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David Carneiro autoriza filmagem da Fortaleza

O projeto é grandioso, caro e difícil. Entretanto pode resultar no grande filme que o Paraná precisa para se impor inclusive internacionalmente: "O Drama da Fazenda Fortaleza". Há muitos anos, desde quando leu, pela primeira vez, o romance de David Carneiro, sobre a trágica história de amor e ódio ambientada nos sertões de Castro, na primeira metade do século XIX, a cineasta Berenice Mendes, 28 anos, se apaixonou pelo tema. Reamente, a história de um poderoso fazendeiro que mantém como prisioneira sua esposa por vários anos e, entre eles, estabelece-se uma relação de amor e ódio, entrecortada de traições, tentativas de envenenamentos e lutas com os índios da região traz conotações notáveis. Há elementos do mais puro teatro shakespeareano ao cinema de ação e, portanto, uma história como esta não poderia deixar de fascinar uma cineasta que vem construindo, com coragem e talento, sua carreira. xxx No último dia 28 de janeio, o professor David assinou no 7º Tabelião, o termo de cessão dos direitos autorais, com exclusividade e sem ônus, no uso do romance "O Drama da Fazenda Fortaleza", "incluído na elaboração do roteiro e posterior produção do filme, a serem realizados no Brasil pela srta. Berenice Isabel Mendes Bezerra, a quem ficam transferidos estes direitos por prazo indeterminado". Obviamente, Berenice exultou: - A generosidade do professor David Carneiro é o primeiro passo do projeto ganhar corpo. E a este projeto dedicarei todo o meu empenho. Berenice já convidou Valêncio Xavier, experiente escritor, roteirista, cineasta e homem de televisão - além de ficcionista reconhecido nacionalmente - para trabalhar no roteiro. Obviamente que o roteiro de "O Drama da Fazenda Fortaleza" terá que ser enxugado ao máximo, de uma forma em que todo o drama psicológico seja mantido e mesmo aprofundado, dentro de um filme que reconstituindo cenas de época possa ser viabilizado economicamente. A simples transcrição cinematográfica do romance implicaria numa superprodução acima de qualquer orçamento. Há 28 anos, um exemplar de "O drama da Fazenda Fortaleza" (editado em 1942, por Dicesar Plaisant, com capa e desenhos de Theodoro de Bonna) chegou às mãos de um dos acessores da produtora que o ator Burt Lancaster havia cirado na época, em sociedade com Hetch-Hill, e que com distribuição da United Artists, produzia filmes como "O discípulo do Diabo", "Mesas separadas" e "Trapézio", sucessos do início da década de 60. O próprio Lancaster, lendo uma sinopse da história, gostou da trama e chegou a, indiretamente, contactar com o professor David Carneiro, conforme, na época, a "Tribuna do Paraná" registrou. O professor David Carneiro, 83 anos, recorda: - "Infelizmente os contatos não foram aprofundados. E nunca mais houve qualquer interesse por parte de Lancaster e seus associados. xxx Berenice Mendes, curitibana, advogada da turma de 1981 da Universidade Federal do Paraná, faz cinema há 7 anos. Começou com um documentário sobre a visita do Papa João Paulo II, a Curitiba, em julho de 1980 ("Como Sempre"). Em 1983, com muitas dificuldades, rodou "O Foguete Zé Carneiro", curta-metragem que chegou a ser exibido em várias cidades. Em 1984, dentro das comemorações do cinquentenário de Londrina, realizou um bonito documentário sobre aquela cidade e, no ano passado, documentou o drama dos sem-terras em "A Classe Roceira", levado ao Festival de Cinema de Gramado, em abril do ano passado. Fundadora e ex-presidente da Associação de Documentaristas do Paraná, Berenice representa hoje os realizadores fora do eixo Rio-São Paulo no grupo de trabalho instituído no Concine com o objetivo de sugerir medidas de aperfeiçoamento à regulamentação e ao funcionamento da obrigatoriedade do filme de curta-metragem. xxx Entre a disposição de Berenice Mendes em realizar um longa-metragem sobre "O Drama da Fazenda Fortaleza", e a concretização deste projeto passarão muitos meses. Afinal, uma produção deste nível não ficaria hoje, por menos de Cz$ 5 milhões, quantia irrisória frente aos orçamentos internacionais - mas alta dentro da realidade brasileira. Mesmo a realização de curtas-metragens hoje é difícil, haja visto o alto custo do aluguel de equipamentos, filme virgem, laboratórios e execução de cópias. O que dizer, portanto, de um longa-metragem, com grande elenco, técnicos, cenários etc.? Berenice tem, entretanto, o entusiasmo de quem acredita num projeto. E numa época em que as mulheres se lançam, cada vez com maior firmeza na direção cinematográfica, Berenice, com todo direito, também busca seu espaço. LEGENDA FOTO: Berenice: o primeiro longa-metragem, com uma história bem paranaense.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
21/02/1987

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