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Aramis

Cinema

Na respeitável filmografia de Robert Aldrich, o tema de duelo de (idéias) titãs sempre esteve presente; há 20 anos, em seu primeiro sucesso de bilheteria, Benjamin Trane (Gary Cooper) e Joe Erin (Burt Lancaster) degladiavam-se ao longo de 94 minutos, numa aventuresca viagem entre a revolução mexicana, até chegar ao clássico duelo final um dos grandes momentos do western nos anos 50. Em << O Imperador do Norte >> (exibido até sexta-feira, no Vitória), o vagabundo A-n.o 1 (Lee Marvin - foto) enfrenta o desafio de Shack (Ernest Borgnine), o sádico chefe-de-trem que na primavera de 1933, quando a depressão atingia o ponto mais extremonos Estados Unidos, se orgulha de não permitir que ninguém viaja sem pagar em sua composição. E do encontro de dois homens violentos e decisivos em ações, o roteirista Christopher Knopf desenvolveu um screenplay que chega à quase teatralidade, apesar da movimentação intensa em um trem que adquire vida, que se integra como personagem - a composição n. 19 - sua resfolegante disparada, palco de teimosia de deserdados da América - A-N. o 1e seu companheiro Cigaret (Keitch Carradine, em esplendida criação) - num desafio de razões econômicas - afinal os colegas que odeiam Shak apostam muitos (dos raros) dolares em sua derrota. << Empeior of the North >> é um desafio também a Aldrich, cineasta que sempre trabalhou com grandes elencos - normalmente em superproduções - em concentrar toda ação sobre os ombros, basicamente, de dois experimentados atores - Marvin e Bognine - e manter a tensão, o << timing >> ao longo de 120 minutos, com poucas concessões as exigências primárias do publico sequioso de << emoções fortes >>. Exceto a corrida inicial da locomotiva para fugir do choque com o carro correio, a ação chega, como dissemos, quase a teatralidade- mas com um extraordinário vigor num aprofundamente psicologo da personalidade dos homens que se enfrentam num surdo desafio: A-N.o 1, caladão, experiente em seus caminhos desesperados, frente a frente com o sádico Shack, que armado de martelo e corrente, orgulha-se de destruir os humildes desempregados que buscam novos caminhos ao viajarem em sua composição. Há 18 anos, em << Morte Sem Glória >> (Attack, 1956) - que ao lado de << Gloria Feita de Sangue >> (Paths of the Glory, 1957 de Stanley Kubrick) e << Os Que Sabem Morrer >> (Men in war, 1957, de Anthony Mann) - constitui a trilogia mais corajosa do cinema anti-beclista nas ultimas duas décadas - Aldrich já explorava ao máximo a decisão inalterável, sem piedade ou concessões, no duelo entre dois homens: o sargento corajoso (Jack Palance, em sua melhor atuação) em face ao oficial covarde (Eddie Albert), responsável pela morte de um batalhão. Em << O Imperador do Norte >> - poético e aparentemente inexplicável titulo - o duelo final de A-N.o 1 com Shack no último vagão da composição n.o 19, chega a lembrar uma luta de gladiadores, no Coliseu: lanças, correntes e manchados numa batalha sangrenta e feroz - tão violento quanto a decisão inabalável de cada um - homensoprimidos em seus horizontes, tristes e deserdados, fazendo de uma estúpida decisão - talvez até tomada em decorrência e outros interesses (o desafio dos colegas, o dinheiro em jogo), motivo para um final trágico e melancólico. Sem duvida << O Imperador do Norte >> é um filme que no mínimo merece a adjetivação de vigoroso e coerente com a obra de Aldrich.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
03/03/1974

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