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Cecília, a grande mestra em História

Com sua experiência de quatro décadas de magistério, 38 dos quais nas cadeiras de história desde os tempos em que a antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (então ainda privada) funcionava junto ao Colégio Santa Maria, a professora Cecília Maria Westphalen caracterizou-se sempre por uma dedicação ao estudo, a pesquisa que a faz ter condições de dizer o que pensa, agrade ou não a eventuais donos do poder. Do alto da dignidade de uma vida dedicada a transmitir conhecimentos a milhares de alunos que com ela tiveram a felicidade de muito aprender a professora Cecília se mostra hoje decepcionada com a situação da septuagenária Universidade Federal, pela qual formou-se em Direito (1952) e História e Geografia, neste segundo no dia 8 de dezembro de 1950, "dois dias após a federalização da Universidade", recorda. Lapiana, filha de um farmacêutico que sofreu perseguições políticas após a revolução de 1930, tendo vivido parte de sua infância em Irati, Cecília faria a Escola Normal (depois Instituto de Educação) em Curitiba, "onde cheguei até a fazer teatro, com uma peça polêmica para a época - "O Diabo Enlouqueceu", de Magalhães Jr.," A experiência ficou nas 8 encenações da peça - "com um grande público para a época" - pois o estudo sempre a fascinou. Pelo seu temperamento inquieto, ao contrário de suas colegas normalistas, pensava em fazer carreira no Ministério Público, o que a fez estudar Direito. Só que ao invés da Promotoria, seria a História que a teria como grande mestra e pesquisadora. Professora do ensino primário ainda quando terminava o curso de normalista - em 31 de outubro de 1946 dava sua primeira aula no então recém-inaugurado Grupo Escolar República do Uruguay - Cecília em 1951 faria simultaneamente dois cursos para o magistério - de cadeiras de História Geral no Colégio Estadual e Estudos Paranaenses no Instituto de Educação, em 1951 aprovada em primeiro lugar em ambos. "Antes, havia sido nomeada pela generosidade do governador Mooyses Lupion, mas quando Bento Munhoz da Rocha Neto assumiu, junto com várias colegas, fomos ao Palácio São Francisco, pedir que aquelas nomeações fossem anuladas e se realizassem concursos públicos", recorda - demonstrando que sua carreira sempre se fez com concursos, sem nunca ter aceito qualquer privilégio. Convidada pelo professor Arion Niepce da Silva, catedrático da História Moderna e Contemporânea, como sua assistente em 1951, Cecília viria, "por uma circunstância apenas técnica", a substituir o professor Nilo Brandão na mesma cadeira, após a morte de Niepce. Brandão, excelente mestre, não tinha títulos para ocupar a cátedra e Cecília já com formação em História o substituiu. Começou a preparar-se para o concurso, que só seria realizado seis anos depois - retardado por injunções da política acadêmica, "uma vez que um professor de direito pretendia a mesma cadeira". Só quando aquele mestre (José Nicolau dos Santos, que viria até a ser reitor nos anos 60) foi nomeado para a Faculdade de Direito, o concurso foi aberto e Cecília se tornou a segunda mulher a ocupar uma cátedra d a Universidade do Paraná (a primeira havia sido a médica Maria Falce de Macedo). Posteriormente, só mais duas professoras chegaram, por concurso, a cátedra: Zélia Milleo Pavão, na área de estatística e Clotilde Branco Germiniane, em Microbiologia. xxx Inúmeros cursos e estágios no exterior, participação em seminários, e congressos (hoje se recusa a comparecer às reuniões da SBPC, que classifica de "circos"), deram a Cecília uma projeção internacional e ajudaram a fazer com que o curso de pós-graduação em História da UFP - o segundo criado no Brasil - se consolidasse como cento de excelência, e se mantenha, até hoje, como um dos (raros) pontos altos da UFP. Perseguições, vetos ao seu nome quando foi a primeira da lista para ser a vice-Reitora há alguns anos, a frustação de ver seus planos para instituir uma editora universitária, a decepção de sentir, cada vez mais, a queda do nível de ensino e problemas se agravando na Universidade, não lhe retiram sua visão de cientista social, mestra que não se furta em dizer o que pensa, em dar sua palavra sobre assuntos do momento - como, em mais de três horas ,fez ao gravar um dos mais profundos (e didáticos) depoimentos para a série "Memória Histórica Bamerindus".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/07/1988

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