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Aramis

Clima de tranquilidade num festival sem vedetismos

BRASÍLIA - , de Tizuka Yamazaki (em exibição no Cine Glória I, em Curitiba) fez com que o Cine Brasília - onde estão sendo projetados os filmes concorrentes do XVI Festival de Brasília do Cinema Nacional - tivesse uma superlotação na noite de terça-feira a tal ponto que cineastas, convidados e membros do júri, sem lugares à sua disposição, se retirassem. Cremilda Medina, ex-editora de arte e cultura do jornal (foi substituída há duas semanas por Eduardo Martins), e hoje repórter especial do jornal, ameaçava sair do corpo de jurados. O grande público presente não só na sessão nobre (21 horas), mas também à tarde, confirmou o interesse pelo filme baseado no livro de José Jofilly, ex-deputado paraibano, há mais de dez anos radicado em Londrina, onde preside a Herbitec. A competência profissional de Tizuka - uma das raras mulheres a triunfar como diretora de cinema no Brasil, a interessante da professora Anayde Beiriz e o jornalista João Dantas (que em julho de 1930 assassinou o governador da Paraíba, João Pessoa), mais a polêmica que o filme motivou - com protestos tanto dos parentes de Anayde, como de João Pessoa -, ajudaram a Plus comunicação, agência de publicidade Comunicação, agência de publicidade carioca, a conseguir maiores espaços na promoção deste filme, que em dois meses de exibição obteve rendas suficientes para cobrir sua produção - que ultrapassou os Cr$ 150 milhões. Nosso debate, sobre o filme, realizado na manhã de quarta-feira no Hotel Saint Paul, sede do Festival, o ator Walmor Chagas - que interpretou João Pessoa - confirmou, novamente, seu extraordinário bom humor, com tiras inteligentes e sarcasticas. Desde detálhes da marca da carioca sunga que aparece no corpo de Cláudio Marzo, nas cenas em que é visto nu na tela, até críticas ao de ritmos folclóricos ao longo dos 88 minutos do filme, foram levantados pelos participantes. CLIMA DE FESTIVAL Walmor Chagas, uma das poucas estrelas globais presentes em Brasília desde a noite de segunda-feira, queixava-se em conversas informais com jornalistas, atores e cineastas, do clima extremamente sério do Festival. Apesar da atraente piscina climatizada na cobertura do suntuoso Hotel Saint Paul inaugurado há poucos meses e co-patrocinando o Festival - ninguém se encorajou a mergulhar em suas águas. Chove todas as tardes e assim, os participantes deste XVI Festival de Cinema promovido pela Fundação Cultural e embrafilme, têm preferido as conversas informais nas partes mais aquecidas do hotel. A maciez do debate na terça-feira e a falta de acontecimentos de maior frisson - tão característicos em clima de festivais - têm provocado também críticas nos principais jornais de Brasília, que abrem de duas a três páginas diárias para o evento. Nelson Pantoja, do , escreveu que Enquanto esta dúvida permanece, surgem as mais diferentes teses para justificar o marasmo - uns acham que é falta de sol, outros que o local onde os artistas estão hospedados, o Saint Paul Park Hotel, a começar pelo serviço não ajuda em nada>. Mais adiante diz Pantoja:. Sérgio Bianchi, o cineasta de Ponta Grossa que só soube há três dias que seu primeiro longa-metragem, (que inaugurou o Cine Groff, há dois anos em Curitiba)vai ao Festival de Cinema do Terceiro Mundo, em París, veio de ônibus a Brasília, . Sexta-feira, , curta-metrágem de Bianchi, foi projetado antes de . De Fernando Com Campos, Bianchi, espírito independente e brigão que o diga o ex-secretário da cultura. Luís Roberto Soares - ameaçou se sentir um clima político que prejudique a participação de seu filme - elogiado por quem o assistiu em São Paulo, Rio e Curitiba, e que é forte candidato ao , na categoria. O JÚRI O Júri do XVI Festival de Brasília do cinema Brasileiro, que anunciará no domingo os vencedores, compõe-se de seis personalidades, sendo três indicadas pela Embrafilme e três pela Fundação Cultural do distrito Federal. David Neves, o mais conhecido, é diretor de filmes como e , ambos premiados pelo Festival de Brasília, respectivamente nos anos de 1969 e 1979. Atualmente, prepara um novo filme - . Cristina Aché é atriz de cinema e televisão: atuou em dois filmes do ex-marido Joaquim Pedro de Andrade >Guerra Conjugal>, prêmio do Festival em 1975, e , prêmio máximo em 1981, A jornalista Cremilda Medina é do Jornal . O crítico da cidade Sérgio Habib Bazi atua no caderno A do e é o único crítico da cidade com atuação ininterrupta nos últimos sete anos. José Acioli é fícico e cineasta. Atualmente preside a Associação Brasileira de Documentaristas, Seção DF, e é candidato à reeleição. Paulo Afonso Moura Ferreira é pianista e professor do Departamento de Música da Universidade Nacional