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Clesius, um garimpeiro nas trilhas das imagens

No domingo, 30, quando soube, pela televisão, da morte do cineasta Sérgio Leone, em Roma, Clesius Marcus Real de Aquino, um paulista que há um mês transferiu-se de armas e bagagens para Curitiba, sentiu como "se perdesse um grande amigo, alguém muito próximo de mim". É que como milhares de outras pessoas, Clesius não só aprendeu a entender melhor as novas propostas dos Westerns a partir de "Por um Punhado de Dólares" (Per un Pugno di Dollari, 1964) - o filme marco do surgimento do chamado western-spaguetti, como foi, na emolduração sonora dos filmes de Leone, que conheceu um dos mais notáveis compositores da história do cinema, Ennio Morricone. E, no Brasil, a sua coleção de trilhas sonoras, que Ennio criou para o cinema - que passa de 200 títulos - só perde para a do santista Carlos Eduardo Rapacini, dono de uma loja de roupas, e cuja paixão pela obra do maestro-compositor italiano já mereceu várias reportagens em publicações nacionais. Se perde para seu amigo Papacini - e o nome já é bastante expressivo - no que diz respeito a obra de Morricone, em termos de Henry Mancini (Cleveland, Ohio, 1924) a sua coleção é imbatível: possui nada menos que 170 elepês com obras do compositor americano, 140 dos quais de trilhas sonoras. Correspondendo-se com o premiado autor de "Moon River", Clesius conseguiu exclusividade - incluindo fitas com trilhas de filmes que não foram editadas em elepês nem nos Estados Unidos, ou versões completas, diversas das que foram aproveitadas nas sound tracks. Certamente um dos cinco maiores colecionadores de trilhas sonoras no Brasil - e entre os primeiros "mancinianos" do mundo - Clesius vive agora em Curitiba, numa escolha que o fez deixar Santos, onde residiu por 17 anos. A opção foi "pela qualidade de vida que Curitiba oferece - ideal para educar meus quatro filhos - e ter maior tranqüilidade para ler e ouvir boa música", explica. Dono de uma loja de aparelhos de som e discos em Santos, transferiu-se há 30 dias para Curitiba e adquiriu a "Raridade" (Rua Visconde do Rio Branco, 1830, fone 226-1046), que já vinha funcionando há algum tempo como um centro de venda de discos usados. Só que ao contrário dos proprietários anteriores, Clesius já fez em poucas semanas um excelente círculo de amigos entre os seus fregueses, graças a sua cultura e, especialmente, simpatia. Assim, espontaneamente, mais do que um endereço comercial, a Raridade se inclui como um ponto cultural, no encontro de pessoas que se entusiasmam pela música do cinema, teatro e literatura. O próprio Clesius, vindo de uma família de intelectuais, devorador de livros desde a infância, estuda a ampliação da loja para uma livraria de características originais. O que mais o entusiasma, entretanto, é a música de cinema. Paulista de Araraquara, 44 anos, aprendeu a amar a usina de sonhos a partir de sua infância e desde os 14 anos coleciona discos com sound tracks. Memória privilegiada, capaz de identificar o autor de qualquer época da música do cinema, ampliando sempre uma bibliografia especializada, Clesius é antes de tudo, um pesquisador de sons e imagens, num trabalho que desenvolvendo autonomamente, o levou a ingressar no ramo de discos & som - e, ao decidir vir para Curitiba, oferecer a cidade um verdadeiro serviço cultural. Mesmo com a era do vídeo e do laser, as preciosidades da música de cinema tem em Clesius de Aquino o grande conhecedor - fazendo de cada um de seus discos um ponto de informação a quem se interessa em saber de como o cinema, a partir de 1927 ("O Canto de Jazz", primeiro filme falado e cantado) evoluiu - e, paralelamente as imagens, trouxe todo um fantástico universo sonoro. LEGENDA FOTO - Clesius de Aquino: a paixão pela música que emoldura imagens cinematográficas. E a maior coleção de trilhas que Mancini fez para o cinema...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/05/1989

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