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Chico na comissão que trará filmes de arte

Francisco Alves dos Santos, coordenador da área de cinema da Fundação Cultural, integra a comissão especial de seis membros que opina sobre os filmes de arte que merecem os benefícios da Resolução nº 128 do Concine, liberando-os da copiagem obrigatória no Brasil. Voltada há um ano e um mês (depois de dois anos de negociações), a Resolução permite a importação de até três cópias por título e foi saudada com entusiasmo pelos cinéfilos: afinal, assim filmes de arte, famosos, mas de pouquíssimas possibilidades comerciais, podem chegar até os circuitos comerciais. Em sua primeira reunião, Chico e seus cinco colegas de comissão - Adhemar de Oliveira, Alberto Shatovsky, Miguel Pereira e Sérgio Augusto (críticos cariocas) e mais Edemar Pereira, do "Jornal da Tarde" (São Paulo), liberaram filmes produzidos há tempos que estavam com suas exibições dependendo desta decisão. Entre eles, "Ao Redor da Meia Noite" ("Round Midnight"), de Bertrand Tavernier - o melhor filme de jazz já realizado e que valeu ao saxofonista Dexter Gordon a indicação ao Oscar de melhor ator. Exibido comercialmente na Europa e EUA, "Round Midnight" está há meses no escritório da Warner, no Rio de Janeiro, aguardando tratamento especial - o que agora vai acontecer. Outro filme que também chega graças a esta providência: "Dancing With A Stranger", de Mike Newell, com Miranda Richardson (chamada por muitos como a Marilyn Monroe inglesa) e Ruppert Everett, que terá distribuição da Art Filmes. Como candidatos a esta classificação estão "Home Of The Brave", da performática Laurie Anderson - visto em algumas sessões especiais paralelas ao III FestRio (quando Laurie esteve no Rio e São Paulo), além de um revival de clássicos americanos como "Sindicato de Ladrões", de Elia Kazan; "Aconteceu Naquela Noite" e "Do Mundo Nada Se Leva", de Franck Capra; "A Um Passo da Eternidade", de Fred Zinnemann e "A Grande Ilusão" ("All The King's Men"), de Robert Rossen. A aplicação prática desta resolução do Concine beneficiará especialmente os filmes de arte que tem vindo para a Mostra Internacional de Cinema, organizada pelo crítico Leon Cakoff, em São Paulo e o Festival Internacional do Cinema, Televisão e Vídeo do Rio de Janeiro. São dezenas de obras interessantíssimas, que chegam em cópias originais, são projetadas uma ou duas vezes e devolvidas sem lançamento comercial. A explicação é simples: para cumprir a obrigatoriedade de copiagem no Brasil e pagamento de todas as taxas, o distribuidor teria que investir somas elevadíssimas - num investimento de alto risco para filmes destinados a circuitos especiais. Por exemplo, no I FestRio (novembro/84), foram projetados em versões originais "O Mensageiro do Diabo" ("The Night Of The Hunter"), 66, de Charles Laughton e "Um Rosto na Multidão" ("A Face In The Crowd", 55, de Elia Kazan). O primeiro chegou a ser, posteriormente, legendado, mas exibido apenas em cinemas de arte do Rio e São Paulo (em Curitiba, houve apenas uma sessão, patrocinada por esta coluna). Já "Um Rosto na Multidão", um filme fascinante, denunciando os risco da televisão, com roteiro de Budd Schulberg, ficou apenas nas duas projeções que teve no Bruni-Ipanema. xxx No FestRio-86, entre outros cult-movies que ficaram, até agora, apenas nas projeções do Bruni - e que poderão ser beneficiados agora com a resolução do Concine - está a versão que o alemão Volker Schlöndorff fez no ano passado da peça "A Morte do Caixeiro Viajante", de Arthur Miller - com Dustin Hoffman, Al Pacino em notável atuação e "Down By Law", o novo filme de Jim Jamurschi, ultravalorizado por uma parte da crítica - e que lotou todas as sessões em que foi apresentado, no Rio de Janeiro: "Sid e Nancy", filme sobre o punk Sid Vicious - grande êxito na XV Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo - e que devido a briga de Cakoff com Ney Sroulevich, do FestRio, acabou chegando só no final do FestRio, apesar de seu apelo jovem, ainda não foi adquirido por nenhum distribuidor. Claro que destes filmes já existem cópias piratas, em vídeo. FOTO LEGENDA - Dustin Hoffman em "A Morte do Caixeiro Viajante", versão de 1986, direção de Schlöndorff: talvez agora a cópia seja exibida nos circuitos de arte.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
01/05/1987

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