Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de janeiro de 1974
O sucesso de "Scorpio" (cine Vitória), que lhe garantiu uma segunda semana de exibição e a estréia de "Jogo Sujo" (cine Avenida) permite ao espectador mais atento sentir o vigor de Michael Winner, cineasta inglês que, em menos de 8 anos de carreira, já tem uma obra intensa em diferentes gêneros: do sensível "Depois que tudo Acabou?" - talvez o melhor filme já realizado sobre o mundo da publicidade - Winner não parou mais, realizando westerns, policiais e até fitas de terror, com a frustrada "seqüência" de "Os Inocentes" - o clássico de Jack Clayton, do conto "A Outra Volta do Parafuso" de Henry James - no melancólico "Os Que Chegam com a Noite", que nem a interpretação de Marlon Brando (foto) conseguiu salvar. Mas no ritmo intenso com que vem dirigindo, "Scorpio" não deixa de ser um filme interessante: pretensamente desmistificador do sujo mundo da espionagem - glamorizada no início da década passada pela ôca série 007 - a história de Cross (Burt Lancaster, em marcante atuação), condenado a morrer pela CIA - a quem serviu durante anos - por ser um homem que sabe demais, é narrada em planos nervosos, uma linguagem atraente e que faz o espectador permanecer preso a narração, durante os 130 minutos de projeção. Sem talvez a mesma inteligência do inesquecível "O Espião Que Saiu do Frio", do best-seller de John Le Carré, filmado há 9 anos por Martin Ritt, este "Scorpio" tem o mérito de mostrar às platéias condicionadas pela inflação de filmes-livros promocionais do mundo da espionagem, a face suja e desumana dos organismos que, na busca da aparente "segurança internacional", reduzem seres humanos a meras condições de máquinas ou animais, prontos a serem destruídos pela misteriosa vontade de alguns poucos. E quem dá a eles tal direito?
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