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Aramis

Críticas aos marajás nos sambas-de-enredo

Aparentemente uma exaltação, Acadêmicos do Salgueiro no "Em Busca do Ouro" também é mordaz no samba que tem nada menos que nove autores (afinal, muitos querem dividir o bolo dos direitos autorais). "Serra Pelada já está nua Mas minha alegria continua Nem de ouro, nem de prata O cruzado tanto fez que virou lata". xxx Em São Paulo, a E.S. Flor de Vila Dalila estará saindo com seu enredo-protesto: "Nova República me Engana que Eu Gosto", de Carlinhos de Pilares / Roberto Laranjal: "Promessa fica na promessa É hora de despertar Chega de demagogia Pra que tanta ironia O povo está cansado de esperar Pra que cultura Se não há emprego A fome no país não é segredo Fabricam o trem parou a ferrovia Falta de verba que o plenário discutia Me engana que eu gosto Reforma agrária cadê O índio está cansado de sofrer O leão virou hiena Preocupado com a Nação Marajá de bolso largo Nem abala o coração Enquanto o aposentado Que merece mais respeito O menor abandonado Sofre com o preconceito". Outra escola de São Paulo, a Imperador do Ipiranga, em "Sonha Brasil", une o alerta ecológico ("Ter o verde em nossas matas / Chega de devastação / Ver o povo respirando / Um ar sem poluição"), também faz o seu protesto: "Eu quero... Ter a minha casa pra morar Dar aos meus filhos O direito de estudar Neste sonho Ver o povo trabalhando E o meu país prosperando Porque... porque só você tem mordomia Gasta grana de montão Enquanto outros vivem Sem tostão Ah! Seu doutor, seu doutor Eu quero tudo que você me prometeu Você falou acreditei Até agora na aconteceu Bar... Bar Brasil Berço das grandes resoluções Pra quem se queixa que dá um duro danado E é mal remunerado Pra revoltado com as broncas do patrão Ai, quem me dera se eu fosse um marajá Ganhasse a vida sem precisar trabalhar Mas acontece que é só a minoria Que desfruta a mordomia nessa tal democracia". Com "Templo do Absurdo", o G.R.E.S. Unidos da Tijuca preenche um espaço que antigamente era privilégio das marchinhas que o povo cantava: a crítica social. Embora tenha aparecido uma tentativa de falar dos Marajás, na voz de Francisco Egídio - mas sem qualquer divulgação, as broncas contra os marajás, inflação, pacotes, etc., se restringem nos sambas-de-enredo, como fará domingo a noite, no desfile da Marquês de Sapucaí, a Unidos da Tijuca, cantando: "E segue o tormento Congelaumentos... é o preço da alimentação É o plano mal traçado A bomba que estourou em nossas mãos". O samba-de-enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel, assinado por três compositores, parece o samba-do-criolo doido em termos políticos: "Bye bye Brasil, beijim beijim Encanta a Mocidade assim A constituinte independente Dividiu a nação naufragada Em sete brasiléias encantadas O progresso despontou O cruzado se valorizou E hoje nem saudades Daquele Brasil devedor... que ficou... Tchau, cruzado, inflação Violência, marajás, corrupção". Também a Imperatriz Leopoldinense mostra em "Conta Outra, que Essa foi Boa", a sua ironia em relação a Brasil-88: "Eu vôo pra não esquecer A vida tem que melhorar O povo na constituinte Vai ter mesa farta, sorrir E até cantar Quá, quá, quá, você caiu, caiu É brincadeira É primeiro de abril Eu quero É poder ser marajá Gozar a vida Pra vida não me gozar".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/02/1988

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