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Aramis

Compositores

Impossível negar: os baianos não são apenas talentosos, mas organizados. E solidários. Só isso para explicar a permanente e múltipla presença de compositores e intérpretes baianos no cenário nacional. Em várias levas, os baianos estão sempre chegando ao Sul maravilha, onde, em tempo reduzido, conseguem fazer seus discos. Mais quatro lps de baianos, na praça, todos trabalhos bastantes pessoais e sinceros. Discutíveis, talvez, os resultados, não se pode duvidar da essência. De princípios, os hoje milionários Antonio Carlos (Pinto) e Jocafi (José Carlos Figueiredo), que além de aparecerem - como compositores de 5 faixas e intérpretes de uma, na excelente trilha sonora de "Otália da Bahia/ Os Pastores da Noite" (1975-77, de Marcel Camus, lançamento no Cine Lido, dentro de 3 semanas), onde o destaque maior é a cristalina Maria Creusa (esposa de Antonio Carlos), tem também o seu elepe anual, pela RCA Victor ("Louvado Seja", julho/77). A dupla sabe fazer músicas de agrado popular e por isso tem se mantido em destaque, desde 1971 ("Você Abusou"). Refrões fáceis, temas populares, eles vão segurando a peteca! Como sempre produzido por Rildo Hora, com arranjos e regências de Leonardo Bruno, excelentes instrumentistas arregimentados para a gravação, "Louvado Seja", tem faixas interessantes: "Jesuino Galo Doido", da trilha de "Os Pastores da Noite", o "Cordel" (ou de como uma "Mulesta" nova tomou contado sertão), divertida sátira em ritmo de baião, com a participação especial de Luiz Gonzaga) e "Opus 2". O africanismo, tão em moda na última safra de Gil/Caetano, também presente em D'Angola É Camará" (no qual aparece um parceiro, Magela Cantalice) e "Oxossi Rei", "Bahia Idos 60", curtição nostálgica, não tem destaque maior, mas cita vários amigos daquela época, um dos quais, Walter Queiroz acaba agora de fazer seu primeiro lp & Filho do Povo", (Phillips(, 6349332, julho/77). Excelente letrista, cantor razoável, é outro baiano que veio para o Rio há 5 anos, pelas mãos de Roberto Santana, que lhe deu uma boa ajuda no início da carreira, incluindo, por exemplo, seu "Filho da Bahia", na voz de Fafá de Belém (então estreando na gravação) na trilha sonora de "Gabriela". Parceiro de Cesar Costa Filho em algumas de suas melhores músicas - "Tesoura Cega" (8gravação de Beth Carvalho, uma das 10 melhores músicas de 75), "Dose Pra Leão" ("Anastácio"), "Samba Enredo Para Um Sambista Morto", acumulando algumas vezes letra e música, como em "Feijãozinho com Torresmo" (a melhor faixa do lp de Maria Creuza, RCA, 76), Walter Queiroz havia estreado, como cantor, num compacto simples, que apesar de uma boa canção ("Ensopado de Tristeza") não chegou a acontecer. Agora, reunindo os sambas já conhecidos - com outros novos (ou ao menos, até agora inéditos em gravações), como "Maravilha", "Pode Entrar", "Tudo Debaixo do Banco", "Meu Papagaio Falou" e "Noturno dos Abandonados", "Africana Re Re" e "Maculele" (estas duas em parceria com Paulo Levita), Walter faz um elepe estimulante, bem acabado, com texto de contracapa de Jorge Amado e que se inclui entre os bons discos da temporada. Ex-Novos Baianos, Moraes e Moreira preferiu sua carreira de solista, longe do amalucado (mas brasileiríssimo) grupo, que teve meteórica carreira entre 71/74). Em seu segundo lp-solo ("Cara, Coração", Sigla / Som Livre, 403.6123, julho/77), Moraes mantém sua linha de compositor simples, na (melhor( tradição da MPB, como choros, sambas, realizados sem pretensões maiores. Bom violinista, amparado nas cordas de Armandinho (da guitarra ao bandolim elétrico), mais Haroldo (bandolim), Dadi (baixo), e com os baianos Tuzé (flauta e sax), Enéas (bateria), sem contar o baixo de Dadi e os teclados de Um, Moraes Moreira mostra novas composições - "O Que é ... O que é", "Yogoé De Ouvido" & (parceria com Armandinho), "Pombo Correio" (Double Morse, parceria com Dodô e Osmar, os baianos que inventaram o Trio Elétrico), "Samba da Baia de Todos os Santos" (parceria com Rogério Duarte), "Hino Nordestino", "Meiuflu" (parceria com Chacal), "Davilença" (parceria com Armandinho), "Acordei" e "Cara e Coragem". Quando líder dos Novos Baianos, Moraes Moreira sempre influiu no grupo para regravar (os( grandes clássicos da MPB, mas, agora, em sua carreira solo, dedicou 9 das dez faixas as músicas próprias: "As 3 da Manhã", amigo samba de Herivelto Martins, é a única exceção. De qualquer forma, um válido elepê de mais um baiano na praça. Não tenho certeza se Paulo Diniz é baiano. Certeza tenho de que é Nordestino e que foi com "Back To Bahia" que, há 8 anos, escalou as paradas de sucesso. Ex-radialista companheiro de quarto e pobreza do paranaense Adelzomn Alves, em seus primeiros dias no Rio de Janeiro, Diniz tem merecido de Milton Miranda, da Odeon, todo estímulo: embora "Go Back To Bahia" tenha se constituído num êxito isolado, continuou a fazer seus elepes, com músicas próprias, geralmente tendo por parceiro Oderbal. Há dois anos, Paulo resolveu cair na estrada e, em companhia de seu letrista, o poeta Juhareiz Correya, fez um "reencontro artístico, cultural e emocional com o seu Nordeste", como diz Adelson. Partiram de Recife, com destino ao Juazeiro do Padre Cícero, no Sul do Ceará, numa esticada de mais ou menos 780 km, e 22 dias de céu aberto, à disposição do sol e da lua, debaixo do chapéu. Agora, "Estradas" (Odeon, SMOFB 3927, maio/77) é (uma( mostra dos novos caminhos de Diniz. Se há 4 anos, Diniz musicou "E Agora José?", de Drummond, agora abre este "Estradas" musicando o mais famoso poema de Manuel Bandeira (1886 - 1968), "Vou-me Embora Pra Pasárgada"(.( As novas músicas de Diniz possuem forçam gosto de terra, num trabalho dos mais válidos, na (parceria( com Juhareiz Correya - "Desejo Mudo", "Junco do Seridó", "Poema Para Léa", "Oco do Mundo" e "Guarânia Morena", ou outros letristas - como Zé Castor ("Capim da Lagoa"), Zé do Norte ("Ciranda do Mar"), arranjos e adaptados de um tema de domínio público ("Peixe Vivo", participação especial de Nayde), ou nas canções de outros autores, como Waldir Neves ("A Seca de 1932"), Paraibinha ("Baião das Alagoas") e Carlos Fernando ("Cravo Vermelho").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
30
21/08/1977

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