de Brasília. Paulo Afonso já esteve várias vezes em Curitiba, apresentando-se em concertos, inclusive também com o , da Universidade de Brasília, que fundou e dirigiu por muitos anos. INDEPENDENTES O Nikkey Palace Hotel, pertencente ao deputado paranaense Antônio Ueno, e que concorreu pelo direito de ser anfitrião das estrelas que participam do Festival, embora tenha sido preterido, encontrou uma forma de participar. Cedeu o << Espaço Nikkey de Eventos >> para a I Mostra Nikkey de Cinema Independente, de sexta-feira a domingo e que consta de 25 filmes reunidos pelo crítico paulista Abrahan Bergman, da TV-Cultura. Reunidos em local relativamente distante do Hotel Saint Paul, representantes de associações de documentaristas de vários Estados discutem questões fundamentais que interessam ao setor: a criação do Centrocine (Centro Modelo Cinema) e o mercado para o curta-metragem. Roberto Parreira, presidente fa Embrafilme., aguardado para a abertura do Festival, só pode vir na quarta-feira, mas desde segunda-feira aqui se encontra o seu chefe de gabinete Heitor Salles, ex-diretor da Rádio Ministério da Educação e Cultura. E reunião dos documentaristas é importante, pois a última vez que o conselho da entidade se reuniu foi há dois anos também no Festival de Brasília. Naquele ano, os documentaristas tiveram o apoio decisivo de Aloysio Magalhães, então secretário de Cultura do MEC, para a viabilização das reuniões. O resultado concreto daquele encontro foi a edição do livro << Em Prol do Curta-Metragem >>, num volume de 74 páginas, agora à venda por Cr$ 300.00, no estande de livros de cinema, que a Casa do Livro de Brasília montou na cobertura do Hotel St. Paul, Neste estande, aliás, estão mais de 50 diferentes títulos de livros editados pelas editoras Paz e Terra, Global. Summus, Nobel, Loyola, Record, Perspectiva, Brasiliense, Francisco Alves, Nova Fronteira, entre outras, que passam a acreditar, finalmente, na existência de um público interessado na bibliografia cinematográfica. Não apenas livros sobre cinema, brasileiro, mas também biografias de atrizes como Bette Davis, Elizabeth Taylor, Jane Fonfa e Marlene Dietrich, recentemente editadas no Brasil pela Francisco Alves e Novo Tempo, estão à venda. PROJETO FILHO PRÓDIGO Terça-feira, à tarde, na mesa redonda que teve como tema << O cinema como objeto cultural >>, enquanto Clara Alvim, da Fundação Pró-Memória, teve uma intervenção bem oficial, limitando-se a colocações já conhecidas, o que provocou protestos do cineasta Carlos Marques, o conservador da cinemateca do MAM, Cosme Alves foi bem mais prático e objetivo em suas colocações. Citou por exemplo as conquistas nos últimos anos, como reconhecimento das cinematecas do MAM e da Fundação Cinemateca Brasileira, de São Paulo. Como as instituições oficiais para a preservação e guarda da memória cinematográfica. Cosme Alves também informou sobre dois importantes projetos vindo resgatar a memória cinematográfica brasileira. A Cinemateca do MAM desenvolveu um projeto com a Fundação Roberto Marinho para, a exemplo do que foi feito com o projeto Memória da Pharmácia Brasileira, motivar todo o Pais no sentido de quem possua velhos negativos, películas ou materiais relacionados ao cinema, cedam este material. Diz Cosme que << foi no Interior de Minas Gerais que encontrou os mais antigos fotogramas localizados no Brasil - de um filme de 1908 >>. Durante 30 anos, este fotograma foi guardado numa galeria por um cidadão que imaginava sia importância e, prudentemente, assim o preservou da destruição. O segundo projeto denominando<< Filho Pródigo >>, é bem mais abrangente e inclui a tentativa de trazer de volta ao Brasil preciosas cópias - negativos quando possível - de filmes aqui rodados há 40 ou 60 anos. Por exemplo << O País das Amazonas >>, que um pioneiro da cinematografia do amazonas, Silvino Santos, rodado como documentário de uma excursão cientifica de 1923, teve uma cópia localizada na cinemateca inglesa, onde foi parar por doação da National Geography Magazine, que não se sabe quando nem como a adquiriu. Mais curió é o caso de filmes sobre o Rio de Janeiro dos anos 20, rodados por Botelho - pioneiro cinegrafista que também fez muitos sobre o Paraná na mesma época - e que foram encontrados numa cinemateca em Oslo. << Como chegou lá, não sabemos, mas o importante é que estes filmes estão agora conosco >>, disse Cosme, acrescentando: - Sabendo que a Revolta da Chibata, a Coluna Prestes e outros importantes acontecimentos da história brasileira foram filmados, mas a questão é saber onde estão - se é que restou algumas cópia destes preciosos documentos de nossa história.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
29/10/1983

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