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Aramis

Chanchada chega ao Ritz sem promoção

Domingo à noite, na última sessão da Mostra Banco Nacional de Cinema, o professor, pintor e, sobretudo, cinéfilo João Osório Brzezinski, 51 anos, teve a surpresa de saber, através de um amigo que havia lido no Almanaque d'O Estado do Paraná, que na segunda-feira, 21, iniciaria no mesmo cine Ritz outra mostra - "Atlântida - 50 anos de Cinema". Embora tivesse acompanhado toda a Mostra Internacional patrocinada pelo Banco Nacional e organizada exclusivamente pelo Cine Clube Estação Botafogo, João Osório, como centenas de outros espectadores, não teve a menor informação de que, em seguida, iniciaria a retrospectiva de cinco longas produzidos entre 1952/59 e mais a montagem "Assim Era a Atlântida", com momentos da chanchada cinematográfica que hoje começa a ser valorizada - ao contrário do que ocorria na época em que aqui era lançada no circuito comercial. Apesar do cine Ritz ter ficado coberto de cartazes dos filmes inéditos que vieram para a mostra internacional, não houve preocupação dos coordenadores (sic) de cinema da Fucucu - aliás, admitidos há sete meses, de forma irregular (sem prestarem concursos e recebendo salários muito mais elevados do que os servidores de carreira da própria Fundação) em providenciar a menor informação no próprio cinema em torno da próxima atração. Um simples cartaz e panfletos com a programação e algumas informações sobre o que representou a Atlântida no cinema brasileiro - poderiam motivar uma melhor freqüência a esta retrospectiva, iniciada ontem, nas exibições de "Amei um Bicheiro" (1952, de Jorge Ileli) e que prossegue hoje com "Carnaval Atlântida", também de 1952, de José Carlos Burle (1910-1984). A retrospectiva da Atlântida foi realizada no Rio de Janeiro e São Paulo pela primeira vez há dois anos, quando o jornalista Sérgio Augusto publicou o seu básico "Este Mundo é um Pandeiro" (Companhia das Letras), no qual fez uma reavaliação das chanchadas. Agora, motivado pelo cinqüentenário da produtora carioca que em 21 anos (1941/62) de atividade produziu 66 títulos, foi organizada (no Rio de Janeiro) uma pequena amostra, com apenas seis filmes - além dos já mencionados "Amei um Bicheiro" e "Carnaval Atlântida", três longas dirigidos por Carlos Manga: "Nem Sansão, Nem Dalila" (53), "Matar ou Correr" (59) e "O Homem do Sputnik" (59) (*) - além de "Assim Era a Atlântida", que o astuto Manga montou em 1974, "inspirado" pelo sucesso que "Assim era Hollywood" fazia na época. José Carlos Aranha Manga, 63 anos, hoje dedicando-se a televisão e publicidade - e que há alguns anos, residiu em Curitiba, aqui fazendo comerciais para o Sir - poderia ter sido convidado para vir falar sobre a Atlântida & a chanchada, já que o expert Sérgio Augusto considera sua paródia ao clássico milleneano "Nem Sansão, Nem Dalila", como um exemplo de cinema político do segundo governo Vargas. Infelizmente, nem Manga foi convidado - e nem existiu por parte dos incompetentes "coordenadores" (sic) da área de cinema da Fucucu preocupação em dar a esta mostra da Atlântida qualquer verniz informativo afora a simples projeção dos filmes. Resultado: com reduzida divulgação e considerando a rejeição do público pelo cinema brasileiro (vide os recentes fracassos de "Césio 137" e "Dias Melhores Virão") é natural que a freqüência às sessões do Ritz seja reduzida. xxx Em compensação, o sempre astuto Valêncio Xavier cerca de cuidados especiais - concurso de críticas, palestras introdutórias etc. - a projeção de tapes, sem legendas, com cinco filmes que Luís Buñuel (1900-1983) realizou sua chamada fase mexicana - e que iniciando hoje com "Don Quintin, El Amargado" (1951) estarão sendo exibidos na incômoda e desconfortável sala Arnaldo Fontana da Cinemateca do Museu Guido Viaro. Amanhã, "El" (1952) e na quinta-feira a versão mexicana de "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Bronté - "Abismos de Passion", realizada por Buñuel em 1953, 14 anos após a célebre adaptação de William Wyller. Nota (*) Sátira ao feito espacial dos russos, em 1958, "O Homem do Sputnik", com Oscarito - e lançando Norma Benguel, então uma apetitosa vedette (imitando Brigite Bardot), foi o filme que estava em exibição no Luz, em abril de 1962, quando aquele cinema - inaugurado em dezembro de 1939 - foi destruído durante um incêndio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
22/10/1991

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