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Aramis

Com Braga e Herivelto, a noite de cem anos da MPB

Uma rara oportunidade a quem sabe das coisas da MPB: hoje, a partir das 21 horas, dois remanescentes da chamada Época de Ouro estarão no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, marcando o 7o aniversário desta sala de espetáculos: Herivelto Martins e João de Barro. Até ontem ao entardecer, o produtor (e letrista) Heitor Valente, na sede da Acorde - Produções Artísticas, idealizador do espetáculo, passava telex e recebia telefonemas interurbanos, preocupado com o problema de saúde que [levou], inclusive, o grande Braguinha a interromper a temporada que vinha fazendo, no horário das 18,30 horas, no Teatro João Caetano, RJ, no mesmo espetáculo que hoje à noite os curitibanos poderão aplaudir. Mesmo que, eventualmente, não possa cantar suas grandes criações, João de Barro deverá vir para receber uma homenagem especial do governador Ney Braga, que lhe telefonou pessoalmente, há 10 dias, fazendo o convite para este espetáculo único. xxx Tanto João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga, Rio, 29/3/1907), o Braguinha, com Herivelto (de Oliveira) Martins (Vassouras, RJ, 30/1/[1912]), são nomes que se confundem com o que há de melhor na música popular brasileira dos últimos 45 anos. Compositores da ___ fase de ouro, .___ tendo vivido momentos de glória, hoje, septuagenários, se mantém ainda em forma, respeitados e admirados por quem sabe atender a importância dos grandes nomes. Foi das mais felizes a idéias que Heitor Valente teve em idealizar uma noite de "100 anos de MPB", trazendo Herivelto e João, para uma apresentação com portas abertas ao público. Bons músicos e também alguns cantores estarão mostrando um painel do imenso repertório de Herivelto e Braguinha, cujas obras se espraiam em inúmeros sucessos nos mais diversos gêneros: sambas-canções, marchinhas carnavalescas, músicas juninas e natalinas (no caso de Braguinha), marcha-ranchos etc. - sempre com a marca que os faz, desde o final dos anos 20, terem uma presença maior sempre que se falava em nossa música. Junto com Herivelto, virá também Raul Sampaio (Raul Coco, Chachoeiro do Itapemirim, 1928), que substituiu a Nilo chagas (Barra do Piraí, RJ-1917 - Rio de Janeiro, 1973) na segunda fase do Trio de Ouro, o histórico grupo vocal que Herivelto Martins criou com Nilo e a cantora Dalva de Oliveira (Vicentina Paula Oliveira, 1917-1972) e que 1937 a 1950 criou inúmeros sucessos. Em 1950, devido o tumultuado desquite de Dalva e Herivelto (pais do cantor Pery Ribeiro), o trio se desfez, mas Martins o refez com a cantora Noemi Cavalcanti (Cachoeiro de Itapemirim, ES, 1926). Dois anos depois, ela e Nilo Chagas passaram a atuar em dupla. Houve então nova formação: Herivelto, Raul Sampaio e Lourdinha Bittencourt (Lourdes Bittencourt, Campinas, SSP, 1928 - Rio, 1980) - formação que sobreviveria até 1957, quando, por problemas de saúde de Lourdinha, o grupo foi desfeito. No palco do Guaíra, hoje, Herivelto e Raul, mais uma jovem cantora - estarão relembrando os grandes sucessos criados pelo Trio de Ouro, como "Cabloco abandonado", "Negro telefone", "Saudade da Mangueira", "Me deixa em paz", "Praça Onze" e, naturalmente, o clássico "Ave Maria no Morro". xxx "Cem Anos de MPB" marcam o 7o aniversário do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, inaugurado a 12 de dezembro de 1974com a montagem de "Paraná de todas as gentes", de Adherbal Fortes/Paulo Viola. Mas também é uma referência ao 28o ano de abertura do auditório Salvador de Ferrante, embora [nisto] haja confusão oficializada até em publicações oficiais. Muito embora o então governador Bento Munhoz da Rocha Neto e o presidente João Café Filho tenham inaugurado o pequeno auditório do Guaíra a 19 de dezembro de 1953, nas comemorações do Centenário da Emancipação Política do Paraná, o mesmo só viria a receber um espetáculo quatro meses depois. Isto porque as obras ainda não estavam totalmente concluídas e se aproveitou o clima ultra-festivo que o Paraná vivia em 1953 para entregar, ao menos oficialmente, uma parte do grande teatro que Bento Munhoz da Rocha Neto deu a Curitiba. Só em abril de 1954, hoje a primeira temporada artística do chamado "Guairinha": a companhia Dulcina-Odilon Azevedo, a convite do governador Munhoz da Rocha, aqui permaneceu por um mês, com um repertório de cinco peças diferentes. A primeira peça encenada no pequeno auditório foi o "Vivendo em Pecado" de Noel Coward - e não "os Inocentes" de Henry James (adaptado de seu conto "A Outra Volta do Paraíso") , como muitos pensam. A única documentação detalhada desta histórica temporada encontra-se nas mãos do sr. Alceu Stague Monteiro, que na época havia designado pela Secretaria dos Negócios do Governo - então responsável pela administração do Guaíra, para coordenar o setor. Posteriormente, Alceu teria nomeado superintendente do Guaíra, função que ocupou por vários noas - no segundo governo Moisés Lupion, intercalando-se ao médico Fábio Laynes (já falecido). No primeiro governo Ney Braga, o jornalista Fernando Pessoa Ferreira, pernambucano do Recife mas que desde 1955 se encontrava em Curitiba, foi nomeado superintendente e, em 2 anos, dinamizou o teatro: criou o Curso Permanente de Teatro - a partir de um curso de extensão que o cenógrafo e editor Gianni Ratto aqui orientou no verão de 1961, fundou o Teatro de Comédia do Paraná - inaugurado com "Um Elefante no Caos" de Millor Fernandes e deu início a uma fase brilhante de montagens com o TCP, que seria consolidado pelo seu sucessor, o advogado Otácio Ferreira do Amaral Neto, que permaneceu no cargo de 1963 a 1971 - num período dos mais produtivos para as nossas artes cênicas. Nos últimos 10 anos, passaram pela superintendência do Guaíra, o jornalista Hélio Fileno Puglielli (governo Haroldo Leon Peres), Sale Wolokita (governo Emilio Gomes), Maurício Távora e Garcez Duarte (governo Jaime Canet Júnior). Na qual administração, após o período inicial em que o engenheiro Luis Esmanhotto assumiu a direção de arte e programação, juntamente com o superintendente Aldo Almeida Júnior, veio a atual administração: Marcelo Marchioro na direção artística e Mário José Otto na parte administrativa. Desde que Aldo Almeida deixou o cargo para reassumir suas múltiplas atividades na área da iniciativa privada, a superintendência está vaga, já que o governador Ney Braga só deseja preencher a função comum nome de grande prestígio na parte artístico-cultural, capaz de sedimentar, em plano nacional, as atividades do Guaíra - a serem dinamizaras (e recicladas) em 1982.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
12/12/1981

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