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Aramis

Como sofre quem gosta de bom cinema em Ponta Grossa

Em simpático e afetivo cartão que o advogado Maurício Borba, de Ponta Grossa, nos enviou, há algumas semanas, observações das mais oportunas sobre o sofrimento de quem reside no Interior, interessado em cinema, sofre com a inexistência de salas lançadoras. Numa linguagem objetiva, quase jornalística, o Sr. Borba oferece um depoimento que auxilia a entender melhor porque o cinema, em sua forma tradicional de exibição, entrou numa crise cada vez maior, praticamente desaparecendo as salas de projeção em centenas de cidades - e restando aos cinéfilos - e mesmo espectadores que buscam apenas o lazer descompromissado - somente a televisão e o vídeo. xxx Pela oportunidade das inteligentes observações do Dr. Maurício Borba, nos permitindo transcrever algumas de suas informações e opiniões, agradecendo também as elogiosas referências que faz ao nosso trabalho jornalístico. Assim, Borba fiz que "sempre cômodo no pólo passivo de nosso relacionamento - como simples leitor - decidi escrever-lhe no intuito de tornar pública a calamitosa situação de descaso dos cinemas de Ponta Grossa, que dia a dia afasta cada vez mais o público das salas, como se já não fosse suficiente a concorrência imposta pela televisão e vídeo. Nossa cidade possui apenas três cinemas: Inajá, Ópera e Império. A insignificância numérica contrasta com o perfil da cidade, que conta com cerca de 300 mil habitantes, é um polo regional de desenvolvimento, com indústrias de porte, vigorosa produção primária, uma Universidade com milhares de alunos, que oferece cerca de duas dezenas de cursos superiores, entre outros dados estatísticos de igual importância. O grande mal dos cinemas de Ponta Grossa chama-se FALTA DE CONCORRÊNCIA. Todos (sic) os três cinemas são de propriedade da Empresa Arco Íris. Em estado precário, não possibilitam nenhum conforto ao público. As salas, demasiadamente grandes, poderiam ser transformadas em duas ou três salas de bom tamanho, com maior conforto e melhor qualidade, principalmente sonora. A programação das fitas não possui lógica. Algumas (raras vezes) são lançados filmes ao mesmo tempo que nas capitais. Noutras (a maioria) as boas fitas demoram muito a chegar, inclusive por vezes deixando de ser apresentadas. É o caso, por exemplo, de "Nos Bastidores da Notícia", que ainda não passou em Ponta Grossa. Os horários das sessões são prova maior do descaso: de segunda a sábado, sempre às 20:30 horas. Aos domingos, no Cine Ópera, há duas sessões: às 14:30 e 20:30 horas. No Cine Inajá (milagrosamente) há sessões às 14:30, 17:30 e 21:30 horas (não faço comentários quanto ao Cine Império por passar somente filmes de baixo nível, pornochanchadas, etc.). Aos domingos, na última sessão, é habitual não passarem traillers e a fita ser cortada, para a sessão terminar logo. O Cine Ópera localiza-se em imóvel muito antigo no centro da cidade, onde o público convive com o barulho incômodo de dezenas de morcegos que vivem no forro e chegam a perturbar a audição dos filmes. xxx O Sr. Borba relata, inclusive, um fato que dá bem idéia do descaso da empresa exibidora: numa sessão em que o cinema Ópera exibia "Atraiçoados", de Costa Gravas, ao tentar comprar o ingresso foi informado de que até então somente havia um espectador e, caso não houvessem dez pessoas, não haveria a sessão programada. "Tivemos que esperar cerca de 15 minutos na porta do cinema, sem podermos entrar, até conseguirmos número suficiente para que houvesse a sessão. Nesse ínterim, inúmeras pessoas tentaram comprar os bilhetes, mas diante da colocação dos funcionários, não se prestaram a aguardar na entrada". Encerrando, nos diz o advogado Maurício Borba: "São esses fatos que denigrem a imagem dos cinemas, fazendo com que o conforto das casas e as facilidades do vídeo tire, cada vez mais, o público dos cinemas". A solução para Ponta Grossa seria haver concorrência. Com ela, quem sempre ganha é o público. Mas, enquanto por ela aguardamos, gostaria que esta chegasse ao conhecimento da empresa Arco Íris que, distante, pode estar alheia aos problemas cotidianos das salas situadas em Ponta Grossa. Existem paliativos que podem ser implantados a curto prazo: sessões corridas aos finais de semana, melhoria da aparelhagem, melhor programação, etc. Enquanto perdurar a atual situação os pontagrossenses serão obrigados a assistir bons filmes nos cinemas de Curitiba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
11/05/1990

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