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Aramis

Clássicos do Ano (II)

Um álbum com o melhor intérprete de Bach deste século, Glenn Gould, executando as "Toccatas" do mestre de Leipzig, três sinfonias de Chopin, Tchaikovsky e Beethoven, o melhor grupo de câmara da Europa interpretando peças de Vivaldi, Schubert, Dvorak e Locatelli, mais as valsas vienses com uma grande soprano, uma ópera de Puccini e, finalmente, um enternecedor álbum de música antiga com o The Waverly Consort. Realmente a CBS não poderia encerrar melhor a sua produção de música erudita em 1981 do que com este suplemento para a primavera-verão 81/82. Em discos com excelente acabamento, textos de contracapa explicativos e, sobretudo, reunindo o que existe de melhor, a CBS oferece aos que colecionam a boa música clássica lançamentos primorosos, indispensáveis. De princípio, em dois discos - na Sinfonia "Manfredo" de Tchaikovsky, com a Sinfônica de Londres e com a Sinfonia nº 6, a Pastoral, Beethoven, com a English Chamber Orchestra, temos oportunidades de conhecer melhor o vigor de Michael Tilson Thomas, 37 anos, considerado a nova liderança musical dos EUA e hoje o maestro em maior evidência também na Europa. Apesar de sua juventude , Tilson Thomas já granjeou o respeito e admiração das grandes orquestras, e a prova é que [à] frente da mais antiga de Londres, a Sinfônica fundada há 75 anos, interpreta uma das mais difíceis peças de Tchaikovsky. Nascido em Los Angeles, Califórnia, em dezembro/44, Thomas foi precoce em vários sentidos - apesar de a música ter sido sempre o foco central de sua vida. Aos 12 anos já dava o seu primeiro recital de piano e em 1962 começou a estudar regência na Universidade da Carolina do Sul. Em 1968 já tinha o grau de Master, uma boa experiência como maestro assistente e o prêmio Alunni, atribuído ao mais brilhante estudante da turma. Aos 19 anos era nomeado diretor musical da Young Musicians Foudation Debut Orchestra. Em 1966, convidado para ir à Bayreuth estudar as óperas de Wagner, em curso ministrado pela neta do compositor, Friedeling Wagner, cinco dias após sua chegada era convidado para assistir Pierro Boulez na preparação do "Parsifal". Já como assistente de Boulez esteve no festival de Ojaí nos dois verões seguintes e foi nomeado seu diretor, cargo que ocupou até 1976. Com a premiação com o troféu Koussevitzky, em 1968, foi maestro convidado da Filarmônica de Boston, onde, ouvido por Willian Steimberg, então diretor musical da Sinfônica de Boston, tornou-se seu assistente. A sua carreira prosseguiu sempre de forma brilhante: ao final de sua primeira temporada na Sinfônica de Boston havia regido 37 concertos e nos dois últimos anos, como principal regente convidado fez nada menos que quatro estréias mundiais, três estréias americanas, doze estréias em Boston e 21 apresentações com a orquestra. Liderou a orquestra num tour europeu (1971/72) e entre 1972/74 apareceu como maestro convidado em Londres Telaviv, Roma, Milão, Viena, Berlim, Helsinque, Edimburgo, Tóquio, e com as principais orquestras norte-americanas de Nova Iorque a San Francisco. Paralelamente por 9 anos foi, diretor musical da Filarmônica de Búfalo, cargo que renunciou em meio de 1979, para se dedicar a uma crescente agenda de convites e sessões de gravações com orquestras européias como a Filarmônica de Berlim, a Congertgebown, de Masterdam, a Sinfônica a BBC, a Filarmônica de Los Angeles, Sinfônica de Pittsburg e San Francisco e a Sinfônica e de Câmera de Londres, com as quais fez as gravações que agora o trazem, com maior destaque, em nosso mercado. Se Michal Tilson Thomas justifica espaço maior para sua biografia, Zubin Menta (Bombain, 1936), dispensa apresentações. Desde os 7 anos na música, estudando piano e violino, em 1958 estreava como regente em Viena e de lá para cá, não parou mais, sendo hoje, na opinião dos mais rigorosos críticos, o segundo maior nome - abaixo apenas do lendário Karayan. Desde agosto de 1978 é o maestro da Filarmônica de Nova Iorque, onde começou