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Aramis

A dança sem barreiras

Atmosfera de sede do London The Place - a Contemporany Dance Theatre - é diferente de todas as outras. Originalmente um pavilhão para ginástica de um regimento do exercício, o edifício é agora um centro de irradiação de dança e, acima de tudo, de dança contemporânea. Com estúdios, um laboratório e um teatro especialmente equipados segundo as necessidades da companhia, os bailarinos treinam, ensaiam e se apresentam ao público livres da limitações que geralmente enfrentam a maioria das companhias. Os seus membros permanecem em estreito contato com centenas de estudantes de diversas companhias, já que The Place se tornou famoso mundialmente com um centro de dança contemporâneo. Na verdade, o número de estudantes cresceu tão rapidamente que mesmo antes do teatro ser colocado à disposição de companhias visitantes, como é o caso agora, teve-se de alugar novos estúdios para que pudessem ser dadas todas as aulas do curso. ____________________ REVOLTA DESCALÇA É difícil definir a dança contemporânea. Diferente do balé, embora influencialo por ele, ela começou no início deste século como uma revolta descalça contra o balé. Duas bailarinas dos Estados Unidos, Isadora Duncan - que trabalhou quase todo o tempo na Europa - e Ruth St. Denis - que se apresentou quase que só nos Estados Unidos - foram as pioneiras. Na Inglaterra o balé se desenvolveu rapidamente nas décadas de 1930, 1940 e 1950, mas a dança contemporânea ficou negligenciada, sendo praticada quase que só por refugiados alemão. Artistas criadores que, nos Estados Unidos, teriam mergulhado na dança contemporânea, encontraram sua satisfação na Inglaterra desenvolvendo novos tipos de balé. Foram influenciados pela dança contemporânea de Isadora Duncan, mas apenas indiretamente, através da influência de Duncan nos grandes coreógrafos do balé Diaghilev. _________________ FLORESCIMENTO Mas as coisas começam a mudar na Inglaterra em maedos da década de 1960. O Balé Rambert, fundado em 1930 como a primeira companhia de balé inglesa dos tempos modernos, foi reorganizado e começou a se interessar cada vez mais pela dança contemporânea. O homem de negócios inglês Robin Haward foi tão influenciado pela companhia de dança contemporânea da norte-americana Martha Graham, que iniciou uma campanha para estabelecer em Londres a dança contemporânea com sua própria escola, companhia estável e teatro. O resultado foi a criação de The Place. Hoje ela floresce atraindo bailarinos de todo o mundo, mas a verdade é que teve de lutar muito para existir e se afirmar. Apenas a determinação de ferro de Robin Howard salvou-a do colapso em vários estágios cruciais de seu desenvolvimento. ______________ OBRA ABERTA A influência da dança contemporânea americana é naturalmente forte em The Place, mas é aquilo que os ingleses costumam chamar de obra aberta, isto é, que está livre para se desenvolver simultaneamente em muitas direções. Há às vezes, por exemplo, junto com as aulas do estilo Graham lições de composição e improvisação. Essas lições são dadas por bailarinos-professores-coreografos treinados em outros estilos, como as de Carolyn Carlos e Robert Solomon, ambos discípulos de Alwin Nikolais. O treinamento de balé tanto para os estudantes como para os bailarinos da companhia é feito por professores de balé ingleses especializados. A dança de "jazz" é ensinada por um grande professor norte-americano desse estilo, Matt Maddox. E há mesmo diversos tipos de aulas do estilo Graham; Robert Cohan, diretor artístico da companhia ensina a técnica de Graham à sua própria maneira, bastante diferente da ensinada por uma das pioneiras do estilo, Jane Dudley, diretora da dança contemporânea na escola. _____________ BOA REAÇÃO Tanto os estudantes como os bailarinos da companhia reagem bem a esta concepção de obra aberta em relação à dança, enfrentando os problemas surgidos com grande inventividade. Eles também gostam de desenvolver suas capacidades criadores - apresentações de laboratórios são feitas pelos estudantes em todos os níveis de desenvolvimento e algumas vezes também pelos bailarinos da companhia. Em certa época, os bailarinos modernos costumavam olhar com desprezo para o balé clássico, considerando-o essencialmente frívolo. Na verdade, eles não se davam conta de que os grandes balés do século XX tinham as mesmas raízes das grandes obras de dança