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Aramis

Cinema & Poder

O astuto Zito Alves, gerente do Cine Lido e um dos homens que melhor conhece a cinematografia paranaense, fez um levantamento sobre a relação exibição-política, após as eleições de 15 de novembro. Por exemplo, três exibidores foram eleitos prefeitos em suas cidades: Victor Buck, do Cine Odeon, em Porto União; Carlos Hugo Von Grafen, do Cine Luz em Telemaco Borba e Vicente Muck Júnior, do Cine Chopinzinho, no Município de Chopinzinho. xxx Em compensação, dois exibidores concorreram as prefeituras e não conseguiram se eleger: Getúlio Ferrari, do Cine Plaza, em Campo Mourão e Octacílio Mion, dos Cines Delfim e Avenida, em Cascavel. Em São José dos Pinhais, a vitória do MDB, na Prefeitura, vai estimular o veterano Daniel Preocoma a reabrir o Cine Ideal, que apesar de instalado em nova casa e com bom equipamento, há anos estava fechado. É que Preocoma, quando vereador, teve divergências com o antigo prefeito e em represaria recusou-se a continuar a pagar os impostos. E assim a cidade ficou sem cinema. Também em Francisco Beltrão, a vitória arenista incentivou o Sr. Luís Grassi (que é vereador em Coronel Vivida onde é proprietário do Cine Guaiba) a construir um segundo cinema naquela cidade. xxx Confirmada a previsão: "Andrey Rublev", o longo filme soviético sobre a vida de um famoso pintor russo do século XIV, não resistiu a mais de quatro exibições no Cinema I. Hoje, ali estréia, "Os 7 irmãos Cervi", de Giani Puccini, com Jean-Marie Volonté, Liza Gastone e Carla Gravina. "Andrey Rublev" - é um filme pesado, difícil até para o grande público desacostumado com a linguagem do cinema soviético. Em preto-e-branco, tem apenas a seqüência final em cores, justamente a que mostra os belíssimos trabalhos do artista. Toda a narrativa é feita em blocos isolados, contando a sua vida, seus tormentos, suas posições. Exemplo do filme que exigiria um trabalho preliminar, atraindo um público interessado (pintores, estudantes de belas artes, etc.), e que, lançado inesperadamente, como ocorreu, teria mesmo que fracassar. E, possivelmente, nunca mais será reprisado em Curitiba, tão insignificante foi a renda obtida. xxx "Bisturi, A Mafia Branca" de Luigi Zampa, um dos mais corajosos filmes de denúncia do comercialismo da medicina continua em exibição no Arlequim. Esprimido entre dois outros filmes (é projetado às 15 e 19:30 horas), esse filme justifica que o espectador interessado enfrente o mau cheiro do cinema (hoje a pior casa de exibição da cidade), pois é uma fita que vem sendo perseguida pelas associações médicas, tendo sido retirada de cartaz no São João, há 5 anos, quando ali teve seu lançamento normal. O mesmo repetiu-se no ano passado em Belo Horizonte. Gabriele Ferzetti, Enrico Maria Salermo, Senta Berger e o diretor (aqui ator) Luciano Salce encabeçam o elenco, com interpretações marcantes. A música é de Riz Ortolani e a fotografia de Giuseppe Ruzzolicini. Um filme-verdade, sincero e corajoso, que mereceria ser exibido normalmente, para que todos o vissem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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05/02/1977

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