David, um escultor em busca de formas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de setembro de 1989
David Zugman é uma prova de que é possível conviver o lado executivo, empresarial, com a sensibilidade artística. Filho de uma família bilionária no setor madeireiro - o grupo Zugman - e tendo, assim, que assumir funções de comando, não deixou entretanto que o lucro fácil interferisse em sua capacidade criativa. Ao contrário, desenvolveu uma carreira de escultor que o tem feito merecer elogios nacionais e que o leva a fazer agora uma individual (Acaiaca, 24 de setembro a 8 de outubro) com trabalhos interessantes.
Esta é a quinta individual que faz em Curitiba (a primeira aconteceu no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, há 6 anos) e deve catapultar vôos maiores. São Paulo, se depender do entusiasmo da jornalista, crítica e agora agenciadora cultural Marlene Almeida, será a primeira etapa de uma escalada maior.
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Marlene Almeida conta que o processo artístico de David despertou nos anos 70, quando foi para Israel fazer um curso de mestrado em administração de empresas. Lá descobriu o encanto das artes plásticas no atelier da Escola Bezalel Jerusalém (1975/76) e, logo depois, em Paris, integrou-se a uma comunidade artística da rua de Poitue, na qual conviviam - "numa espécie de ONU plástica" - jovens artistas de várias partes do mundo.
A experiência o entusiasmou e, de volta ao Brasil. Participou da experiência artística comunitária Clareira Vital, na ilha de Itaparica, na Bahia. Diz Marlene a respeito de sua evolução:
- "Esse envolvimento de David com a arte passou a ser uma questão vital. Daí todo um paralelo vem sendo trilhado, como parte de um processo existencial".
A princípio, formas em madeira resultaram em peças escultóricas de grande porte. Eram formas sinuosas, sensuais - buscando uma associação corpo-mente. Por isso, contornos delineados mais definidos foram desenvolvidos posteriormente e a busca de material ampliou-se. O próprio processo criativo instigou David Zugman a experimentar outros materiais. Surgiram o mármore, o granito e o ferro. As emoções, cada vez mais liberadas, permitiram a descoberta de novas formas ao mesmo tempo que o artista exerceu, cada vez mais, um domínio sobre esses materiais. O trabalho evoluiu e suas esculturas atingiram outra dimensão. Uma nova linguagem. Com sua visão de estudiosa das artes plásticas, Marlene Almeida diz:
- "É possível perceber como numa única peça o granito e a madeira atingem uma harmonia, apesar de serem dependentes como idéia e independentes como forma. O resultado é o belo estético".
Já o próprio Zugman diz:
- "Depois da madeira, veio o mármore, o granito, o ferro. E mais recentemente as instalações, com luz e som, como pinturas tridimensionais, onde os materiais múltiplos podem ser reunidos num só espaço, assim como hoje, como sempre. Tudo ao mesmo tempo, rápido e descartável. Emoção ao alcance dos sentidos"
LEGENDA FOTO - David Zugman: esculturas com emoção.
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