Login do usuário

Aramis

Curitiba e os seus "operários" sonoros

Mesmo que oficialmente ninguém lembre-se de homenagear a memória de Humberto Lavalle - falecido em setembro do ano passado, aos 79 anos - o radialista, publicitário e animador cultural não será esquecido. Isto porque, ao menos dois grupos de curitibanos que cultivaram a mesma paixão de Lavalle pela ópera, ouvindo as suas árias favoritas - ou assistindo em vídeo-cassete as óperas que tanto apreciava - estarão reunidos para rememorar o grande amigo que se foi. Lavalle, com seu vozeirão operístico - tenor que foi em sua juventude, um dos pioneiros do rádio do Paraná (e também nossa publicidade), era um dos maiores apaixonados pelo bel canto, numa época em que a cidade tinha menos de 10 mil habitantes - e uma elite reduzida capaz de se entusiasmar com a ópera. O que não o impediu, em 1953, corajosamente, bancar a vinda a Curitiba, para a única apresentação no cine Ópera - então a sala mais luxuosa da cidade - da única apresentação do mais famoso tenor da época, Bienamino Gigli. Muitos chamaram Lavalle de louco pelo empreendimentro. Provou que estava certo: o cine Ópera esteve superlotado na histórica apresentação. Seria como se hoje alguém levasse Luciano Pavarotti a Cascavel e conseguisse lotar o maior auditório daquela cidade. xxx Hoje, o público operístico cresceu muito. O aperfeiçoamento do som digital, compact-disc e a era do vídeo - fez com que cada vez mais os apreciadores de um gênero considerado elitista, tenha maiores adeptos. Mesmo ainda sendo restritivo economicamente - com produções caríssimas, montadas no Municipal do Rio de Janeiro ou Palácio das Artes, em Belo Horizonte (São Paulo, agora com a reabertura do Municipal, deve voltar a produzir óperas), as grandes encenações atraem público imenso. Mas como são poucos os privilegiados que podem assistir as apresentações ao vivo - seja no Brasil ou, especialmente, nos grandes templos do bel-canto - Scala, em Milão; Termas de Caracalla, em Roma; no Ópera de Paris; Albert Hall, em Londres ou Lincoln Center, em Nova Iorque, entre outros - a opção fica na audição em discos e, desdo o advento do vídeo, nas imagens coloridas em um catálogo que hoje passa dos 200 títulos. xxx Não há números específicos de quantos apaixonados por ópera existem em Curitiba, mas um fato é real: vem crescendo de ano para ano. Mesmo as mais frustradas experiências encenadas no Guaíra atraíram bom público e novas produções independentes acontecem, como a estréia nacional de "O Refletor", que o argentino-paraibano J.A. Kaplan adaptou em texto escrito por Bertold Brechet em 1919 - e que só foi encenado 50 anos depois (temporada de duas semanas no Salvador de Ferrante, a partir do dia 16 de agosto). Fielmente, dois grupos de apaixonados por óperas, informadíssimos, donos de preciosas coleções, reúnem-se regularmente, para curtirem coletivamente o prazer de ouvir novidades recebidas do exterior - em som e imagens. O industrial José Eduardo Todeschini chegou a construir um anexo à sua mansão, na Rua Hermes Fontes, especialmente para reunir amigos que dividem o prazer de saborear a ópera - como o empresário Joel Rondinella Mendes, o dentista José Ferreira - entre outros grandes colecionadores. Aos 55 anos, tendo iniciado sua coleção em 1949, Joel Mendes não sabe exatamente quantos discos e fitas possue - embora sua coleção esteja entre as melhores da cidade - baixo, entretanto, da legendária coleção de Carlos Meisner Osório, fazendeiro, ex-secretário da Agricultura - e dono da mais sofisticada aparelhagem de som do Sul - uma das melhores do mundo. xxx Outro grupo que se reúne duas vezes por mês, sempre aos sábados a tarde, para curtir óperas já tem organização mais didática. O anfitrião - as reuniões são nas casas dos integrantes do grupo - além de oferecer sempre um vinho, faz breves explicações sobre as obras apresentadas o que faz com que só por motivos muito sérios haja falta dos seus integrantes. Criado no final dos anos 60 pelo advogado José Falcão de Vasconcelos Junior, fiscal aposentado do INPS - hoje produtor de 15 programas de música erudita e óperas na Rádio Estadual - agrupa hoje advogados (Ariovaldo Lopes, Glicerio Rodrigues), bancários (Luiz Carlos Scjultz, Paulo José da Costa), industriais (Jiri Petrowiski), o professor Fernando Bini, o securitário Gersom Cleo e o ex-consul da Itália, Guido Borgomanero, violinista nas horas vagas, que ao lado de sua simpática esposa, Ragmuild, é coordenador do calendário das reuniões. Os dois grupos funcionam totalmente desburocratizados. Como diz Falcão, que diariamente produz "Areas Líricas" (Rádio Estadual, 18/18h30, Rádio Estadual) e, aos domingos, "Momentos de Ópera" (20h23), - A carteirinha é o amor pela música. De qualidade...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/08/1988
Como pessoa citada no artigo acima, permito-me fazer correções nos nomes de pessoas mencionadas na segunda parte do relato: Glicerio Palma (em vez de Rodrigues), bancários (Luiz Carlos Schütz (em vez de Scjultz), Paulo José da Costa, industriais (Jiri Petrowski (em vez de Petrowiski), o professor Fernando Bini, o securitário Gersom Cleto (em vez de Cleo) e o ex-consul da Itália, Guido Borgomanero, violinista nas horas vagas, que ao lado de sua simpática esposa, Ragnhild (em vez de Ragmuild), é coordenador do calendário das reuniões. Pelo visto são erros do digitador e não devem ter saído no original do jornal. Agradeço pela atenção. Paulo José da Costa

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br