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Aramis

Desatenção de Homero prejudica cineastas

Embora tenha suas raízes cinematográficas em Curitiba, o gaúcho Homero de Carvalho, interinamente respondendo pela presidência da Fundação do Cinema Brasileiro, pode acabar prejudicando alguns cineastas curitibanos. É que o cineasta Sebastião França, assessor especial do secretário Renê Dotti, da Cultura, está tentando há uma semana um contato telefônico com o ilustre Sr. Presidente da FCB, que se encontra sempre "em reunião" ou "fora da instituição". Pedidos para que ligue a Sebastião até na última quinta-feira também não foram atendidos. Enfim, quem diria, o ex-funcionário da assessoria de imprensa da Fundação Teatro Guaíra e que fez alguns trabalhos de montagens de filmes super 8 e 16mm em Curitiba, e que por contingências políticas acabou presidindo a Fundação do Cinema Brasileiro, parece estar muitíssimo ocupado para dar atenção a uma solicitação oficial da Secretaria da Cultura do Paraná... E o que Sebastião França que tratar com Homero de Carvalho é oficial e relativamente simples: trata-se da formalização de um termo aditivo ao convênio firmado ano passado entre o Governo do Paraná, através da Secretaria da Cultura e a então Embrafilmes (na época, a Fundação do Cinema Brasileiro ainda não havia sido criada). O convênio foi para a co-produção de quatro curta-metragens por realizadores do Paraná. Foi promovido um concurso de roteiros e escolhidos os quatro melhores trabalhos. Destes, apenas Nivaldo Lopes ("Palito"), apresentou até agora, os primeiros copiões de seu projeto - um filme sopre o compositor e violinista curitibano Lapis (Palmilor Rodrigues, 1943-1978). Os outros três realizadores, por razões justificáveis, não conseguiram até agora iniciar seus projetos e, para não perderem o auxílio, é necessário que os contratos tenham seu prazo dilatado. O secretário Renê Dotti aceitou as ponderações dos interessados e encarregou Sebastião para formalizar o adiamento junto a Fundação do Cinema Brasileiro, que passou a gerir esta área de atividades. Só que as tentativas de falar com o ilustre Presidente (interino) da instituição, esbarram em sua ausência do gabinete - ou "excesso de atividades". Pelo convênio assinado entre a Secretaria da Cultura-Embrafilme (agora FCB), o Estado financiaria cada curta no valor, em OTN's, que , na época (7 meses passados) corresponderiam ao redor de Cz$ 3.500.000,00 cada um. A Fundação participaria no processo de finalização dos filmes. A primeira parcela da ajuda da Secretaria foi paga e os realizadores as depositaram em cadernetas de poupanças, esperando a hora de começarem seus filmes. Só que dos quatro, apenas Palito - cineasta com vários trabalhos realizados, inclusive o média "A Guerra do Pente" - começou as filmagens. Os outros três projetos não deslancharam pelas seguintes razões: A Loira Fantasma - Curta de Fernanda Morini, inspirada livremente no famoso ato policial acontecido há 10 anos em Curitiba, quando uma loira fantasma colocou em pânico motoristas de táxi. Fernanda, videomaker experiente, da equipe de produção de Berenice Mendes no longa "O Drama da Fazenda Fortaleza" (projeto suspenso este ano), nos últimos 90 dias esteve ocupada em trabalhos de vídeos políticos, para o PTB. Assim, não pode deslanchar a produção de seu filme. A Flor - Desenho animado a ser realizado pelos irmãos Wagner, premiadíssimos com seus trabalhos em vários festivais. O falecimento do fotógrafo Helmuth Wagner, pai dos realizadores, somado a outros problemas, retardou o início deste filme de animação, pela sua própria característica uma obra de produção demorada. Sombras no fim da tarde - Fernando Severo esteve ocupado em levar o seu curta "O Mundo Perdido de Kozak" aos festivais de cinema de Gramado (junho), Rio Cine (agosto), Salvador (setembro) e Brasília (outubro) premiado em todos - de forma que não pode cuidar de seu novo filme, uma ficção com atores, de fundo político, livremente inspirado em texto de J. L. Borges. Técnico de comunicação social do CEFET, gastou todas as férias ao participar de festivais de cinema. Assim, está a espera de uma licença especial para se dedicar as filmagens, que serão feitas no litoral. São razões respeitáveis, que a Secretaria da Cultura aceitou. Uma verba de Cz$ 9 milhões já foi investida no projeto e, como diz, Sebastião França, o importante é que os filmes sejam realizados - capazes de ao menos um deles, conseguir ter boa performance nos festivais de cinema do próximo ano - repetindo a trajetória de prêmios obtidos por "O Mundo Perdido de Kozak". A Secretaria da Cultura dilatou o prazo para a liberação de segunda parcela do financiamento até o dia 31 de março. Só que como há um convênio com a Fundação do Cinema Brasileiro, é necessário a concordância daquele organismo. Para tratar sobre este assunto, França está tentando falar com o ilustre Sr. Presidente Homero Carvalho, que, pelo visto, é um homem ocupadíssimo - a ponto de esquecer que agindo desta forma prejudica seus colegas cineastas de Curitiba. Cidade da qual saiu, de um total anonimato, para chegar - num lance de sorte - a direção de um órgão federal. A propósito: o presidente efetivo da Fundação Cultural é o respeitado e estimado cineasta Afonso Beato, fotógrafo de prestígio internacional. Só que Beato pediu licença, sem vencimento, há 60 dias, para, a convite de seu amigo Jim McBride, fotografar seu novo longa metragem nos Estados Unidos. Beato havia fotografdo "The Big Easy", filme policial de McBrady, rodado em New Orleans, e que representou os Estados Unidos no III FestRio - e que só agora está sendo lançado no Brasil. Como Beato saiu inesperadamente, Homero de Carvalho foi designado interinamente para a presidência. Efetivamente, numa substituição normal, havia uma lista tríplice. Com nomes de real expressão no campo cinematográfico brasileiro, entre os quais o de Cosme Alves, diretor da Cinemateca do MAM-RJ e do FestRio.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
09/12/1988

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