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Aramis

DECLARAÇÃO DE VOTO

Sem considerar os elepês de Beth Carvalho e Maria Bethânia - que, lançados neste finalzinho de ano, ainda não chegaram aos nossos ouvidos - pode-se dizer que 1986 foi, mais uma vez, um ano de canto das mulheres. A começar pelo retorno, há tanto ansiosamente aguardado, da Divina Elizeth Cardoso, 66 anos, que num álbum comemorativo aos seus 50 anos de carreira, foi carinhosamente produzido pelo seu mais ardoroso fã, o poeta e animador cultural Hermínio Bello de Carvalho. Não só o melhor disco do ano, "Luz e Esplendor" trouxe também um repertório extraordinário, com algumas das mais belas canções de 1986, incluindo "Operário Padrão", revelação nacional de César Brunetti, paulista, 32 anos, veterano rato dos festivais de MPB no interior de São Paulo e que também ganhou chance de gravar sua voz, num elepê dividido com três outros talentos - os irmãos Jean e Paulo Garfunkel, e Celso Viafora - que Helton Altaman, incluiu no seu projeto "Bom Tempo", revigorando a Nova Copacabana. Aliás, dentro deste mesmo projeto é que saiu "Ângulos", o rejuvenescedor álbum de Eliete Negreiros, com um repertório up to date, misturando a vanguarda de Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção e Caetano Veloso, com um letrista-revelação, o professor e poeta Zé Miguel Wisnik. Briguentos aparentemente, apaixonados contumazes, os Caymmis reuniram-se num elepê magnífico, mostrando a beleza da música do terno Dorival. Cláudia Savaget, em produção independente fez um disco camerístico maravilhoso, com repertório de Radamés Gnatalli e Villa-Lobos, enquanto Yana Purim, cantora que se divide entre o Brasil e Estados Unidos, letrou um antológico tema que Hermeto Pascoal criou em 1972 - "Bebê", Toquinho, com o choro "Bento Chaves" mostrou toda sua força de compositor e violonista em seu novo álbum, enquanto João Nogueira é o grande sambista, na força total e com a inspiração alegre de "Tô Pianinho". Em Tóquio, Narinha Leão e Roberto Menescal entraram no estúdio Aoyama para revisitarem os mais belos momentos da Bossa Nova e como resultado "Garota de Ipanema" se transformou no primeiro compact-disc (laser) da MPB, especialmente gravado neste processo. Já em Montreaux, em 1985, João Gilberto mostrou porque continua a ser a voz maior e única e agora, com a edição daqueles instantes iluminados num álbum duplo, todos que envelheceram ao som de seu violão e voz, podem chorar sem-vergonhamente: afinal, ninguém é melhor do que este baiano de Juazeiro, que aliás ganhou em 1986 um centro cultural com seu nome em sua cidade natal. Mas nem por isto, João saiu de sua reclusão num apart-hotel carioca. Aliás, não seria o João Gilberto se não fosse assim!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
2
04/01/1987

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