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Aramis

Desta vez, longas foram melhores que os curtas

Brasília Se na escolha dos premiados para o longa-metragem, entre ao menos quatro dos seis filmes em competição no XXII Festival de Cinema Brasileiro, item encerrado com a exibição hor concours de "Brasília: a última utopia", o júri teve que gastar muitas horas para decidir entre os filmes políticos ("Uma Avenida Chamada Brasil" e "Que bom te ver viva") e os dois trabalhos mais criativos em termos de linguagem cinematográfica ("Os Sermões" e "Minas Texas"), para os curtas as discussões foram mais simples. Afinal, embora, o nível dos CM continue elevado - numa tendência que se tem observado nos últimos festivais (e que o público começa a perceber nos curtas que são apresentados nas sessões do circuito comercial, em complemento aos filmes estrangeiros), não houve, nenhum momento excepcional dos curtas (os resultados finais serão comentados no final da semana). Assim como entre os longas, também os curtas foram convidados a participar - optando a comissão organizadora por trabalhos inéditos. Infelizmente, o Paraná ficou ausente já que nenhum dos quatro CM em fase de finalização estavam em condições de serem apresentados aqui. Os curtas Afetivo, simples e emotivo, "Dia de Visita" - sobre a importância do dia de visita para quem está confinado, desde os menores da Febem até os velhinhos do Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, foi o primeiro curta apresentado no festival. Realização do publicitário Umberto Martins, 40 anos, experiente montador, associado a Reinaldo Pinheiro (autor de "Mais Luz", curta sobre o fechamento dos cinemas em São Paulo). Umberto e Pinheiro preferiram a simplicidade do documentário. Três outros realizadores optaram pela ficção. Rafael Conde, 25 anos, mineiro, que venceu em Gramado já dois anos, trouxe o curta mais pretensioso em termos intelectuais: "Musika" é uma leitura pessoal da peça "A Caixa de Penhora" de Wedekind, na qual Beth Coelho - hoje a cult-atriz das produções de Gerald Thomas, mas na época das filmagens (1987) ainda desconhecida, interpreta a personagem Lulu, no mesmo estilo que imortalizou Louise Brooks na transposição à tela, da peça feita pelo alemão Pabste em 1928, com Antônio Abujamra num curto papel, fotografia preto e branco em algumas seqüências e uma trilha sonora de vanguarda de Wilson Sukorski, compositor paulista, "Musika" foi o curta mais cerebral apresentado. Sandra Werneck, já experiente na área "Pena Prisão", "Damas da Noite"), preferiu um roteiro com o humor besteirol de Cláudio Paiva, para uma boa anedota sobre sonhos e mitos de duas mulheres solitárias em suas fixações via televisão. Lembrando "A Rosa Púrpura do Cairo", com um bom elenco - Débora Fontes e Lilian Cabral coadjuvadas por nomes famosos como José Wilker (aparece menos de 30 segundos na tela), Guilherme Karan e Paulo Betti. "Canal Chic", com uma balançante trilha sonora de David Tyguel, tem um mérito: comunicação fácil com o público, que nem aceita propostas intelectualizadas nos curtas impostos na exibição obrigatória. De Porto Alegre - cuja produção cinematográfica é das mais vigorosas e onde foi realizado o melhor curta do ano ("Ilha das Flores", de Jorge Furtado, que possivelmente representará o Brasil no próximo festival de Berlim) veio uma experiência diferente: "O amor nos anos 90". Resultado de um curso de cinema realizado no Iecine, entre 31 de maio a 12 de junho deste ano, este curta é formado por cinco episódios. O primeiro, "Cupido", fala sobre a proibição, no ano de 1996, de se possuir cupidos dentro de casas e a punição por causa disso. Em "Aspirações", duas pessoas se encontram numa galeria de arte, mas seus desejos só são satisfeitos no plano da imaginação. "O Dia da Vacina" questiona se, no dia em que for descoberta a vacina contra a Aids, qual será a repercussão do fato para os casais que mantém relacionamento estável. "O Último Vôo" é (mais uma) homenagem a "Casablanca" e "Amor Remoto" volta à linha que após "A Rosa Púrpura do Cairo" se torna modismo: a interferência da realidade na ficção projetada na tela (no caso, num vídeo). Ingênuo, simpático como exemplo de um curso de cinema, não se pode pretender maiores vôos deste "Amor dos Anos 90" a não ser trazer jovens da novíssima geração gaúcha que, naturalmente, começam a fazer cinema para os anos 90. Afinal, Gramado, com seu estímulo à produção regional, está aí para atrair realizadores dente-de-leite. Realizador do ágil "Impresso à Bala", Ricardo Favila, formado em cinema pela Universidade Federal Fluminense, tem sido um dos participantes mais ativos nos debates do festival. E seu novo curta, "Mamãe Parabólica" foi exibido na noite de segunda-feira. Seu filme é uma mistura entre a sátira e o documental de Laura de Vison, figura popular da noite carioca que se desdobra em três papéis. O sexto, longa em competição foi "Pós Modernidade", de Mirella Martinelli, com fotografia de Chico Botelho e produzido com ajuda do Instituto Cultural Itaú. O mais decepcionante dos curtas do festival: acadêmico - quando pretenderia abordar justamente o que há de mais moderno na cultura de consumo paulista/brasileira.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
08/11/1989

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