Login do usuário

Aramis

Depois da discotheque, vem o <<country-pop>> made U.S.A .

A apresentação que o grupo Capim Azul (Sandro, Júnior e Rogério) faz nesta sexta-feira, às 21h30min, no grande auditório do Teatro Guaíra, tem um significado curioso: modesto - embora valoroso - trio instrumental - vocal, formado por jovens que se identificam com uma linguagem << country >>, o Capim Azul chega agora a um espaço maior, após uma temporada quase anônima feita no asfixiante Teatro Universitário. Ao optar por uma linguagem << country>., embora com propostas próprias - ao que consta, pois até hoje não tivemos oportunidade de ouvir as músicas do conjunto, nem conhecer seus integrantes, o Capim Azul, de certa forma, é um reflexo do marketing que há mais ou menos dois anos, vem sendo testado pelas multinacionais da fonografia: impor a música country & western no Brasil, em termos de grande consumo. Como a discotheque tinha, sabidamente, pavio curto - haja visto que hoje já passou a febre dos embalos de sábado à noite, as grandes corporações que dominam o mercado do entretenimento musical, necessitavam encontrar uma nova linha de consumo. O country & western é nada de novo. Ao contrário, sendo gêneros musicais do interior dos Estados Unidos, ou seja, a música não urbana, tem sua razão cultural (para os americanos, bem entendidos), ligada a própria colonização do Oeste. Só que lá, a música rural é cultivada e respeitada em seus valores , merecendo estudos e coberturas que, no Brasil, inexiste a música rural, temática sobre a qual não nos cansaremos, jamais de insistir independentemente de qualquer preferência. CAIPIRAS NACIONAIS E ESTRANGEIROS... Num dos melhores filmes da década de 70, << Nashville >>, 1976, Robert Altman focou toda ação sobre um festival de música country realizado na cidade de Teenessee, onde se concentra as gravadoras que atuam na área do << country & western >> Somam a mais de 100 os livros a respeito dos artistas compositores, intérpretes e instrumentistas - que têm se dedicado a este gênero, que das baladas que emolduraram tantos clássicos western nas vozes de cantores como Frankie Laine (quem não se lembra de << Gunfight At O.K. Cooral >>, << 3:10 To Yuma >>, << Hight Noon >>, e tantos outros) a solos instrumentais, como << Duelo de Bandolins >>, da sound-track de << Amargo Pesadelo >> (Deliverance, 72, de John Boorman, há toda uma relação do << country >> dentro da cultura americana. Isto sem falar nos compositores-intérpretes de raízes sociais , como o grande Woody Guthrie, que, nos anos da grande depressão, exerceu notável função política, com suas músicas marcantes, cantedentes - conforme, recentemente, Hal Ashby relatou em << Esta Terra é Minha Terra >> (Bounf for Glory), com David Carradine como Guthrie - que, apesar de tudo, continua a não ter um único dos muitos elepês que gravou nos anos 40/50, lançado no Brasil. Mas este rico - e ainda desconhecido gênero - passa a ser industrializado e ter um processo da massificação entre nós. Assim como o jazz sofreu a chamada << fusion >> como o pop/rock, também o country americano eletrificou-se (fenômeno também ocorrido no Brasil, vide o caso de Leo Roberto & Canhoto, conforme Waldenyr Caldas também estudou em Acorde na Alvorada >>, Companhia Editora Nacional, 1977). Hoje, tanto o country como o western americano obedecem as regras do jogo, estão no esquema liquefeito para atingirem a pláteia internacionais. Depois de Travolta, porque não o country?, indagam os << tycoons >> do mundo fotográfico. PROTESTO... ATÉ CERTO PONTO A coisa começa a se tornar confusa na análise da música << country >>, quando se vê a presença política. Verdade que Guthrie (que chegou a aparecer numa seqüência do filme << Deixem-nos Viver >>/Alice`s Restaurante, 1969, de Arthur Penn, estrelado por seu filho, Arlo Guthrie Jr.) foi um compositor politicamente dos mais importantes. Bob Dylan (Robert Zimmermann, 37 anos), Joan Baez, Pete Seeger, entre outros, também tiveram na linguagem afetiva da música country um caminho para alcançar o imenso público que hoje desfrutam. Aliás, o caso de Dylan é especial. Honesto em sua posições - em defesa dos direitos civix, contra a guerra do Vietnã - junto com sua amiga Joan Baez, forma uma linha de frente da música americana mais consciente dos últimos 20 anos, num trabalho que não interrompeu. Ainda no recente << Slow Train Coming >> (CBS/138162), temo as letras repletas de bonitas imagens (<< Ma Gave Names To The Animals >>, << Precious Angel >>, << Slow Train >>, etc), o que justifica a atenção que se dê ao seu trabalho. Mas, como em tudo, a linha country tem o seu consumismo mais fácil. E isso se observa em vários sucedâneos que tem aparecido nós últimos tempos. << Live Rust, um robusto álbum duplo com Neil Young - ex-integrante do quarteto com Crosby, Stilles & Nash, que já tentava a chamada renovação do << country rock >>, após seu início no lendário << Buffalo Sprinfield >>, trouxe para o CSN&Y, a sua experiência de cantor << folk >> de bares da fronteira canadense, registrada a partir do lp << Déja Vu >>. Como o grupo se desfez, cada um seguindo um caminho, << Live Rust >>, que sucede ao álbum anterior de Nash (<< Rust Neves Sleeps >>) traz sua voz rascante e agressiva, contraposta a solidão de seu violão, como em << Sugar Mountain >>, uma balada ingênua e que evoca o tempo em