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Aramis

A curtição ao cinema nos curtas de Gramado

Gramado - Ney Slourevich, simpático e competente diretor de comercialização da Embrafilme, grande comandante do FestRio, está se empenhando para que a abertura do 5º Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão (Fortaleza, 22 de novembro a 3 de dezembro) seja com "Splendor", de Ettore Scola, já convidado para integrar o júri. E que, exibido no último festival de Cannes, provocou grande emoção. Assim como "Nuovo Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornattore - também concorrente em Cannes - "Splendor" tem o cinema como tema: a crônica de uma pequena sala de exibição que vive seus últimos dias. O cinema como tema de filmes não é novidade e, ironicamente, à proporção em que aumenta a crise (produção, exibição, salas que fecham, etc.), cresce a curtição de certa forma exaustiva em torno desta mágica usina de sonhos. Dos curtas em 35mm, que disputam os Kikitos em Gramado, dois dos melhores trabalhos, exibidos numa mesma sessão (quinta-feira), voltam à mesma vertente do filme de animação "A Garota das Telas" - já premiado em Brasília e no 5º FestRio - e "O Escurinho do Cinema". Co-realizador com Eliana Fonseca do premiadíssimo "Frankenstein Punk" (o curta mais premiado em 1987), o paulista Cao Hamburger, sobrinho do falecido cenógrafo Flávio Império (a quem dedicou seu filme) fez em "A Garota das Telas" uma terna alegoria de um modesto vigia de um estúdio de cinema que viaja pelo mundo dos sonhos da imagem. Movimentado, com uma perfeita trilha sonora, os bonecos criados por Vivian Altman e a inventividade de Hamburger fazem de "A Garota das Telas" um hino de amor cinematográfico. O gaúcho Nelson Nadotti, premiado no ano passado por "A Voz da Felicidade", em "O Escurinho do Cinema" repete a forma de fazer um filme em torno do cinema: um casal de cinéfilos tímidos (interpretado por Louise Cardoso e Guilherme Karam) encontra-se numa sala de exibição e ao longo de inúmeras citações de clássicos do cinema, acabam se apaixonando. Outro curta que também concorre este ano, "Nem Tudo que É Sonho se Desmancha no Ar", do paulista André Pompéia Sturm (lançado nacionalmente no Cine Luz, em maio último), também têm sua ação ambientada num cinema, com aproveitamento de duas seqüências de "Casablanca", no encontro de um cinéfilo (Cássio Gabus Mendes) e a mulher-mito (interpretada pela sensual Ana Maria Nascimento e Silva). Do humor de trabalhos comunicativos como "A Porta Aberta", de Aluízio Abranches (que revela Janaína Diniz, filha de Leila), Joel Pizzini (um dos favoritos na premiação, ganhando elogios e espaços merecidamente), mergulhando num psicologismo do paulista Nilson Villas Boas em "A Mulher do Atirador de Facas" (com Ney Latorraca e Carla Camuratti), o pacote de curtas em 35mm, em disputa este ano, mostra um nível alto. Assim, os curtametragistas podem cobrar do Concine - aqui representado pelo seu presidente, Roberto Farias - uma ação mais rigorosa na questão do cumprimento da lei que obriga os cinemas a exibir, em complemento aos filmes estrangeiros, os nossos curtas. O problema é só a Embrafilme organizar a distribuição - atualmente atrofiada e com poucos títulos no mercado. Afinal, nos curtas que aqui concorrem, sente-se um aprimoramento cada vez maior de novos cineastas, com a busca de humor (caso de "Memórias de um Anormal", da dupla Inácio Zatz e Ricardo Dias) e mesmo produções caras, com nomes famosos como Fernanda Montenegro e Paulo Gracindo no irônico (e aparentemente asfixiante) "Trancado por Dentro" de Arthur Fontes, ou Carlos Gregório em "O Nariz", de Eliana Caffe. Os gaúchos, que no ano passado tiveram uma presença mais vigorosa, concorrem este ano, nacionalmente, com dois curtas: "O Escurinho do Cinema" de Nelson Nadotti (mas produzido no Rio) e "Ilha das Flores", de Jorge Furtado (co-autor de "O Dia em que Dorival Encarou o Guarda"), um dos grandes sucessos em curta, premiado em 1986. O escritor Luís Fernando Veríssimo, que tem sido muito adaptado ao cinema, é autor também da história de "O Brinco", de Flávia Moraes, curta interpretado por Carlos Moreno, o do anúncio do Bombril na televisão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/06/1989

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