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Aramis

Cinema 24 horas para quem desejar os filmes de arte

Responda rápido: qual o espectador que, após uma jornada de 8 horas de trabalho, estaria disposto a assistir um filme de arte, com legendas em inglês ou francês, numa sessão da meia noite? Pois é? Mesmo com todo entusiasmo que tem pelo melhor cinema, a jornalista Malu Maranhão, uma das poucas pessoas que acompanhou toda a primeira fase do rastolho da XIIi Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, trazida a Curitiba, queixava-se: - "É pena, mas não dá para encarar as sessões de meia noite. A não ser para quem não trabalhe". Como Malu Maranhão, muitas outras pessoas ficaram sem entender porque misteriosas razões a Fucucu decidiu sacrificar quatro filmes programados posteriormente a listagem original sair, em sessões à meia noite. Uma desculpa seria que desta forma não seriam prejudicados os espectadores que se dispuseram, a partir de ontem, a se deslocar no Instituto Goethe (Rua Reinaldino Schaffenberg de Quadros, 33), no qual, num aparelho de vídeo, acontece outro massacre visual: exibição compacta do "Dekalog", de Krzstof Kieslowski. Ontem foram exibidos os quatro primeiros episódios, num total de quase quatro horas. Hoje, mais quatro e amanhã, sábado, os episódios 9 e 10. Seria bem mais lógico ter exigido que o crítico Leon Cakoff permitisse que os filmes fossem exibidos em horários alternados, nas outras salas - como o Luz e o Groff, que mais uma vez caíram no esquema de reprises (com "O Grande Mentecapto" e "O Importante é Amar", respectivamente). A Mostra não deixou, entretanto, de ter seus méritos. O maior deles, sem dúvida, foi a possibilidade de se conhecer na tela ampla os dois filmes de Kryzstof Kierlowski, "A Short Film About Killing" ("Não Matarás"), que em novembro/88, já havia valido a maior premiação do chamado "Oscar Europeu" e que, unanimemente, foi incluído pela crítica internacional como um dos melhores filmes da última temporada. Outro filme de Kielowski foi "Não Amarás", profundo, poético - e que poderá ser visto ainda hoje em duas projeções, mas em vídeo, no Goethe Institut. Serão projetados ainda os episódios 6 ("Não Furtarás") e 8 ("Não Levantar Falso Testemunho") de "Dekalog", que se encerra manhã (atenção, sessões às 14 e 16h), com "Não Desejar a Mulher do Próximo" e "Não Cobiçar as Coisas Alheias". Os filmes da meia noite Hoje, sexta-feira, às 24h, estará sendo exibido no Ritz um dos filmes bem recebidos pela crítica em São Paulo: "O Trovador Kerib", URSS, de Sergei Paradjanov e David Abachidzé, adaptado dos versos do poeta Mikahil Iurievitch Lermontov (Moscou, 1814-Piatgorski, Cáucaso, 1841), que teve uma vida difícil, pois foi militar, participou de revoluções, passou anos no exílio e deixou um romance famoso, "Gerof Násego Vrément" ("Um Herói de Nossos Dias", 1829/40). O diretor georgiano Serguei Paradjanov realizou um filme, livremente inspirado em Lermontov, com uma história consagrada ao amar e a amizade, inspirada nas lendas populares do Oriente e decorada com os seculares e sempre impressionantes motivos da arte popular caucasiana. Uma história com toques de contos de fada - a paixão do trovador Achik-Kerib, um pobre executante de saaza (balalaica turca) em suas andanças para conquistar a bem amada, filha de um rico comerciante turco. Um filme no mínimo original e que mereceria ter uma programação em horário regular. Amanhã, sábado, o filme da meia noite será "Brincadeira de Mau Gosto" (Skverny Anekdot), outra produção soviética, direção de Alexandre Alow (Chakov, Ucrânia, 1923) e Wladimir Naumow (Leningrado, 1927). Outras opções Excluindo-se os vídeos de Kieslowski e os filmes das sessões corujão, que encerram a mostra internacional - ambos em horários que exigem grande disposição do (pequeno) público interessado, para quem busca o cinema como entretenimento sem maiores exigências há poucas opções. Dentro da inteligente política de marketing que Ney Sroulevich, diretor de comercialização da Embrafilme, introduziu na empresa, a estréia de "1º de abril - Brasil", de Maria Letícia, aconteceu ontem (Ritz, 5 sessões). Tendo obtido duas premiações em Gramado - atriz (Rosa Maria Murtinho) e montagem (Marília Alvim) e o prêmio de melhor diretora no I Festival de Cinema de Curitiba, em setembro, esta comédia com toques políticos, baseada na peça "Vejo um vulto na janela, me acudam que sou donzela" de Leilah Assunpção, utiliza cenas de cinejornais da época.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
17/11/1989

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