regendo a orquestra em um concerto ao ar livre, no Central Park, diante de uma platéia de aproximadamente 140 mil pessoas. Depois conduziu a orquestra em uma viagem à Argentina e República Dominicana e na qual regeu a orquestra em 3 concertos ao vivo, na TV, tendo como solistas Rudolf Serkin, Vladimir Horowitz e Itzhak Perlman. Já há dezenas de gravações da Filarmônica de Nova Iorque sob regência de Menta, ao qual se acrescenta agora uma em que é apresentado o Concerto nº 1 em Mi Menor, opus 11, de Frederic Chopin. O solista é Murray Perahia, nascido na Bronx, NI, a 19/4/1947, de uma família de judeus sefardistas (os Sefardistas viveram na Espanha até 1492, quando foram exilados e emigraram para outros países). Hoje radicado em Londres, Perahia posicionou-se há 9 anos como um dos mais importantes pianistas da atualidade e sua arte pode ser observada neste belo disco. Para o crítico do "Stereo Review", o Caecilia Concort é atualmente o mais brilhante e fiel grupo de câmara da Europa, com uma notável afinação. Sua arte pode ser apreciada num dos lps deste suplemento da CBS, onde executa peças de Pietro Locatelli (1695-1764), Antonio Vivaldi (1678-1741), Franz Schuber (1797-1828) e Antonio Dvorak (1840-1904). A renascença, em todo o seu esplendor e criatividade, revive um dos mais belos períodos das cortes inglesas e está presente no lp com "Welcome Sweet Pleasure", com othe Waverly Consort, para nós, o mais significativo álbum deste pacote editado pela CBS. Sob a regência de Michael Jafee, o Waverly Consort interpreta magníficos exemplos da música da Idade de Ouro da Inglaterra, que embora tenha sido curta - cobriu os 40 anos que vão da mote de Tallis (1585) a de seu aluno Byrd (1623), foi rica, pois englobou as carreiras de Thomas Weelkes (1575-1623), Thomas Tomkins (1572-1625), Anthony Holborne (1602-?), John Dowland (1562-1630), William Byrd (1543-1623), todos representados neste álbum de rara beleza, onde também estão peças de autores anônimos ou tradicionais. Quem aprecia a música antiga - que tem, em Curitiba, a favor de sua divulgação o excelente trabalho do maestro Roberto de Regina e da cravista Ingrid Muller Seraphim, da Camerata Antiqua, por certo se emocionará com este álbum. Afinal, o Wavrly Consort recria, com seus instrumentos originais, exemplos suares do som que foi o verdadeiro Renascimento da Inglaterra: o período que viu o renascer dos valores humanísticos e o descobrimento da infinita variedade do gênero humano. Foi a época também de Spencer, Bacon, Shakespeare e dos tradutores do rei Jaime - o Bíblico, o homem que formou o idioma inglês, tal como hoje o conhecemos. Assim, "Welcome Seet Pleasure" é um lp magnífico, documental e suave - entre os mais significativos já editados no Brasil. As valsas austríacas ressurgem com uma nova roupagem em "E Viena Dança", onde se somou a Orquestra Sinfônica Columbia, sob regência do maestro André Kostalentz, a voz perfeita da soprano Carole Farley. Cantora lírica que tem sido elogiada nos mais difíceis papéis de óperas. Carole interpreta valsas de Lehar (de "A Viúva Alegre", Giuditta" e "O Mundo é Belo", "O Conde de Luxemburgo"), Kalma (de "A Condessa Maritza"), Sieczynski (de "Wien, Wien, nur du allein', e naturalmente, J. Strauss ("O Danúbio Azul", "Czardas", "Trisch-Trastch"). Maestro dos mais competentes, Kostaletz é também hábil e perceptivo na avaliação do clima de suas platéias e neste álbum sente-se uma outra faceta de seu talento - quase sempre apreciado nos lps de suas orquestras aqui editados pela CBS, apenas do ponto de vista de uma música moderna. Finalmente, aos fãs de ópera, também um agradável lançamento: em edição econômica, um elepê, sem o texto do libreto (de Ferdinando Fontana), mas com excelente qualidade técnica, temos "Ie Villi" de Puccini, nas interpretações de Leo Nucci (barítono), Renato Scotto (soprano), Plácido Domingo (tenor) e Tito Gobbi (narrador).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
29
20/12/1981

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