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Aramis

Denúncias de Adalice serão examinadas pela Associação

Desde que assumiu a presidência de Associação Profissional dos Artistas Plásticos do Paraná, o pintor Domício Pedroso tem colocado nesta entidade a sua competência e equilíbrio. Com sua voz calma e raciocínio claro tem evitado excessos em muitas inflamadas reuniões e buscado valorizar a associação, cada vez mais necessária considerando o crescimento do setor no Paraná. Assim, Domício recebeu com simpatia a carta-denúncia que a associação Adalice de Araújo encaminhou, há alguns dias, na qual - conforme aqui noticiamos no domingo - faz sérias denúncias em relação ao Museu de Arte Contemporânea e a infeliz mostra "Tradição/-Contradição", organizada (sic) por aquela instituição. As denúncias de Adalice, crítica de artes plásticas, professora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e da Universidade Federal do Paraná, merecerão análise da diretoria da Associação, "em tudo o que diz respeito as finalidades da entidade" explica Pedroso. "Aquilo que possa merecer a atenção da Associação será fruto de reflexão e, posteriormente, ação da entidade - que não deixará, assim, de dar a resposta as colocações de sua associada". xxx Adalice de Araújo sofreu pessoais e pesadas ofensas da curadoria escolhida pela diretora do MAC, sra.Elisabeth Titon, a propósito das críticas que fez, com todo o direito, aos discutíveis critérios com que a exposição "Tradição/Contradição" foi organizada. Em seu longo documento-denúncia, encaminhado a diretoria da Associação Profissional dos Artistas Plásticos, Adalice lembrou, por exemplo, "a incoerência de se pretender fazer uma exposição desta natureza e complexidade em tão curto espaço de tempo. Não seria preferível abranger um período, movimento ou artista?" indaga a crítica. Assim raciocinando, Adalice diz: "Efetivamente a exposição "Tradição/Contradição" aberta à visitação pública, em início do mês de junho, revela grandes falhas que prejudicam totalmente os resultados, principalmente dado ao fato que uma mostra deve se destinar a fruição do público e que este não pode, em hipótese alguma, fazer uma boa leitura das obras em função da falta de metodologia adequada na exposição das mesmas. É lógico que existe o aspecto positivo de oferecer ao público a oportunidade de ver trabalhos de várias épocas pertencentes a colecionadores particulares agrupados em um mesmo espaço". xxx Outro aspecto grave em relação a esta "promoção" do Museu da Arte Contemporânea, denunciado por Adalice: "A falta de uma seleção rigorosa das obras expostas dos artistas das gerações de 70 e 80, principalmente. Onde, por exemplo, uma artista como Letícia Faria está representada com um pequeno trabalho que não dá a dimensão do impacto que causam suas pesquisas mais recentes. Também com artistas de outros períodos acontece o mesmo, a exemplo de Ricardo e Ema koch ou Bruno Lechowski para citar apenas alguns". Outra crítica de Adalice: "a montagem carece de lógica. Os discípulos de Andersen misturam-se aos artistas do "Movimento de Integração" enquanto que muitos desta fase (a exemplo de Euro Brandão) estão entre os contemporâneos. Quanto a estes últimos haveria necessidade de aproximarem artistas que praticam um tipo de desenho minucioso aliado à metalinguagem como Zimmermann, Rones Dunkes, Ruben Esmanhoto, Isabel Bakker, Bia Wouk, Leonel Brayner (aliás, ausente); os desenhistas com uma linguagem contestatória como Márcia Simões, Margarida Wiescheimer, Ana Gonzales, Sonia Gutierrez (ausente) e Carmem Carini. Ainda da década de 70 há total ausência de levantamento dos Encontros de Arte Moderna fazendo-se necessária a aproximação dos que praticaram propostas de vanguarda como Ivens Fontoura, Lauro Andrade, a própria Márcia Simões nos ambientes, Olney da Silveira Negrão e Fernando Bini (especialmente interessante nas propostas ambientais)". Em relação aos anos 80 há ausência das experiências da Arte em Grupo do Caixa de Bicho (com Reynaldo Jardim, aliás ausente; Rogério Dias e Ronald Simon entre outros), Caixa de Arte Livre (Proposta de Ivens Fontoura envolvendo 81 artistas). Grupos Bicicleta, Moto Contínuo, Impressões Digitais. Os artistas que praticaram a gestualidade figurativa como Geraldo Leão, Laura Miranda, Mohamed, Annette Sherbeck e Letícia Faria precisariam igualmente ser colocados de forma que se pudesse sentir o que representam como típicos representantes da geração 80. Necessidade ainda de aproximar experiências de Arte na Rua como o Grupo Sensibilizar e as experiências de Luiz Carlos Camargo Gonçalves (ausente), ou de artistas que trabalham com material da natureza como Lizete Chipanski e Wilmar Nascimento (ausente). Estes são apenas alguns aspectos faltando enumerar uma dezena de outros". xxx Os argumentos de Adalice Araújo, pessoa identificada com nossa arte e com um trabalho regular, há mais de 20 anos, são fortes. Por mais respostas, réplicas e argumentos contra suas ponderações que se tente, o seu protesto ecoou e sensibilizou centenas de artistas que mais uma vez se viram desprestigiados neste infeliz governo peemedebista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
15/09/1986

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