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Aramis

Colonialismo x Tradicionalismo (até com sangue de galinha)

As colocações que o leitor Pedro Elói Rech faz em sua carta reforçam, portanto, as considerações anteriores do advogado e pesquisador da cultura sulina Arthur Tramujas Neto, que, como nos informa nosso comum amigo, Dante Mendonça, é também um excelente cantor e contador de causos, na melhor tradição gauchesca. O jovem (22 anos) César Setti, produtor de um programa nativista na Rádio Clube Paranaense, nas noites de domingo, vem se empenhando em revitalizar, promocionalmente, o movimento tradicionalista do Paraná. Estimulado pelo sucesso dos festivais de música nativista do Rio Grande do Sul, já colocou a potência (internacional) das ondas da PRB-2 para a transmissão de alguns eventos daquele Estado e, em Curitiba, no terminal do Pinheirinho, há menos de um mês, promoveu uma animada tertúlia, com muitas atrações. Como já registramos, a presença gaúcha tem crescido no Paraná, não só no lado gastronômico / folclórico (churrascarias, costelões, bailões, rodeios, etc.), mas também com fortalecimento musical, através da aceitação que os artistas daquele Estado encontram com suas gravações. Há também compositores, intérpretes e instrumentistas radicados no Paraná, nascidos ou não no Rio Grande do Sul, que assumem a sua identidade e encontram um público fiel. Assim, independente de qualquer paixão ou preferência pessoal, o Nativismo é uma realidade que merece espaço e debate também na imprensa. A questão é múltipla e enseja reflexões. Por exemplo, exatamente em agosto do ano passado, quando em Umuarama, Pedro Elói Rech e outros tradicionalistas fundavam o CTG Querência da Amizade, em Cascavel, no CTG Gaudérios do Oeste, acontecia um fato extremamente grave. O "patrão" Jaime João Argenta cedeu a sede para o grupo Dragões do Heavy Metal (?), ali se apresentar numa "domingueira" e um dos seus integrantes, Fábio Ramos, 17 anos, no maior exemplo de colonialismo cultural - e imitando o que grupos pop ingleses (Iron Maid) faziam já há anos, matou uma galinha no palco e bebeu o seu sangue - numa versão cabocla das apelações de Ozzy Osborne (que chegou, no auge de sua loucura pop, a matar um morcego a dentadas, no palco). O jornal "O Paraná", de Cascavel, denunciou o fato - que aqui comentamos - e o Movimento Tradicionalista Gaúcho chegou inclusive a condenar o CTG Gaudérios do Oeste por desvirtuar suas finalidades ao ceder seu espaço para tal tipo de "espetáculo". Em novembro do ano passado, no seminário Acorde da Música Regional Brasileira (Tramandaí, Rio Grande do Sul), o fato também foi denunciado, numa prova de que até que ponto chega o colonialismo cultural e a influência negativa sobre as novas gerações. Assim, fatos como estes devem ser discutidos quando há uma preocupação pela cultura popular e as manifestações regionais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
42
26/07/1987

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