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Aramis

Com a tecnologia do CD, os clássicos legendários

Com precisão, Luiz Antônio Giron sintetizou em 12 linhas uma verdade em termos da fonografia contemporânea: "a indústria da música descobriu que o melhor do CD erudito está no passado e viaja em direção a ele. A tecnologia digital vem transferindo para o alumínio e plástico a memória originalmente gravada em cera e vinil. No transporte, os engenheiros de som tentam eliminar o ruído, algo menos impossível do que cortar a tecnocracia crescente nas interpretações contemporâneas". O comentário do polêmico e eclético jornalista Giron, na "Folha de São Paulo", a propósito da coleção "Legendary Classics", pela Polygram, com oito CDs, com gravações históricas feitas entre os anos 20 e 60 por diversos intérpretes, rematizadas digitalmente é mais do que oportuno. Pois não só no erudito, mas também na própria música popular, a era do CD - ou ainda chamado laser - vem proporcionando reedições limpas, cuidadosas e aproximando-se da perfeição possível, do que existe de melhor. A exemplo do que acontece no Exterior, o Brasil caminha, a passos largos, pela substituição das gravações convencionais (LPs) pelos CDs, admitindo, no máximo, cassetes em cromo - como a CBS já vem fazendo. Na Polygram, cujo departamento internacional, de eruditos e jazz, tem na maior revelação da área executiva musical no setor, o jovem Leo Barros, o ponderado diretor, as coisas estão mais adiantadas: esta coleção saiu apenas em CD, com preço médio de Cr$ 1.500,00 (embora algumas lojas de Curitiba, desonestamente, insistam em cobrar mais caro) começa a aproximar-se do que custa o elepê convencional (ao redor de Cr$ 1 mil e, menos que os elepês importados - hoje a Cr$ 2 mil). Portanto, a era do CD, na qual poucos acreditavam em termos de mercado, firma-se com vigor, mesmo com toda a crise. A coleção - Depois de ter oferecido uma coleção de música contemporânea, com compositores de propostas novas e audaciosas - dez dos 25 volumes da coleção "20th Century Classics", a Polygram faz um retorno em datas: foi buscar momentos maiores de registros históricos para, com os recursos da moderna tecnologia, oferecer um pouco da história da música dos grandes mestres. Na Holanda, a coleção "Legendary Classics" já passa dos 50 volumes. Parcimonioso, Leo Barros selecionou oito dos mais representativos deste imenso pacote para testar o mercado e, dependendo da resposta, pode ampliar as edições. Público com poder aquisitivo existe. Como não nos cansamos de registrar, o consumidor de música erudita (assim como do melhor jazz) busca o que há de melhor, em gravações que devem ser perfeitas. E, entre o preço duplicado (ou triplicado) pago pelas importadoras aos CDs que a Microservice, de São Paulo, vem produzindo com ótimo nível, claro que o mercado se expande a cada mês, conforme as listagens de lançamentos que são periodicamente distribuídas. Eis a coleção, em ordem cronológica: Maurice Ravel (1875-1937) e Sergei Prokofiev (1891-1953) regendo suas próprias composições nas gravações mais antigas. Com registros feitos em antigos 78 rpm, há mais de 60 e 50 anos, temos talvez o volume historicamente mais importante desta coleção. Ravel, em 1928, do piano, acompanhou a soprano Madeline Grey em suas "Chansons Medecasses" (com texto de Parly) e, quatro anos depois, regendo a Orquestra dos Concertos Lamoreux, apresentou aquela que seria a mais conhecida de suas obras - "Bolero" (que, 40 anos depois, virou sucesso popular ao ser aproveitada na trilha sonora de "Retratos da Vida"). Já em Moscou, em 1938, Igor Stravinski, regia uma Sinfônica na execução da suíte número 2, opus 63, de "Romeu e Julieta". Eliminados os ruídos, ampliado o som, observe-se a importância históricas destes registros. Antonin Dvorak (1841-1904) teve seu Concerto para violoncelo e orquestra em Si Menor, opus 104, interpretado pela Associação Orquestral Nacional, sob regência de Leon Barzin, em novembro de 1941, em Nova Iorque. Com a mesma orquestra, mas de um outro concerto, em novembro de 1941, foram preservados "Bosques Silenciosos" e "Rondó em Sol Menor", os quais acoplados a "Schelomo" - rapsódia para violoncelo e orquestra, de Ernest Bloch (1880-1959), complementam este volume histórico incluindo na "Legendary Classics". Karl Bohm (1894-1981), regente da Sinfônica de Viena, em novembro de 1956, fez uma histórica gravação do "Requiem", K 626, de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Com solistas como Teresa Stich-Randall (soprano), Ira Malaniuk (contralto), Waldemar Kmentt (tenor) e Kurt Bohm (baixo), mais o coro da Ópera Estadual de Viena, este registro mereceu sucessivas reedições em elepês. Agora, naturalmente, ocupa lugar de destaque na coleção. Especialmente porque em 1975, Bohm voltaria a gravar a mesma peça, mas naturalmente, com outros solistas; como a soprano Edith Mathis e a contralto Julia Hamari, nas partes originalmente interpretadas por Teresa e Ira. Uma obra para que os especialistas ouçam, comparem e julguem - mas em ambas o mesmo toque de mestre do grande maestro. Sviatoslav Richter, 76 anos, pianista soviético que ganhou o grande Prêmio Stalin em 1949, em fevereiro de 1958 - no auge de sua carreira, gravou uma versão original da belíssima peça "Quadros de uma Exposição", que Modest Mussorgsky (1839-1881) havia composto em homenagem ao arquiteto Victor Hartman (posteriormente, esta peça foi transcrita para orquestra por Ravel e, há 15 anos, até uma versão pop, com Emerson, Lake & Palmer). Gravado ao vivo, há 32 anos, em Sofia, esta gravação traz uma luminosidade extraordinária da obra de Mussorgsky, mostrando sua imortalidade. Como se não bastasse esta antológica peça, o disco traz ainda peças curtas de Franz Schubert (1797-1828), Frederic Chopin (1810-1849) e Franz List (1811-1886), mostrando todo o talento do virtuose Richter.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
21
08/07/1990

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