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Aramis

Conheça agora o chamamé com o talento de Tarago

Quando escrever sua prometida (e aguardada) história da música popular gaúcha a partir dos anos 60, o jornalista e pesquisador Juarez Fonseca, da "Zero Hora", terá que dedicar um capítulo especial a Ayrton dos Anjos - o "Patinete". Aos 50 anos, mais de 30 ligados à músicas, Patinete, uma das pessoas mais queridas no eixo musical Rio Grande do Sul-São Paulo-Rio de Janeiro, tem feito muito mais pela divulgação cultural do Rio Grande do Sul do que todas as entidades culturais oficiais ali existentes. Já tendo produzido mais de 200 elepês em diferentes etiquetas, Ayrton é um dos grandes responsáveis pelo fato da discografia gaúcha, só nesta década, já ter passado dos 800 títulos (compare-se com o que saiu no Paraná neste período!). A partir da primeira Califórnia da Canção, em Uruguaiana, há 16 anos, Patinete sempre esteve registrando os eventos nativistas. que passando de 40 por ano, são todos hoje gravados em discos - produzidos por outros produtores que se lançaram no campo, sempre com apoio e ajuda de Ayrton, como Gilberto Carvalho ("Quero-Quero"), a Pialo, e, especialmente, a Discoteca de seu amigo Nilo Odone Sehn. Discos de festivais, grupos instrumentais e vocais, música regionalista e solistas, todos tem em comum a produção do Patinete, incansável, sempre bem humorado. Hoje, dirigindo a Continental na região Sul, suas produções começam a chegar no Paraná, pois no ano passado registrou em elepê as finalistas do XV Fercapo, em Cascavel - além de ter supervisionado a gravação do final do "Cante Terra", em Campo Mourão, que deve sair em disco pela etiqueta de Nilo Sehn. No ano passado entre maio a julho, Ayrton supervisionou uma produção internacional: em Buenos Aires, nos estúdios da Film Record, um dos grandes nomes da música argentina, Antonio Tarago Ros, acompanhado de seus amigos Raul Elwanger (também produtor artístico), Luís Carlos Borges (coordenador do Musicanto, em Santa Rosa), Renato Borghetti e Gilberto Monteiro, fez um disco marcante - o 14º de sua carreira, mas o primeiro a sair no Brasil, trazendo (e revelando) a força de suas canções, seus méritos de acordeonista e cantor. O CHAMAMÉ - É uma pena que a dita imprensa nacional, preconceituosa com o que não acontece no eixo Rio-São Paulo, não tenha ainda dado a atenção devida a este elepê de Tarago Ros ("Como A Água Clara", Continental, abril/87), pois em seu bojo está um ritmo de maior vigor - mas tão ignorado do grande público brasileiro como o próprio Ros: o Chamamé. O Chamamé é, em princípio, um ritmo desenvolvido na província argentina de Corrientes, separada do Brasil apenas pelo Rio Uruguai. Juarez Fonseca informa que há décadas é ritmo corrente também na margem brasileira do grande rio, animando bailes populares e enriquecendo o repertório dos gaiteiros mais autênticos. Com seu colorido ritmo contagiante, há uma década o chamamé vem se tornando um gênero assumido pelo Rio Grande do Sul, já com ramificações em Santa Catarina, Paraná (principalmente no Oeste), São Paulo e até Mato Grosso - acompanhando as correntes migratórias gaúchas. E quando se fale em chamamé, surge um nome maior: Antonio Tarago Ros. Ele é um "chamamecero", "e ser chamamecero não é somente tocar chamamé", diz Fonseca. - "É uma forma de existir e sentir. Trata-se de uma diferença, não de uma questão de inferioridade ou superioridade". Antonio Tarago Ros (Curuzu Cuastia, Corrientes, Argentina, 18 de outubro de 1947), filho de um dos maiores chamameceros argentinos, chamado exatamente de Charagó Ros, Tarago filho seguiu a trilha do pai. Começou tocando no grupo em que o velho animava bailes até que, em 1970, achou-se em condições de partir para o trabalho individual. E de lá para cá, Ros tornou-se um líder da música argentina de base folclórica, por causa de seu talento de instrumentista, cantor, compositor, cantor e arranjador. Vivendo em Buenos Aires, 13 discos lançados em seu país, há alguns anos já começou a vir ao Rio Grande do Sul, surgindo então a idéia deste álbum, produzido artisticamente por Raul Elwanger, hoje o compositor gaúcho mais conhecido na Argentina, e com a participação dos excelentes gaiteiros Borghi, Borges e Gilberto Monteiro - este, há anos devendo um elepê solo, que Ayrton dos Anjos promete para este ano. Nove das onze faixas deste elepê são do próprio Tarago, algumas em parceria com Gonzales Vedoya ("Geró"), Rodolfo Regunaga ("Vou De Tua Mão"), e Teresa Parodi ("Como A Água Clara" e "O Céu Do Pedreiro"). Leon Gieco, nome conhecido da música argentina (e que apareceu num elepê, ao lado de Milton Nascimento / Mercedes Sosa, gravado ao vivo) é o parceiro de Tarago em "Caminho De Irmãos", criado para o filme "Pierros De La Noche". Gieco executa harmônica e uma orquestra de cordas dá um toque semi-sinfônico ao arranjo de Gabriel Senanes. Elwanger musicou os versos de Gieco "Pialo De Sangue", que encerra o disco. Ótimos instrumentistas - como Oscar Alen no baixo, Rodolfo Regunaga na bateria, Algel D'Avila e Matteo Villana, o sax de Gabriel Sannes - valorizam as diferentes faixas, sejam as instrumentais ou as vocais. Antonio Tarago Ros é um artista adulto, vigoroso, com uma obra merecedora de atenção. A oportunidade da Continental lançar este seu disco, produzido especialmente para o Brasil, abre o tráfego mais intenso da ponte cultural Brasil-Argentina, que como diz Juarez Fonseca, precisa de circulação nos dois sentidos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
26/04/1987
Amei os artigos!!!!!!!Sou filha do Nilo Sehn e fiquei muito feliz em saber que ainda existe uma "memoria" registrada de todas as coisas que me pai fez e continua fazendo com muito sucesso e sabedoria. Muito obrigada, Ana Paula Sehn

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