugir apenas no noticiário oco de uma house-organ. Para valorizá-la, ocorreu-me publicar uma pequena obra prima de Drummond, o conto "Moça, Flor e Telefone" (que, em 1974, o cineasta Carlos Hugo Christensen, levou a tela em "Enigma para Demônios"), no qual o telefone é um "personagem" vivo da lírica história. Fiz contatos com o advogado de Drummond, responsável pelos seus direitos autorais, e as negociações não prosseguiam. Braulio Prado, na época assessor da TELEPAR, foi mais prático: conseguiu - sei lá como! - o telefone de Drummond e fez a ligação direta com o Poeta para tratar do assunto. Minha admiração pelo autor de "Sentimento do Mundo" era tanta que, na hora, fiquei nervoso e com timidez para falar com Drummond. Braulio, menos emotivo, explicou-lhe o motivo pelo qual desejávamos publicar seu conto, as características da revista e a autorização foi imediata.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/08/1987
Amigo, sabe como posso entrar em contato com a família do Drummond? Pois, quero usar um texto dele para um trabalho de meus alunos de teatro. O espetáculo será gratuito e tem fins acadêmicos, embora em local público. Preciso saber se me liberam o texto, mas não sei como proceder, nem a quem me referir. Abraço, Antonio

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