que o mundo pensava que as coisas iam ser melhores. O grupo Crazy Horsen, que o acompanha, intervén em << When You Dance I Can Really Love >>, e se destaca em << Tonight`s the Night >>, uma espécie de requiem a Don Whiten, falecido integrante do conjunto. Bob Seeger, outro cantor-compositor que também busca uma linha identificada com raízes do country, acompanhado pela Silver Bullet band, sugere no título (<< Against The Wind >>, Emi/-Capitol) e fotos de capa e contracapa de seu elepê, esta imagem de volta a natureza: << The Horizontal Bop >>, << No Man`s Land >> ou << Shinin' Brightly >>. Mas o mundo country é amplo e para sentir as possibilidades, porque não utilizar o << pau de sebo >> - designação brasileira para ver quais os artistas que se destacam num elepê coletivo? E a Top Tape, com material da Motown, já lançou dois volumes de << Country Music >>, onde desenterra até o veterano Pat Boone, hoje cinqüentão, pastor religioso, pouco lembrando o comportado galã que poderia antepor-se aos requebros de Alvis Presley nos anos 50 (fazendo inclusive filmes, onde se recusava a beijar as atrizes, por razões religiosas), com músicas como << Colorado Country Morning >>, << Texas Woman >>, até ilustres desconhecidos, para nós, como Darla Foster, Wendel Adkins, Dorsey Burnett, T.G. shep[ard, etc. Adalberto Ribeiro e Luis Carlos de Carvalhos, aproveitando o acervo da CBS, montaram << The Very Best os Country Music >>, onde a seleção é ampla: Marty Robbins, que criou ao menos uma balada cinematográfica inesquecível (<< The Hanging Tree >>, do filme << A Árvore dos Enforcados >>, 1959, de Delmer Daves), comparece com seu belo << Around Cowboy >>, Willia Nelson/Leon Russel recriam << Gearbreak Hotel >>, Johnny Cash vem com << Afther The Ball >>, o The Charlie Daniels Band- já com dois elepês na praça, defende << The Devil Went Down To Geórgia >>. Nomes menos famosos também entram nesta seleção: Williw Nelson (<< Good Heat Woman >>), Moe Bandy e Joe Stampley (<< Just Good Ol`Boys >>) ou Charly McClain (<< A Love Ain`t Right >>). A poderosa Ariola, não iria também desperdiçar o mercado e em << Country Roads >>, ressuscita Brenda Lee, que quando menina fez tanto sucesso com << Jambalaya >> que veio até cantar no Guairinha, em 1955, para montar que também é country, em << The cowgirl and the dandy >> e << Tell me what it`s like >>. A dupla Conway Twity/Loretta Lynn comparece com << True Love >>, de Randy Goodrum (não confundir com o << True Love >>, de Cole Porter, que Bing Crosby cantava em << Alta Sociedade >>, 1956, de Charles Walters), e sozinho, Conway Twitty interpreta uma das mais belas músicas de Bob Seeger: << We`we Got Tonight >>. Nesta estrada country desfilam ainda Barbara Mandrell, Dan Peek, Rafe Vanhoy, Bill Anderson e Roy Clarck (<< Ghain Gang os Love >>, Just When I Need A Love Song >>, de todos , o mais identificado com o gênero). Não são apenas cantoras com Brenda, Barbara e Loretta que aderem ao country. << Blue Kentucky Girl >> (WEA), é o sexto lp de Emmylou Harris, mas o primeiro a chegar ao Brasil. E vem adjetivada como uma cantora << cuja música retém uma pureza de expressão e estilo que fala a ambos os lados (country/pop) sem sacrificar a integridade básica de nenhum >>. Assim, seria uma artista para todas as épocas, << sentindo-se à vontade com material estritamente country ou aplicando sua notáveis habilidades vocais no rock`roll >>. Ou seja, isso confirma que esta cantora/guitarrista do Alabama, hoje aos 33 anos, 13 de carreira artistica, cuja carreira seguiu de Nashville a Nova Iorque, se integre nos planos de marketing da WEA. Seus elepês têm se sucedido (<< Pieces of the Sky >>, << Elite Hotel >>, << Luxury Liner >>, << Profile-Best of Emmylou Harris >>), ao ponto de neste << Blue Kentucky Girl >>, garantir que volta << às raízes country; não é rock nem remotamente >>. No disco, as harmonias de Emmylou com Sharon Hicks e Cheryl Warrens, filhas do legendário bandolinista Buck Whtite, destacam-se << Sister`s Coming Home >>, << Hickory Wind >> e dois clássicos do gênero, << Save The Last Dance For Me >> e << Even Cowgirls Get The Blues >>. Nicolette Larson, nascida em Kansas e que teve na << country music >> suas primeiras influências, há seia anos era secretária da produção de um festival de música (<< Bluegrass >>) da Califórnia, em San Francisco. Logo começava a cantar e em breve, apagava gravações de Emmylou Harris, Jesse Colin (ex-Youngloods) e Gary Stewart. Com Emmylou gravou << Hello stranger >>, e o encontro com Neil Young da corrente<< country rock >>, lavando a cantar com a hoje superstar Linda Rostadt, decidiram sua carreira. Com Linda fez um dueto, << The Bullets >>. Logo vinha um contrato com a WEA e << In The Nick of Time >>, seu lp já mostrava sua linha << country rock >>, com músicas identificadas neste processo mercadológico de fazer o gênero tradicional << fundir-se >> ao pop/rock. Como se vê, tudo uma questão de marketing, bem explorado. Mas que vindo da matriz é recebido com ampla cobertura, enquanto nossos caipiras, raramente têm sequer um registro nos jornais das menores cidades. Mas isso é uma história para outra ocasião... FOTO LEGENDA 1- Emmylou FOTO LEGENDA 2- Neil Young FOTO LEGENDA 3- Nicolette
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
1
11/07/1980

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br