contemporânea, ambos retirando sua força não apenas das tradições do balé do século XIX como também das danças e dos dramas dançados do Oriente. _________________ FUSÃO DE IDÉIAS Mas quando o renomado coreógrafo inglês Antony Tudor participou do lançamento de companhia norte-americana "Ballet Theatre", em 1939, ele levou consigo a sua própria fusão de idéias de balé, dança contemporânea e dança oriental, assim como uma maravilhosa capacidade para criar novas e expressivas concepções. Sua influência sobre os bailarinos modernos norte-americano foi profunda. Na verdade, muito deles assistiam suas aulas de balé. A partir de então, os coreógrafos contemporânea dos Estados Unidos começaram a fundir suas idéias de dança contemporânea e balé criando uma rica variedade de novas formas. É fascinante ver como os estudantes e jovens bailarinos de The Place, sem qualquer preconceito contra o balé, fundem as duas concepções de dança - o balé clássico e o contemporâneo - à sua própria maneira. É um belo espetáculo ver Linda Gibbs, do corpo de baile, entrar no palco usando sapato comum e dançando em ponta - coisas impensáveis para bailarinos contemporâneo das gerações precedentes. ______________________ TRABALHOS DIVERSOS A maioria das companhias de dança contemporânea é produto de uma pessoa que é não apenas o diretor como também o bailarino principal, o coreógrafo de todos os trabalhos apresentados e o professor de uma técnica criada por ele ou ela. No London Contemporany Dance Theatre á diferente. Seus bailarinos criam com alegria trabalhos tão diferentes como a obra inicial de Martha Graham, "El Penitente", montada em 1940, como "The Road of the Phone Snow", do coreógrafo norte-americano Talley Beatty, ou novos trabalhos de Robert Cohan como "Cell" e "People". A companhia costumava se apresentar em The Place num teatro com proscênio, cortina e o resto. Recentemente isso tudo mudou e hoje o estilo de apresentação é mais desponjado, com os bailarinos parados nos lados do palco, totalmente visíveis, quando não estão dançando, sendo que o equipamento de iluminação também fica exposto. _______________________________ ILUMINAÇÃO REVOLUCIONÁRIA A iluminação, geralmente criada por John B. Read, desempenha papel importante no impacto de diversas apresentações. Em lugar da luz brilhante e generalizada que é o comum no balé tradicional, Read prefere usar raios audaciosos de luz de cima ou dos lados do palco, deixando áreas na obscuridão. Isto é característico da dança contemporânea, que sempre preferiu os audaciosos efeitos de luz em vez do cenário tradicional. O guarda-roupa é geralmente simples e severo, para que toda a atenção se concentre na dança. O London Contemporany dance Theatre é notavelmente cosmopolita com bailarinos de uma grande variedade de países. A primeira bailarina é Noemi Lapsezon, da Argentina, o primeiro bailarino é o norte-americano Robert North, enquanto que um dos membros mais eminentes da companhia é a bailarina inglesa Linda Gibbs, que tem curso completo de balé clássico. Há ainda bailarinos da Alemanha, Suécia e Canadá. __________________ VERSÃO FILMADA Por algum tempo, o primeiro bailarino foi o grande Willian Louther, dos Estados Unidos. O coreógrafo australiano Barry Moreland colocou-se no papel principal de Jesus Cristo em "Kontakion", que trata de acontecimentos da vida de Cristo antes da Ressurreição. Uma empresa de televisão britânica, a Thames Television, ficou tão impressionada que fez uma versão filmada do espetáculo para a Páscoa. É impossível prever o futuro dessa companhia, já que ela muda de temporada para temporada e está aberta a muitas influências. Talvez chegue a desenvolver uma técnica inglesa de dança contemporânea, ou talvez permaneça tão eclética e aberta como é atualmente. Qualquer que seja o caminho, ela com certeza permanecerá um foco importante de dança criativa contempor6anea, divergindo de qualquer outra companhia de dança contemporânea em muitas coisas. FOTO LEGENDA- A companhia de dança inglesa vai realizar a sua primeira excursão fora da Europa. A viagem começa no dia 29 deste mês, no Rio de Janeiro. FOTO LEGENDA1- Curitiba está no roteiro do "London Contemporary Dance Theatre". Escreve Fernau Hall, do "Daily Telegraph", de Londres, critico de balé.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
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26/04/1973

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